Sexo forçado: o lado obscuro da indústria pornô no Japão

29 mai 2017 - 10h00
(atualizado às 14h02)
Aroma Kurumin
Aroma Kurumin
Foto: EFE

Ela tinha 23 anos e sonhava em ser uma estrela da música quando foi abordada por um homem em uma movimentada rua de Tóquio oferecendo trabalho de modelo. Ao aceitar, caiu na armadilha de uma rede de coerção que arrasta milhares de jovens do Japão a participar de filmes pornôs todos os anos.

Aroma Kurumin, cujas cenas gravadas em 2013 ainda circulam na internet, apesar de seus esforços para tirar as imagens do ar, é uma das muitas vítimas das produtoras nipônicas de filmes eróticos. Trata-se de um fenômeno antigo, mas só agora começou a ser revelado, e o governo tem tentado inibi-lo.

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"Pensei que era a oportunidade para realizar o meu sonho", contou a jovem à Agência Efe.

O pesadelo começou com uma entrevista e uma sessão de fotos sem roupa - na promessa de que só teria que posar assim apenas uma vez - para uma famosa revista sensacionalista. A "agência de modelos", então, a convidou para outra sessão de fotos e filmagens em Saipan, no Oceano Pacífico. Lá, se viu cercada de homens e pressionada a aceitar a rodar as cenas quentes pelas quais depois recebeu um pagamento ínfimo.

"Tudo aconteceu muito rápido. Quando me recusava a fazer alguma coisa, eles diziam que essa era a melhor forma de começar uma carreira musical e insistiam até eu ceder", lembrou ela, educada em um país onde a mulher nunca deve dizer "não", ainda mais quando jovem.

Aroma Kurumin é o apelido que agora ela usa como youtuber e ativista para conscientizar outras meninas sobre essa situação e evitar que mordam a isca da poderosíssima indústria pornô japonesa, na qual conglomerados que monopolizam redes de TV, gravadoras, editoras de livros, agências de "talentos" e produtoras de filmes são máquinas de sugar aspirantes ao estrelato, que se tornam presas fáceis nas mãos de charlatões.

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Aroma Kurumin
Foto: EFE

"O problema existe há anos, mas só agora começamos a falar dele", diz à Efe a coordenadora e advogada da ONG que apoia vítimas do tráfico sexual Lighthouse, Aiki Segawa, acrescentando que o fenômeno "continua sendo um tabu no Japão".

Com sede na capital, a organização recebeu só neste ano mais de 40 pedidos de ajuda de meninas obrigadas fazer pornô e que anualmente vê crescer o número de atendimentos. Em geral, a vítima é mulher, tem entre 18 e 25 anos - ainda que também existam homens - e tem o sonho de brilhar em uma carreira no mundo da moda, música ou cinema.

Além dos "caça-talentos", que abordam meninas na rua, a indústria do pornô se vale de anúncios em revistas, na internet e até publicidade em caminhões, prometendo excelentes salários para trabalhar meio expediente como modelo ou comissária de bordo.

As interessadas vão a entrevistas onde são convencidas a assinar contratos nada claros, e depois são chantageadas de diversas formas para participar das filmagens. Algumas são ameaças fisicamente e estupradas. As cenas são gravadas e distribuídas como filmes, segundo Aiki Segawa.

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Em um relatório recente, a ONG Human Rights Now revelou o caso de uma jovem que se matou depois de ver seus vídeos espalhados na rede e não conseguir impedir a distribuição.

"As vítimas se sentem muito envergonhadas e assustadas para pedir ajuda ou relatar sua experiência", destaca a coordenadora da Lighthouse, destacando que quase sempre elas "se culpam e acreditam ser as responsáveis por aquela situação".

Uma pesquisa feita no início deste ano pelo governo com 2.500 aspirantes ao estrelado revelou que 27% das jovens contratadas por "agências de talentos" foram chamadas para gravar cenas de sexo, e 8% delas aceitaram. Diante disso, foi decidido fazer uma campanha de conscientização.

As ONGs exigem leis de trabalho mais rígidas - para prevenir os abusos -, maior controle sobre as "agências de talentos" e que os filmes sejam supervisionados - para garantir que todos os atores participam com pleno consentimento.

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Aiki Segawa, no entanto, admite ser "difícil" controlar a gigantesca indústria do pornô japonês, uma das maiores do mundo, com faturamento de US$ 4,4 bilhões por ano e uma crescente projeção mundo afora.

  
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