No evento inaugural da convenção nacional do Partido Democrata dos Estados Unidos, nesta segunda-feira, 19, o presidente Joe Biden "passou o bastão" a sua vice e candidata nas eleições presidenciais de novembro, Kamala Harris.
O veterano foi recebido com mais de quatro minutos de aplauso, mostrando-se energético, projetando a voz num discurso em que passou em revista as conquistas da sua administração e o que está em jogo na eleição de novembro.
"Com gratidão no coração, eu lhes digo nesta noite de agosto que a democracia prevaleceu. E agora a democracia tem de ser preservada. [...] Estamos num ponto de inflexão. É um desses raros momentos da história em que as decisões que tomarmos agora vão determinar o futuro durante décadas."
Incitando a audiência para "derrotar Donald Trump e eleger Kamala e Tim" (Tim Walz escolhido com vice da chapa de Harris), Biden projetou medidas do futuro governo, desde restaurar o direito ao aborto a tornar o crédito fiscal infantil permanente e aumentar os impostos das grandes corporações.
Trump: mentiroso, criminoso, perdedor
Interrompido mais de uma vez por cantos de "We love Joe" e "Thank you Joe", Biden falou com grande vigor do ex-presidente que derrotou em 2020 e que é novamente candidato republicano: "Donald Trump diz que a América é uma nação fracassada", lembrou, mostrando indignação. "A mensagem que ele envia ao mundo é que estamos perdendo. Ele é que é o perdedor, está errado."
Biden acusou Trump de mentir sobre as estatísticas criminais dos Estados Unidos, contrapondo que o crime violento apresenta recordes mínimos dos últimos 50 anos. "O crime vai continuar diminuindo quando pusermos uma procuradora na presidência em vez de um criminoso condenado", investiu, em alusão aos numerosos processos a que o magnata nova-iorquino tem respondido.
O presidente democrata abordou também o fato de Trump ter provocado a falência de uma legislação bipartidária para reforçar a segurança na fronteira, assegurando que Harris, ao contrário dele, "não vai demonizar os imigrantes".
O chefe de Estado enfatizou ainda a resistência da Ucrânia, garantindo que sua eventual sucessora não dobrará o joelho perante o presidente russo,Vladimir Putin. Em referência aos milhares que protestavam nos arredores da convenção contra a guerra entre Israel e o grupo fundamentalista Hamas, ele mencionou sua proposta de cessar-fogo para o conflito, causador de uma catástrofe humanitária na Faixa de Gaza: "Os manifestantes lá fora têm razão: muita gente está morrendo - dos dois lados."
Um veterano se despede com dignidade
O discurso serviu para Biden como despedida da política, menos de um mês após ele desistir da corrida em favor de Kamala Harris, provocando lágrimas em parte dos presentes à Convenção Nacional Democrata. Numa retrospectiva dos 50 anos que serviu na política, defendeu seu histórico na proteção do clima, direitos reprodutivos, infraestrutura e no sistema de saúde.
Declarando-se grato a todos, mostrou-se otimista: "Escolher Kamala foi a primeira decisão que tomei ao ser nomeado, e a melhor de toda a minha carreira política. Ela vai ser uma presidente de que todos podemos ter orgulho, vai ser uma presidente histórica." Biden lembrou a capacidade feminina para impulsionar mudanças políticas e prometeu ser o melhor cabo eleitoral de Harris.
"Os republicanos do MAGA [slogan trumpista "Make America great again" - Fazer a América novamente grande] descobriram o poder das mulheres em 2022. E Donald Trump vai descobrir o poder das mulheres em 2024. Fiquem só de olho."
Referindo-se várias vezes à invasão do Capitólio pelos adeptos de Trump em 6 de janeiro de 2021, o líder democrata octogenário frisou que todos os americanos têm a obrigação de voltar a salvar a democracia em 2024. E dispersou boatos de que estivesse zangado com quem o forçou a renunciar a uma tentativa de reeleição: "Foi a honra da minha vida servir como seu presidente. Adoro este cargo, mas amo ainda mais o meu país." E concluiu: "América, dei o melhor de mim para você."
*av/cn (Lusa,AP,AFP,DW)