O Japão mobilizou seu maior navio de guerra na primeira operação do tipo desde que o país aprovou uma polêmica legislação ampliando o papel de sua força militar, no momento em que a região passa por uma escalada na tensa relação entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte.
O porta-helicópteros Izumo está escoltando um navio americano de abastecimento que cruza as águas japonesas rumo à frota naval dos EUA na região - onde está o porta-aviões Carl Vinson, enviado pelo presidente Donald Trump.
No fim de semana, Trump disse que gostaria de resolver a crise diplomaticamente, mas reconheceu que um "conflito muito grande" seria uma possibilidade.
A grande preocupação dos EUA e países vizinhos à Coreia do Norte, como Coreia do Sul e Japão, é com o poderio nuclear e militar do país comunista, quem, apesar de ameaças de sanções, segue realizando testes de mísseis.
O governo americano diz que endurecerá as sanções econômicas contra Pyongyang e que ativará um sistema de defesa antimísseis na Coreia do Sul.
A Coreia do Norte, por sua vez, ameaçou afundar o porta-aviões americano deslocado para a região e prometeu realizar mais testes de mísseis.
A China, um dos poucos países a se relacionar com o governo norte-coreano, pediu negociação e diálogo entre os países.
Após os últimos desenvolvimentos nessa crise, o analista de Defesa e Diplomacia da BBC Jonathan Marcus responde às principais dúvidas sobre o conflito.
Qual o impacto esperado de novas sanções?
Apesar de já existirem sanções contra a Coreia do Norte, elas não são colocadas em prática ou monitoradas de forma devida. Um estudo recente da ONU analisou fragmentos de um teste de míssil norte-coreano e mostrou que os componentes eletrônicos vinham de empresas chinesas ou foram conseguidos através da China.
Ou seja, a China poderia fazer muito mais do que faz para pressionar o regime de Kim Jong-un. O problema é que Pequim não quer ver o regime norte-coreano entrar em colapso.
As sanções existentes poderiam ser endurecidas e que, principalmente no lado financeiro, poderiam dificultar as coisas para Pyongyang.
O problema é que sanções mais abrangentes podem afetar a população, que há décadas enfrenta ciclos de fome.
A Coreia do Norte e a China propuseram um possível fim do desenvolvimento de armas nucleares de Pyongyang se os EUA parassem de fazer manobras militares na fronteira do país. Por que isso não está sendo feito?
O objetivo da política americana vinha sendo a redução do programa nuclear norte-coreano, mas isso se provou impossível - e a ênfase agora parece ser em evitar um aumento desse poderio.
Não há sinais de que a Coreia do Norte tenha qualquer desejo de abrir mão de suas armas nucleares, muito pelo contrário. O país acredita que esta é a razão mais importante pela qual ele ainda não foi varrido do mapa.
A China parece disposta a encontrar uma solução diplomática para o problema e há alternativas que poderiam ser exploradas - por exemplo, uma limitação do programa nuclear da Coreia do Norte em troca de várias concessões.
Mas isso já foi tentado e fracassou. Este regime é quase único no mundo em seu nível de isolamento, paranoia e fraquezas, seja qual for a sua aparente força militar.
Que tratados são válidos na península coreana? Alguém seria obrigado a agir em caso de conflito?
Desde 1953, a Coreia do Sul tem um tratado de defesa mútua com os EUA, e Washington enviaria ajuda caso o país fosse ameaçado. Há cerca de 28,5 mil soldados americanos no país e aviões de guerra sofisticados sobrevoam o país regularmente.
Também há o Tratado de Amizade, Cooperação e Ajuda Mútua entre a Coreia do Norte e a China, de 1961, que tem alguns elementos de defesa. Não fica claro, no entanto, se a China estaria disposta a ir à guerra para defender o regime norte-coreano, especialmente se ele der início a hostilidades contra o sul.
Que chances a Coreia do Norte tem de se defender no caso de um possível ataque dos EUA e países aliados após mais um teste nuclear?
Acredito que ainda estamos longe de um possível confronto militar. Dadas as capacidades militares e o preparo da Coreia do Norte, qualquer guerra que tivesse início agora teria consequências devastadoras para a Coreia do Sul. Seul, a capital sul-coreana, está facilmente ao alcance da artilharia de Pyongyang.
