O presidente Jair Bolsonaro confirmou neste sábado em Osaka, Japão, ter baixado o tom em uma reunião dos BRICS durante a cúpula do G-20, na véspera, ao falar sobre Venezuela. "Nós sabemos que quem decide o futuro do mundo são as potências nucleares, então, da minha parte, não quis polemizar com o senhor (Vladimir) Putin, uma potência nuclear, e tocamos o barco", justificou Bolsonaro.
Um rascunho do discurso do presidente obtido pelo Estado previa uma cobrança por ajuda dos países do grupo na pressão pela transição de governo na Venezuela, o que seria um recado a russos e chineses. Mas, no momento da fala, Bolsonaro fez uma breve menção à crise no país vizinho sem pedir apoio para o fim do regime de Nicolás Maduro.
"Foi en passant (menção à Venezuela). Eu estava na presença do nosso presidente da Rússia, está certo? E vi que não era o momento de ser mais agressivo nessa questão", disse Bolsonaro. "Alguns aviões militares (da Rússia) têm passado pela Venezuela, está bastante complicada a situação, uma presença muito forte de aproximadamente 60 mil cubanos lá dentro", disse.
"Cuba recebe ainda grande quantidade de petróleo da Venezuela, Hezbollah tem célula lá dentro, tem as milícias, tem um Exército cuja cúpula são generais narcotraficantes. Essa série de interesses na Venezuela e tendo em vista a fraqueza de Maduro, temos uma ditadura bastante forte lá. Então eu não atingiria meu objetivo com um posicionamento meu nesse sentido", emendou.
Ainda ao justificar a falta de cobrança de uma posição da Rússia alinhada aos interesses do Grupo de Lima na região, Bolsonaro afirmou que, como presidente, precisa se preocupar com os interesses do Brasil para que uma "venezualização" do País não ocorra no futuro e voltou a criticar a possibilidade de Cristina Kirchner voltar ao poder na Argentina - a ex-presidente é vice em chapa que concorre às eleições neste ano.
Bolsonaro faltou ao encontro do Grupo de Lima, bloco de países que se reúnem para fazer pressão pela transição de governo na Venezuela, previsto para ocorrer na manhã deste sábado (no horário do Japão). Nos bastidores, integrantes do governo comentam que as atitudes do bloco já têm eficácia reduzida, pois não há como endurecer mais o posicionamento no campo diplomático.