O governo do Japão decidiu nesta sexta-feira chamar para consultas o embaixador do país em Seul em protesto pela instalação de uma polêmica estátua que homenageia escravas sexuais em frente a um de seus consulados na Coreia do Sul.
O monumento foi instalado na semana passada em frente à representação diplomática japonesa da cidade de Busan por uma organização civil após a aprovação do governo local, provocando o protesto de Tóquio e aumentando a tensão entre os países.
O Japão também decidiu retirar o cônsul do país em Busan, Yasuhiro Morimoto, informou hoje o ministro porta-voz do governo, Yoshihide Suga, em declarações divulgadas pela agência Kyodo.
"Pedimos reiteradamente que a Coreia do Sul resolvesse esse assunto de maneira apropriada, mas a situação não melhorou. Portanto, tomamos essa medida", disse Suga à Kyodo.
O Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul classificou a decisão do Japão de convocar o embaixador em Seul para consultas como "muito lamentável" em comunicado.
"Se há assuntos problemáticos, os governos de ambos os países devem continuar potencializando os laços entre Coreia do Sul e Japão, baseados em uma relação de confiança", afirma a nota.
O chanceler sul-coreano, Yun Byung-se, convocou o embaixador japonês em Seul, Yasumasa Nagamine, e o cônsul em Busan para discutir o assunto e comunicar pessoalmente o desgosto do governo local com a decisão tomada por Tóquio.
O Ministério de Estratégia e Finanças da Coreia do Sul também lamentou a decisão do Japão de suspender as negociações sobre o intercâmbio de divisas entre os dois países por causa da estátua.
"É desejável que a cooperação econômica entre Coreia do Sul e Japão continue, sem ser afetada por assuntos políticos e diplomáticos", argumentou a pasta em comunicado.
A estátua, a segunda semelhante instalada em frente a uma missão diplomática do Japão no exterior, representa uma menina descalça vestida com um traje tradicional sul-coreano. Ela simboliza as vítimas de abusos sexuais cometidos por tropas japonesas.
Calcula-se que cerca de 200 mil meninas e adolescentes - a maioria delas coreanas - foram vítimas desses abusos desde 1930 e, sobretudo, no fim da Segunda Guerra Mundial, encerrada em 1945.
O conflito das escravas sexuais gerou nas últimas décadas frequentes atritos entre Coreia do Sul e Japão, se transformando no principal empecilho nas relações bilaterais entre os dois países.
Os dois governos assinaram no fim de 2015 um acordo para encerrar o assunto. O Japão se desculpou oficialmente pelo caso e ofereceu uma compensação de 1 bilhão de ienes para restaurar "a honra e a dignidade" das vítimas de abusos.
A instalação da estátua foi um protesto de algumas organizações de apoio às vítimas, que afirmam que o acordo foi insuficiente.