O frenesi midiático internacional devido ao relato de que uma matilha de cães famintos teria realizado a execução de um tio do líder norte-coreano, Kim Jong-un, parece ter surgido como uma sátira em um site chinês.
O relato, reproduzido por um jornal de Hong Kong e a partir daí pelo mundo todo, levou muitos a crerem que o jovem dirigente Kim é ainda mais brutal e imprevisível do que se acreditava até então.
A Coreia do Norte anunciou oficialmente no mês passado que o outrora poderoso tio Jan Song-thaek foi destituído de suas funções e executado por ter tentado perverter o regime comunista chefiado por Kim, que tem cerca de 30 anos e é filho e neto dos dois primeiros dirigentes da Coreia do Norte.
A especulação inicial era de que Jang havia sido morto por um pelotão de fuzilamento, o que supostamente é reservado a "traidores" do regime. Mas uma narrativa alternativa para a morte de Jang, 67 anos, surgiu a partir do que pareceu ser uma postagem satírica do site chinês Tencent Weibo, depois reproduzido por veículos jornalísticos "sérios".
A postagem de 11 de dezembro dizia que Jang e cinco assessores haviam sido mortos por cães. A nota foi vista 290 mil vezes.
O jornal Wen Wei Po reproduziu a notícia, dizendo que Jang havia sido dilacerado por cães, e publicou uma reprodução de tela da postagem do Tencent Weibo.
Doze dias depois, a nota foi reproduzida no Straits Times, de Cingapura, e a partir daí por vários veículos impressos e canais de TV nos EUA e Europa.
Poucos meios de comunicação independentes têm sucursais em Pyongyang, e jornalistas que visitam o país costumam ser rigorosamente monitorados, o que dificulta a difusão de informações a respeito da Coreia do Norte, um dos países com menos liberdade de imprensa no mundo. Por causa dessa situação, muitas histórias escabrosas a respeito do país acabam ganhando credibilidade.
Trevor Powell, engenheiro de computação que vive em Chicago, foi o primeiro a notar o link para a postagem do Tencent Weibo, o que comentou em seu próprio blog. Segundo ele, analistas e especialistas "ainda não perceberam o fato óbvio de que a fonte original da reportagem no Wei Wei Po era um tuíte de um conhecido satirista ou de alguém fazendo se passar por ele/ela".
Funcionários do Wen Wei Po não quiseram comentar o suposto trote.