Catar diz que 13 reféns serão soltos na sexta: o que se sabe sobre acordo do Hamas com Israel

O governo de Israel anunciou na noite desta terça-feira (21) que uma primeira leva de reféns, composta por 50 pessoas, será solta, enquanto conflito será pausado temporariamente.

21 nov 2023 - 22h54
(atualizado em 23/11/2023 às 16h03)
Familiares de israelenses sequestrados fizeram várias manifestações pedindo a liberação dos reféns
Familiares de israelenses sequestrados fizeram várias manifestações pedindo a liberação dos reféns
Foto: EPA-EFE/REX/Shutterstock / BBC News Brasil

O gabinete de Israel aprovou na noite de terça-feira (21/11 no Brasil) um acordo com o Hamas para que reféns detidos pelo grupo palestino há mais de um mês sejam liberados.

O Catar, que tem mediado as negociações, deu detalhes sobre o plano e disse que 13 reféns serão libertados na sexta.

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Eles devem fazer parte de uma primeira leva de 50 reféns — crianças e mulheres — que serão soltos ao longo de quatro dias.

Enquanto isso, o conflito será pausado temporariamente.

"A soltura adicional de cada grupo de 10 reféns resultará em um dia adicional na pausa", diz um trecho de um comunicado de Israel.

O acordo vem após mais de seis semanas de uma forte e mortal guerra na Faixa de Gaza.

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A pausa nos combate vai começar as 7h da manhã (horário local) na sexta, tanto no norte quanto no sul da Faixa de Faza, segundo Israel. O Hamas confirmou o cessar fogo temporário e disse que 200 caminhões de ajuda humanitária terão autorização para entrar em Gaza por dia, nesses quatro dias.

Os 13 reféns serão libertados a tarde na sexta. Eles serão entregues aos cuidados da Cruz Vermelha, mas não foram dados detalhes sobre qual rota será usada para tirá-los de Gaza.

Israel confirmou que já recebeu uma lista das pessoas que serão libertadas e está contatando as famílias.

O Catar diz que espera que prisioneiros palestinos sejam libertados em contrapartida, mas não divulgou números.

O porta voz do ministério das relações exteriores do Catar, Majed Al-Ansari, disse que os detalhes do plano são "robustos" e seguros.

"Eu não sei se deveria dizer que estou confiante, mas estamos esperançosos - e ambos os lados estão comprometidos, o que nos deixa otimistas", afirmou.

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O ministro israelense Amichai Chikli, do mesmo partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, disse que o cessar fogo temporário é "apenas uma pausa" e "não significa o fim da guerra contra o Hamas".

"Israel deixou claro que pretende continuar a guerra após essa pausa, algo que recebe oposição de todos os países da região", disse o correspondente da BBC para assuntos de segurança, Frank Gardner.

Para ele, os detalhes divulgados pelo Catar são consistentes, mas muita coisa "ainda pode errado" até os reféns conseguirem se reencontrar com suas famílias.

'Decisão difícil'

O gabinete israelense (que participou do acordo) é formado por ministros e pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Antes da decisão sobre o acordo ser anunciada, Netanyahu disse que Israel continuaria a guerra contra o Hamas "até alcançarmos todos os nossos objetivos".

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Em uma declaração em vídeo gravada antes da reunião do gabinete, Netanyahu disse que era "absurdo" o eventual cenário da guerra ser interrompida assim que os reféns fossem libertados.

Segundo o primeiro-ministro, o retorno dos reféns é um "objetivo sagrado e importante".

"Na guerra, há fases e, na devolução dos reféns, há fases, mas não vamos parar até termos a vitória total, até recuperarmos todos eles", disse o premiê. "Esse é o dever sagrado de todos nós."

A eliminação do Hamas também é um objetivo, afirmou Netanyahu, "e que não haja nada em Gaza que ameace Israel novamente".

Netanyahu afirmou ainda que aceitar um acordo seria "uma decisão difícil", mas que seria "a decisão certa" e apoiada pelo "establishment de segurança".

Netanyahu acrescentou: "O esforço de guerra não será prejudicado, mas permitirá que as IDF (Forças de Defesa de Israel) se preparem para os combates que virão".

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Ele também agradeceu ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que, segundo ele, ajudou a "melhorar o quadro que está sendo apresentado a vocês... para incluir mais reféns a um custo mais baixo".

Mais de 200 pessoas foram feitas reféns pelo Hamas e levadas para Gaza
Foto: GETTY IMAGES / BBC News Brasil

A declaração do premiê israelense foi dirigida aos que estão mais à sua direita na coligação que forma seu governo e aos seus apoiadores, avalia Tom Bateman, correspondente da BBC no Oriente Médio.

