Atentados de 11 de Setembro: o que dizem os documentos secretos divulgados pelo FBI

O memorando lista contatos feitos entre vários cidadãos sauditas e os sequestradores dos aviões, mas não implica diretamente o governo da Arábia Saudita

13 set 2021 - 10h21
(atualizado às 10h31)
Os ataques de 11 de setembro nos EUA completaram 20 anos no sábado
Os ataques de 11 de setembro nos EUA completaram 20 anos no sábado
Foto: EPA / BBC News Brasil

No 20º aniversário do ataque mais mortal em solo americano, o FBI (a polícia federal americana, que atua também como serviço de inteligência) liberou acesso a um documento analisando possíveis conexões entre vários cidadãos sauditas nos Estados Unidos e dois dos homens que executaram os atentados de 11 de setembro de 2001.

Parentes das vítimas dos ataques das Torres Gêmeas solicitavam há anos a liberação desses arquivos confidenciais, argumentando que as autoridades sauditas tinham conhecimento prévio do ataque e não tentaram impedi-lo.

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Dos 19 homens que sequestraram os aviões naquele dia, 15 eram sauditas.

No entanto, o documento — o primeiro de vários que se espera que sejam tornados públicos — não fornece qualquer evidência de que o governo saudita estava ligado ou tinha conhecimento do complô contra as Torres Gêmeas.

A embaixada saudita em Washington já vinha manifestando ser a favor de que os arquivos fossem liberados. A embaixada nega qualquer vínculo entre seu país e os sequestradores e afirma que essas alegações são "falsas e maliciosas".

O que o documento diz?

O documento de 16 páginas do FBI é baseado em entrevistas com uma fonte cuja identidade é mantida sob sigilo (chamada PII) e descreve os contatos entre vários cidadãos sauditas e dois dos sequestradores dos aviões — Nawaf al-Hazmi e Khalid al-Midhar.

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Ambos fingiram ser estudantes para entrar nos EUA em 2000.

O memorando do FBI diz que mais tarde eles receberam apoio logístico significativo de Omar al-Bayoumi, que, segundo testemunhas, era um visitante frequente do Consulado Saudita em Los Angeles, apesar de seu status oficial na época ser o de estudante.

Segundo a fonte do FBI, Bayoumi tinha "um status muito alto" no consulado.

"A assistência de Bayoumi a Hamzi e Midhar incluiu tradução, viagens, hospedagem e financiamento", diz o documento.

Memorando lista contatos feitos entre vários cidadãos sauditas e os sequestradores dos aviões, mas não implica diretamente o governo da Arábia Saudita
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Por outro lado, o documento do FBI também mostra que havia ligações entre os dois sequestradores e Fahad al-Thumairy, um imã (líder muçulmano) da Mesquita do Rei Fahad, em Los Angeles, que as fontes citadas descrevem como uma pessoa "de crenças extremistas".

Bayoumi e Thumairy deixaram os EUA semanas antes dos ataques de 11 de setembro, de acordo com a agência de notícias AP.

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A agência também citou Jim Kreindler, um advogado dos parentes das vítimas do 11 de setembro, dizendo que o documento publicado "valida os argumentos que eles apresentaram no litígio em relação à responsabilidade do governo saudita nos ataques de 11 de setembro".

No mês passado, um processo iniciado por parentes levou vários ex-oficiais sauditas a serem interrogados.

As famílias de algumas vítimas pressionaram por muito tempo o presidente Joe Biden para divulgar os documentos
Foto: EPA / BBC News Brasil

Os governos anteriores — de George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump — se recusaram a divulgar os documentos, alegando que haveria ameaça à segurança nacional.

Mas o atual presidente, Joe Biden, ordenou na semana passada uma revisão dos documentos e pediu às autoridades que liberassem o que pudessem nos próximos seis meses.

Há anos se especula sobre os laços oficiais da Arábia Saudita com o ataque, dado o número de cidadãos sauditas envolvidos e os antecedentes do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden.

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O líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os EUA e a Arábia Saudita são aliados há muito tempo, embora a relação às vezes seja complexa. O ex-presidente Donald Trump estreitou os laços entre seu país e a monarquia saudita.

Mas Biden chegou a chamar a Arábia Saudita de "pária" depois que um relatório da inteligência dos EUA em fevereiro deste ano implicou o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018. Bin Salman nega ter ordenado o assassinato, que ocorreu no consulado saudita em Istambul.

O correspondente de segurança da BBC, Frank Gardner, disse que Biden, desde então, suavizou sua postura em relação ao homem mais poderoso da Arábia Saudita, refletindo a importância da aliança entre os dois países.

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