Bolívia troca diplomatas e se reaproxima de EUA e Chile

Chanceler diz que pretende trocar embaixadores que foram nomeados por Evo e não sejam de carreira, com o objetivo de acabar com as indicações partidárias e diplomacia ideológica

15 nov 2019 - 09h46
Foto: Luisa Gonzalez / Reuters

A nova chanceler da Bolívia, Karen Longaric, anunciou nesta quinta-feira, 14, que trocará todos os embaixadores que não venham da carreira diplomática e tenham sido nomeados por razões políticas pelo ex-presidente Evo Morales. Segundo Longaric, a intenção do governo é reaproximar com os Estados Unidos e Chile, países com os quais a Bolívia manteve relações conturbadas durante a presidência de Evo Morales.

A ofensiva diplomática é o segundo passo da presidente interina, Jeanine Áñez, para se consolidar no poder. Na véspera, ela havia dado posse ao novo comando militar, fincando o primeiro alicerce do novo governo. Jeanine foi proclamada presidente interina com a missão de conduzir a Bolívia a novas eleições em 90 dias, em uma sessão esvaziada do Congresso, dois dias após a renúncia de Evo, acusado de fraudar as eleições de 20 de outubro.

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Nesta quinta, ela marcou importantes pontos diplomáticos ao obter o reconhecimento de seu governo por parte da Rússia e da Alemanha. O reconhecimento tem poucas implicações práticas, mas forte simbolismo político. No caso da Rússia, o aceno foi visto como inesperado em razão das relações do Kremlin com o governo de Evo.

Ao tomar posse nesta quinta como chanceler, Longaric, ela mesma diplomata de carreira, prometeu sanear a chancelaria das indicações partidárias e adotar uma política externa sem rompantes "histriônicos". "Aquelas pessoas que não são de carreira e entraram no serviço diplomático por cotas políticas serão trocadas."

Ainda nesta quinta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, decidiu enviar o diplomata Jean Arnault, que tem serviços prestados na Colômbia, Afeganistão e Guatemala, para mediar a crise boliviana e garantir eleições transparentes. A medida foi elogiada por Evo nas redes sociais.

No front político, Áñez prometeu dialogar com as forças do Congresso. O ministro interino da presidência, Jerjes Justiniano, afirmou ao jornal Página Siete que abriu conversações com o Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo.

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Além de manejar os protestos em defesa do ex-presidente, o MAS tem amplo domínio sobre o Parlamento - com 88 das 130 cadeiras da Câmara e 25 das 36 vagas do Senado -, capacidade para aprovar mudanças na Constituição e inviabilizar o governo interino.

Justiniano disse que o MAS colocou como condições para suspender os protestos garantias de que não haverá perseguição política e de que Evo possa voltar à Bolívia. O ex-presidente está exilado no México desde terça-feira.

Nesta quinta, várias ruas de La Paz continuavam bloqueadas por manifestantes de ambos os lados, dificultando o acesso a locais importantes, como o aeroporto. Em várias partes do país, foram registrados confrontos. Segundo o diretor do Instituto de Investigações Forenses, Andrés Flores, 12 pessoas morreram nos últimos 25 dias, desde o início da crise.

Jeanine garante eleição sem Evo

Áñez garantiu nesta quinta que Morales não poderá participar das próximas eleições bolivianas. "Ele não está habilitado para disputar um quarto mandato. Eu sugiro ao Movimento ao Socialismo (partido de Evo) que procure novos candidatos", afirmou Jeanine, que planeja anunciar a data da votação quando terminar de formar seu gabinete.

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Jeanine criticou o fato de Evo continuar fazendo declarações políticas e "incitando" a população. Ela anunciou que a chancelaria fará uma reclamação oficial ao México, onde o ex-presidente está asilado. "Evo está violando todos os protocolos, porque não deveria fazer declarações públicas. O México deveria exigir que ele cumpra os protocolos de asilo. É vergonhoso o que está acontecendo."

Veja também: 

Crise na Bolívia: as duas faces de Evo Morales
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