Em um discurso realizado nesta terça-feira (17), na Lancaster House, em Londres, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, definiu o percurso do chamado Brexit, que deve ser realizado de maneira "gradual" e durar dois anos.
Quase sete meses depois do referendo que determinou a saída do país do bloco, a premier garantiu que a nação permanecerá "aberta ao mundo", apesar do rompimento com Bruxelas.
"Queremos um país mais forte, justo, unido e voltado ao exterior", declarou May, acrescentando que os britânicos continuarão sendo "bons amigos" da Europa. Atualmente, o processo de "divórcio" está parado devido à espera por uma decisão da Suprema Corte local.
Em novembro passado, a Alta Corte de Justiça da Inglaterra decidiu dar ao Parlamento a palavra final sobre a saída do Reino Unido da UE, contrariando o governo, que considerava desnecessária essa etapa pelo fato de o povo já ter imposto sua vontade no referendo de junho.
O caso foi parar na Suprema Corte, última instância da Justiça britânica, mas May decidiu se antecipar. No discurso desta terça, a primeira-ministra afirmou que o acordo final com Bruxelas será votado pelo Parlamento, esvaziando a batalha jurídica movida pela ativista pró-Europa Gina Miller, autora da ação.
No pronunciamento, a premier também disse que Londres retomará o controle de imigração com os países da União Europeia e sairá da jurisdição da Corte da Justiça da UE e do mercado único europeu.
Este último ponto parecia ser um dos principais entraves às negociações, já que o Reino Unido indicava sua vontade de permanecer na área de livre circulação de bens, serviços e capitais na Europa.
Contudo, Bruxelas era contra essa hipótese, afirmando que Londres não poderia escolher uma UE "à la carte", ou seja, mantendo apenas os benefícios que lhe interessassem. "Queremos uma nova relação de iguais com a UE. Não é possível ter uma adesão parcial", salientou May.
Por outro lado, de acordo com a primeira-ministra, o Reino Unido tentará negociar um acordo de livre comércio com o bloco após a separação. "Não queremos que a União Europeia se desmembre, mas faltou flexibilidade em relação a Londres, e os britânicos perceberam", acrescentou a premier, ressaltando que o bloco deve tomar o Brexit como uma "lição" se quiser ter sucesso.
May também anunciou que o país organizará uma cúpula bienal da Commonwealth, comunidade que reúne mais de 50 nações, em sua maioria ex-colônias britânicas. O objetivo, nas palavras da chefe de governo, é construir um Reino Unido "verdadeiramente global". "A tutela da união está no coração de cada ação do Reino Unido. Apenas unidos conseguiremos aproveitar as oportunidades que nos esperam", disse.
A mensagem não deixa de ser um recado à Escócia, onde os anseios separatistas voltaram a ganhar força após o referendo sobre o Brexit - ao contrário do restante do país, o território votou pela permanência do Reino Unido na UE.
Brexit
Reeleito em 2015 com a promessa de realizar um referendo sobre a União Europeia, o então primeiro-ministro David Cameron passou meses negociando com Bruxelas a mudança do status de Londres no bloco.
Após uma maratona de tratativas, chegou a um acordo para limitar o processo de integração europeia e o acesso de cidadãos comunitários ao sistema britânico de bem-estar social. Conforme o prometido, submeteu a questão a referendo e, depois de uma campanha acirrada, viu o "leave" ("sair") receber 51,89% dos votos.
A derrota levou à renúncia de Cameron e à ascensão de May, eleita para substituí-lo e conduzir o Reino Unido para fora da União Europeia.