"Creio que em grande parte foi para consumo interno, para combater os ataques daqueles que estão mais à sua direita politicamente", diz Bateman.

O acordo não exigia o apoio de todos 38 membros do seu gabinete, formado por integrantes de diferentes partidos.

Segundo a mídia local, não havia uma oposição robusta para impedir sua aprovação. Alguns dos maiores críticos do acordo são parte da direita radical israelense.

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Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional e líder do partido Otzma Yehudit, disse em uma postagem no X que se oporia ao acordo, acrescentando acreditar que a aprovação do acordo pelo Hamas indicaria que o Exército israelense está realizando um ataque eficaz.

Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, afirmou em um comunicado antes da reunião que o acordo era "ruim para a segurança de Israel, ruim para os reféns e ruim para os soldados das IDF".

A mídia local informou ainda que o partido ultraortodoxo Shas disse que votaria a favor de um acordo.

O United Torah Judaism, outro partido ultraortodoxo que integra o gabinete, não disse como pretendia votar.

Um funcionário israelense de alto escalão disse à BBC que todos os órgãos de segurança israelenses — as IDF, a agência de espionagem Mossad e a agência de inteligência doméstica Shin Bet — haviam se manifestado a favor do acordo.

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Na manhã desta terça-feira, o Catar, que está costurando as negociações, entregou uma proposta de acordo com o Hamas para Israel, segundo disse um funcionário do Ministério das Relações Exteriores à rede CNN.

O Catar desempenhou um papel de mediador entre as partes desde o início deste conflito e esteve envolvido na libertação de quatro mulheres feitas reféns pelo Hamas, semanas atrás.

A repercussão do acordo nos últimos dias

Nos últimos dias, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já havia dito que um acordo que levaria o Hamas a libertar alguns reféns israelenses estava "muito próximo".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também já havia dito que estavam sendo feitos "progressos" em relação ao acordo. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, também confirmou essa aproximação do "acordo de trégua".

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O Hamas fez cerca de 240 pessoas como reféns durante os ataques de 7 de outubro, que mataram 1.200 israelenses.

O governo de Gaza, dirigido pelo Hamas, afirma que mais de 14.000 pessoas foram mortas no território desde que Israel iniciou a sua ofensiva - incluindo mais de 5.800 crianças.

Israelenses sequestrados pelo Hamas, da esquerda para a direita do topo: Doron Steinbrecher, Shani Goren, Emily Hand, Alex Danzig, Gali Tarshansky, Amiram Cooper, Erez e Sahar Kalderon, Emma e Julie Alony Cunio, Guy Gilboa-Dalal e Ditza Heiman
Foto: BBC News Brasil

O conflito

Após os ataques do Hamas em 7 de outubro, Israel iniciou uma ofensiva militar na Faixa de Gaza com bombardeios aéreos. Posteriormente, também enviou tanques e tropas ao território.

Desde então, bairros inteiros de Gaza foram destruídos e os ataques de retaliação israelenses continuam.

O objetivo declarado de Israel sempre foi destruir completamente o Hamas e resgatar os reféns em poder do grupo palestino.

Em meados de outubro, Israel deu um ultimato aos moradores no norte da Faixa de Gaza — cerca de 1,1 milhão de pessoas — para se deslocarem em direção ao sul do território.

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O norte de Gaza, que inclui a Cidade de Gaza e dois campos de refugiados, é uma das partes mais densamente povoadas do território.

Na ocasião, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse aos civis que ignorassem a ordem de evacuação, descrevendo-a como "propaganda falsa".

No entanto, milhares de palestinos obedeceram à ordem de Israel e abandonaram suas casas.

Apesar disso, Israel bombardeou várias localidades no sul do território.

Enquanto isso, a ala militar do Hamas, as Brigadas al-Qassam, continuou disparando foguetes contra Israel.

Nas primeiras semanas do confronto, Benjamin Netanyahu, descreveu o atual conflito com o Hamas como a "segunda guerra de independência de Israel".

No início de novembro, sete relatores das Nações Unidas emitiram uma declaração conjunta na qual afirmavam estar convencidos de que "o povo palestino corre grave risco de genocídio".

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Israel chegou a dificultar a entrada de ajuda humanitária em Gaza. A ONU acusou o país de estar cometendo "crimes de guerra" por meio de sua "punição coletiva" aos moradores da Faixa de Gaza.

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