Reaproximação entre duas Coreias é lenta e incerta

Depois das cúpulas históricas, a festa deu lugar à impaciência.

16 dez 2018 - 12h35
(atualizado às 13h34)

Quando acontecerá finalmente algo na Península Coreana? Um tratado de paz estará a vista? E quando haerá a reunificação? As expectativas são enormes após as cúpulas históricas e as declarações de intenções de boca cheia. Mas não há uma solução rápida ou mesmo uma rápida reunificação, pois a crise coreana é complexa demais.

Líder norte-coreano Kim Jong-un (esq.) e presidente sul-coreano, Moon Jae-in, durante encontro na fronteira entre os dois países
Líder norte-coreano Kim Jong-un (esq.) e presidente sul-coreano, Moon Jae-in, durante encontro na fronteira entre os dois países
Foto: DW / Deutsche Welle

Tudo deve mudar, mas até agora ninguém quis se mexer. Este jogo político deve terminar em 2019, espera-se. E, olhando-se mais de perto, percebe-se que felizmente já houve uma quantidade significante de progressos - sobretudo entre os Estados irmãos (ainda) separados.

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Seul e Pyongyang parecem bastante determinados a avançar na reaproximação, apesar de todas as adversidades. Muitos desejos ainda esbarram nas realidades formadas ao longo de décadas. Por enquanto, as sanções internacionais contra Pyongyang continuam em vigor. Enquanto esse for o caso, fica impossível, por exemplo, uma cooperação econômica mais intensa entre a Coreia do Norte e a do Sul.

A comunidade internacional, e sobretudo os EUA, querem manter as sanções até que a Coreia do Norte implemente as medidas concretas e irreversíveis necessárias ao desarmamento. Pyongyang, por sua vez, pede um relaxamento das sanções em troca de seu engajamento. E enquanto não obtiver uma garantia de segurança digna de crédito, não vai querer abrir mão de seu trunfo nuclear. A forma mais provável de solver esse impasse será uma nova cúpula entre Donald Trump e Kim Jong un, a ocorrer possivelmente no primeiro semestre de 2019.

Por outro lado, as realizações relativamente pequenas que foram alcançadas nos últimos meses e que eram impensáveis há alguns meses dão razão para otimismo. Após anos de tensão, a rota de confronto foi quebrada. Delegações de alto nível ou mesmo os chefes de governo se reúnem quase regularmente.

Fontes potenciais de ameaça na fronteira entre as Coreias foram reduzidas, ambos os lados retiraram alguns postos militares ao longo da assim chamada "faixa da morte", recolheram minas e reativaram a "linha direta", que deve prevenir precocemente qualquer provocação indesejada.

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Seul e Pyongyang também gostariam bastante de uma cooperação econômica mais próxima. Por exemplo, os governos querem reativar a zona econômica especial de Kaesong ou fechar as lacunas comparativamente pequenas na rede ferroviária comum, o que deve demorar cerca de cinco anos. Para o exame das ferrovias, o Conselho de Segurança da ONU excepcionalmente relaxou suas severas sanções, mas em princípio elas permanecem em vigor.

O tráfego ferroviário transfronteiriço não seria apenas de grande importância simbólica. Após a abolição das sanções, mercadorias não seriam apenas transportadas para o norte. A Coreia do Sul também poderia transportar seus produtos para a China, através da linha Gyeonggui ao longo da costa oeste, e para a Rússia, através da linha Donghae, ao longo de toda a costa leste. Até agora, apenas as mercadorias foram mencionadas: até os cidadão também poderem viajar livremente entre os dois países, certamente passará muito tempo.

Mas os 93 mil membros de famílias separadas não têm mais esse tempo, cerca de 12 mil deles têm mais de 90 anos. O mais rápido possível, novas reuniões familiares devem ser organizadas para o próximo ano, possibilitando que pais, filhos e irmãos encontrem, pelo menos por algumas horas, seus entes queridos do outro lado da fronteira - caso contrário, poderá ser tarde demais

A Coreia do Norte deve começar sua "desnuclearização", de fato e de forma verificável. Os EUA fornecerão a pressão necessária. A China, como potência mundial em ascensão, será responsável por suprir a também necessária segurança da Coreia do Norte.

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Kim fez muito bem em melhorar o abalado relacionamento com a potência protetora. Ele envia regularmente delegações de alto nível e já viajou três vezes a Pequim. Kim toma todas as decisões em acordo estreito com a China. Em troca, o chefe de Estado Xi Jinping provavelmente visitará a Coreia do Norte em 2019. Isso não seria apenas um feito diplomático para Kim, mas também uma indicação clara para os EUA de quem agora é a principal força na Ásia.

A antiga superpotência EUA e o novo poder ascendente China, portanto, terão também no próximo ano influência decisiva sobre o que será possível quanto às Coreias. Mas a última decisão deve e será tomada pelos coreanos: após décadas de controle estrangeiro, os países devem decidir se e com que rapidez irão se aproximar.

A base é fornecida pela relação de confiança estabelecida entre o presidente sul-coreano e o líder norte-coreano. Com coragem e habilidade, Moon Jae-in e Kim deram movimento a um conflito que se encontrava completamente estagnado, e fizeram passos decisivos no processo de reaproximação.

"Se você não é paciente em pequenas coisas, leva os grandes projetos ao fracasso", ensinou, certa vez, Confúcio. A política de pequenos passos de Moon - inspirada na política de Willy Brandt de aproximação com Alemanha Oriental - produz frutos, apesar de todas as adversidades.

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A Europa, e sobretudo a Alemanha, não devem apenas desempenhar um papel de espectadoras, mas apoiar ativamente o processo. Isso é algo que os coreanos também desejam. Em 2019, a Alemanha comemora os 30 anos da queda do Muro de Berlim e sabe agora muito bem como é difícil e valiosa a reunificação de um país dividido. Mesmo que a situação não possa ser diretamente comparada, a Alemanha tem uma valiosa experiência de como ter sucesso numa reconciliação pacífica. E sabe quais erros os coreanos devem evitar.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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