Assédio sexual em programa de TV na França gera revolta e discussão sobre 'sedução francesa'

21 out 2016 - 18h41
(atualizado às 19h18)
Soraya Riffy virou o rosto, mas jornalista não desistiu e beijou seu seio ao vivo na TV; revolta do público feminino foi imediata
Soraya Riffy virou o rosto, mas jornalista não desistiu e beijou seu seio ao vivo na TV; revolta do público feminino foi imediata
Foto: YouTube / Reprodução

Era para ser um momento divertido de um programa de variedades de grande audiência na TV francesa, mas acabou se tornando um escândalo de assédio sexual.

Famosos pelo charme, inventores do beijo francês (mais conhecido como beijo de língua), os franceses agora têm seus métodos de sedução na mira dos críticos.

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Quando as câmeras mostraram o jornalista Jean-Michel Maire beijando o seio da atriz Soraya Riffy, após ela ter se virado para evitar um beijo no rosto, a cena provocou comoção imediata nas redes sociais. O beijo foi considerado assédio sexual pois a atriz tinha claramente rejeitado a primeira incursão do jornalista.

Assédio ao vivo

Os dois participavam de um quadro do programa Les 35 heures de Baba (As 35 horas de Baba, em tradução livre), edição especial de um programa popular na TV francesa.

No programa ao vivo, o casal deveria recriar o assalto sofrido pela socialite Kim Kardashian, atacada em seu apartamento em Paris em 3 de outubro.

Kim foi ameaçada com uma arma, amarrada e trancada no banheiro. No programa, a missão do jornalista era salvar a atriz, que interpretava Kim Kardashian.

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Na brincadeira, o jornalista de repente, pediu um beijo à atriz, que virou o rosto. Em seguida, Maire beijou o seio da mulher.

"Fiquei surpresa. Não acho que a atitude de Jean-Michel Maire tenha sido muito profissional. Minha família estava assistindo e não sabia como reagir", disse Riffy ao semanário francês L'Express. "Sou um ser humano, não um simples objeto", completou.

A "sedução francesa" é questionada no país que inventou o mais intenso dos beijos
Foto: JoseIgnacioSoto / iStock

Grupos feministas condenaram o comportamento de Maire, classificando-o de agressão sexual. E 250 telespectadores fizeram queixa ao Conselho Superior do Audiovisual (CSA), responsável pela fiscalização das TVs na França, onde um processo foi aberto.

Até a ministra dos Direitos da Mulher e da Criança, Laurence Rossignol, entrou no debate. "Mesmo em um programa de entretenimento, quando uma mulher diz não é não. Informei o CSA sobre esta agressão sexual", escreveu no Twitter.

Retratação

A repercussão negativa levou o jornalista a se desculpar diante das câmeras. Ele também pediu perdão à atriz. Riffy aceitou as desculpas e publicou mensagem no Facebook dizendo que o jornalista "não merece punição, apesar dos seus impulsos masculinos".

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"Mesmo em um programa de entretenimento, quando uma mulher diz não, é não", tuitou a ministra francesa dos Direitos da Mulher e da Criança, Laurence Rossignol
Foto: Twitter/@laurossignol / Reprodução

A atriz disse ter ficado com pena do jornalista, que disse a ela estar sofrendo em razão do episódio. Segundo Maire, a família não estava falando com ele, a filha não queria mais ir à escola e sua carreira estava em risco.

Escândalos de 'sedução'

O caso é o mais recente em uma série de escândalos de "sedução francesa", definida no país como um comportamento oportunista masculino, adotado especialmente por alguém em posição de poder.

Jean-Marc Morandini, um dos mais destacados apresentadores da TV francesa, vem sendo investigado pela polícia desde junho. Ele enfrenta acusações por supostamente ter obrigado uma menor de idade a participar da gravação de um ato sexual, durante uma seleção de elenco na casa dele.

Morandini também é acusado de assédio sexual por cinco atores que participaram de uma série de TV produzida por ele. Colegas de canal fizeram greve para protestar contra seu comportamento.

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Sexismo na política

Na aparentemente sisuda política francesa, as mulheres também resolveram denunciar comportamentos machistas e abusivos.

Elas criaram o site Chair Collaboratrice, depois da demissão, em maio, do vice-presidente do Parlamento. Denis Baupin foi acusado de assédio sexual por uma representante do Partido Verde, e teria enviado mensagens com conteúdo sexual explícito para outras parlamentares.

O jornal Le Monde afirma que as mulheres do Chair Collaboratrice denunciam "a linguagem e o comportamento machista existentes no dia a dia da política".

E elas compartilham as más experiências. Uma mulher relatou no site um diálogo que teria tido durante uma reunião com um primeiro-ministro:

"Sabe, engraçado, nunca transei com uma árabe…", ele disse. E teria ouvido como resposta: "Sabe, que engraçado, nunca esbofeteei um primeiro-ministro." No ano passado, 40 mulheres jornalistas divulgaram uma carta aberta denunciando assédio sexual de políticos franceses.

As francesas criaram um site para denunciar o sexismo também na política
Foto: DenKuvaiev / iStock
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