Tribunal condena cúpula do Khmer Vermelho à prisão perpétua

Aproximadamente 1,7 milhão de pessoas morreram durante o regime do Khmer Vermelho, entre 1975 e 1979, por causa de trabalhos forçados, doenças, crises de fome e razões políticas

7 ago 2014 - 03h51
(atualizado às 05h23)

Nuon Chea, 88 anos, é considerado o ideólogo e número 2 da organização
Nuon Chea, 88 anos, é considerado o ideólogo e número 2 da organização
Foto: Mark Peters/ECCC / Reuters

O Tribunal Internacional do Camboja condenou nesta quinta-feira dois ex-líderes do Khmer Vermelho à prisão perpétua por crimes contra a humanidade, na primeira sentença contra a cúpula de um regime que causou 1,7 milhão de mortes há mais de três décadas.

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Os acusados são o ideólogo e número 2 da organização comunista, Nuon Chea, 88 anos, e o ex-chefe de Estado do regime, Khieu Samphan, 83, que negaram as acusações nesta primeira fase do processo. A defesa dos réus anunciou nesta quinta-feira que apresentará recursos de apelação da sentença e um pedido de impugnação dos juízes.

"Milhões de pessoas foram vítimas de um ataque global e sistemático contra a população civil que seguia as políticas e planos do partido", disse o juiz Nil Nonn na leitura da sentença, que foi transmitida ao vivo na internet pelo site do tribunal.

O juiz considerou os acusados culpados de crimes contra a humanidade, extermínio, assassinato, perseguição política e outros atos desumanos, entre eles, deslocamentos e desaparições forçadas, no julgamento da primeira fase da ação contra os ex- dirigentes.

Essa fase do processo serviu para julgar os deslocamentos forçados de Phnom Penh, a capital do país, e o envio de população urbana para campos de trabalho coletivo em zonas rurais, além das execuções de soldados republicanos feitas pelo Khmer Vermelho depois que o regime tomou o poder em 1975.

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"Aproximadamente 2 milhões de pessoas foram transferidas à força de Phnom Penh sob falsos pretextos, ameaçadas pelas armas", disse Nil Nonn.

Khieu Samphan, 83 anos, é o ex-chefe de Estado do regime
Foto: Mark Peters/ECCC / AP

O juiz rejeitou os argumentos da defesa, que atribuíram a ordem de evacuação ao risco de bombardeios por parte dos Estados Unidos e à falta de alimentos, e os responsabilizou pelos crimes por fazerem parte da "empresa criminosa conjunta".

Os dois acusados enfrentam outras acusações de crimes contra a humanidade e genocídio na segunda fase do processo que começou na semana passada.

O tribunal decidiu dividir o caso contra os líderes do Khmer Vermelho em várias fases devido à complexidade do processo e pelo temor que os acusados, todos eles com idade avançada e saúde frágil, morressem antes que fosse ditada a sentença.

O chefe do Khmer Vermelho, Pol Pot, morreu em 1998 no último reduto da guerrilha maoísta na floresta do norte do Camboja, após se tornar prisioneiro de seus próprios correligionários.

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Aproximadamente 1,7 milhão de pessoas morreram durante o regime do Khmer Vermelho, entre 1975 e 1979, por causa de trabalhos forçados, doenças, crises de fome e razões políticas.

Defesa dos réus diz que vai recorrer

O advogado de Nuon Chea, Victor Koppe, disse que seu cliente já esperava esta sentença e questionou a integridade dos juízes, além de anunciar que apresentará uma queixa com a intenção de substituí-los.

"Acreditamos que não são imparciais", disse Koppe em entrevista coletiva. O advogado também argumentou que os magistrados não podem garantir um julgamento justo a seu cliente nas próximas fases do processo, uma vez que já o condenaram. Além disso, outro defensor do "número 2", San Arun, denunciou que o tribunal "só se ocupou do corpo do crocodilo, mas não da cabeça nem dos rabos".

Os advogados de Khieu Samphan, por sua vez, afirmaram que a sentença foi "injusta" e "desproporcional", ao argumentar que seu cliente recebeu a mesma pena de Nuon Chea, apesar de os juízes terem isentado o ex-chefe de Estado do Khmer Vermelho de várias acusações.

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"Não existem provas concretas sobre a participação de Khieu Samphan na tomada de decisões dos fatos que foram julgados", disseram os advogados, que buscam a absolvição de seu cliente com o recurso.

Os defensores alegaram que Khieu Samphan não fazia parte do comitê central do Partido Comunista de Kampuchea e que, como chefe de Estado, desempenhou apenas um papel institucional.

  
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