As forças que os EUA enviaram até agora para a região - um grupo tático em um porta-aviões e um submarino equipado com mísseis de cruzeiro - manda uma mensagem, mas ainda não é o suficiente para dizer que os americanos estão dispostos a considerar um conflito hostil de fato.
É claro que, mesmo que a Coreia do Norte possa ter uma vantagem militar inicial, qualquer guerra faria com que o país enfrentasse a sofisticação tecnológica da máquina militar moderna dos EUA. O país asiático muito provavelmente perderia.
Mas o nível de destruição, tanto na Coreia do Norte quanto na Coreia do Sul, seria imenso, e isso sem considerar a possibilidade de Pyongyang decidir utilizar seu relativamente pequeno arsenal nuclear.
Se o sistema de defesa antimísseis Thaad (que os EUA posicionaram na Coreia do Sul) conseguir interceptar uma ogiva nuclear, o que acontece com o material físsil que está na ogiva?
Ainda não é claro se a Coreia do Norte realmente tem ogivas nucleares pequenas o suficiente para colocar dentro de seus mísseis - que é o objetivo de seu programa nuclear.
O sistema Thaad foi desenvolvido para interceptar mísseis durante sua fase final de voo, dentro ou perto da atmosfera terrestre, a cerca de 200 km. Especialistas acreditam que isso poderia mitigar o efeito de qualquer arma de destruição em massa, nuclear ou química.
O sistema Thaad é mesmo eficiente? Se ele conseguir neutralizar os mísseis da Coreia do Norte, seria mais provável um cenário de guerra terrestre?
O Thaad é um sistema que impressiona, mas não é um escudo completamente à prova de mísseis.
Seu deslocamento para a fronteira entre as duas Coreias funciona como um sinal diplomático e uma precaução prática. Ele poderia, por exemplo, tentar interceptar qualquer míssil errante da Coreia do Norte que esteja indo em direção à Coreia do Sul.
Mas, apesar de seu posicionamento na fronteira já ter começado, ainda não se sabe quando é que o sistema Thaad e seus radares poderosos estarão operacionais.
Se a Coreia do Norte afundar um navio americano e os EUA retaliarem, qual é a chance de a China se envolver? Isso poderia significar uma guerra nuclear global?
A China está ciente do aumento das tensões na região e está claramente interessada em reverter a crise.
O governo americano, por sua vez, tenta usar a preocupação de Pequim a seu favor, para que a China influencie o comportamento de Pyongyang.
A China está em uma posição difícil. O governo chinês não gosta muito do regime norte-coreano e de seu comportamento instável. Mas não quer ver este regime ser derrubado, em parte porque não ficaria satisfeito com uma Coreia unificada pelos EUA, mas também porque o colapso da Coreia do Norte poderia gerar uma onda de milhares de refugiados na China.
Durante o último conflito coreano, nos anos 1950, a China ajudou ativamente a Coreia do Norte, mas, atualmente, não há indicações de que apoiaria o regime imprevisível de Pyongyang num futuro conflito.
O quanto o cidadão norte-coreano comum sabe sobre a situação e sobre como os EUA estão aumentando suas defesas contra o país?
A Coreia do Norte é um país bastante fechado onde as pessoas sabem apenas do que lhes é informado pelo governo. A narrativa do governo é de que o país está rodeado por inimigos com armas nucleares e que quer estar preparado para o combate.
Por isso que Pyongyang buscar ter suas próprias armas nucleares e uma sociedade altamente militarizada.
O tipo de retórica que parte da Coreia do Norte às vezes soa como paródia de um país paranoico. Mas o país realmente se vê ameaçado. É provavelmente o país mais isolado do mundo, com pouco amigos.
Este é um regime que, apesar de poder construir mísseis, muitas vezes mal consegue alimentar seu povo. Qualquer solução de longo prazo para o problema da Coreia do Norte precisa, de alguma forma, compreender esta narrativa e garantir à população que o mundo não quer somente derrubar o regime do país.
A chave para isso é clareza política por parte dos EUA, assim como a disposição de tentar encontrar incentivos para abrir algum tipo de diálogo diplomático com Pyongyang, ao mesmo tempo em que é enviada uma mensagem forte de dissuasão de uma escalada militar.