O papa emérito Bento XVI publicou uma carta nesta terça-feira, 8, como uma resposta ao relatório alemão que apontou ao menos 497 vítimas de abusos sexuais em Munique e Freising entre 1945 e 2019, englobando o período que Joseph Ratzinger comandou a arquidiocese (1977-1982).
O relatório acusa o então arcebispo de não atuar como deveria e ajudar a acobertar quatro padres alemães, além de não demonstrar interesse pelas vítimas. Um desses casos envolve o padre Peter Hullerman, que foi transferido de Essen para um "tratamento psiquiátrico" em Munique em 1980 após ter sido acusado de abusar de um menino de 11 anos.
Falando do encontro com as vítimas, Ratzinger disse que olhou "nos olhos delas as consequências de uma grandíssima culpa e aprendi a entender que nós mesmos somos arrastados para essa grandíssima culpa quando a negligenciamos ou quando não enfrentamos com a necessária decisão e responsabilidade, como aconteceu e acontece muito".
"Eu tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Tanto quanto é grande a minha dor pelos abusos e pelos erros que foram verificados durante o tempo do meu mandato nos respectivos lugares. Cada um dos abusos sexuais é terrível e irreparável. Às vítimas dos abusos sexuais, vai a minha profunda compaixão e minha lamentação por cada caso", disse Ratzinger.
Ainda ressaltando o encontro com as vítimas alemãs, o papa emérito afirmou que que "como fiz naquelas reuniões, mais uma vez posso exprimir na relação com todas as vítimas de abusos sexuais a minha profunda vergonha, a minha grande dor e o meu sincero pedido de perdão".
O alemão também afirmou que "em breve, estarei perante o último juiz da minha vida". "Também se no olhar para trás na minha longa vida posso ter tido vários momentos de temor e medo, estou com a alma feliz porque confio firmemente que o Senhor não é só um juiz justo, mas ao mesmo tempo um amigo e um irmão que já sofreu com as minhas insuficiências e, enquanto é juiz, é também meu advogado", afirmou.
Bento XVI também afirmou que é "particularmente grato pela confiança, apoio e orações que o papa Francisco me expressou pessoalmente".
No documento, o papa emérito ainda publicou uma mensagem à Igreja que "muito frequentemente dorme" em frente a problemas.
"Cada vez mais compreendo o desprezo e o medo que Cristo experimentou no Monte das Oliveiras quando viu tudo o que de terrível precisava superar internamente. Que os discípulos dormissem naquele momento representa infelizmente a situação que também hoje se verifica de novo e pela qual eu também me sinto chamado", escreveu ainda.
O relatório publicado em 20 de janeiro deste ano rendeu diversas reações em alto nível tanto dentro da instituição religiosa como no governo alemão.