O retorno do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, à Casa Branca na próxima semana ameaça as liberdades no país e no exterior, disse a chefe da Human Rights Watch nesta quinta-feira, alertando que o segundo mandato de Trump pode ser mais prejudicial do que o primeiro.
Os comentários de Tirana Hassan, diretora-executiva do grupo independente de direitos humanos com sede em Nova York, foram feitos no momento em que a organização lança seu Relatório Mundial, que analisa as práticas de direitos em mais de 100 países.
"O primeiro mandato do governo Trump nos mostrou do que eles são capazes e, particularmente, mostrou sua falta de compromisso com os direitos humanos", disse Hassan à Reuters antes do lançamento do relatório anual.
"Mas o Projeto 2025 e as declarações que ouvimos do (novo) presidente já começaram a demonstrar que haverá um ataque total essencialmente aos direitos dos imigrantes", disse ela, referindo-se a um conjunto de propostas de políticas conservadoras e planos para lançar uma operação de deportação em massa de imigrantes.
Hassan, uma advogada australiana que representou requerentes de asilo, acrescentou que o tom estabelecido pela administração de Trump poderá encorajar autocratas em todo o mundo a aprovar políticas repressivas.
A equipe de Trump não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre as declarações.
Hassan também criticou as políticas do atual presidente dos EUA, Joe Biden, por fornecer armas a Israel na guerra de Gaza, apesar do que ela chamou de evidências claras de que elas estavam sendo usadas para cometer atrocidades. Um cessar-fogo entre Israel e o Hamas foi anunciado na quarta-feira.
"2024 não foi um momento de orgulho para o governo que está saindo", disse ela à Reuters, afirmando que o fracasso em proteger os civis em Gaza e o fornecimento de armas foi uma "mancha" no legado de Biden.
Israel nega ter cometido atrocidades em Gaza. No mês passado, a HRW disse que Israel havia cometido um ato de genocídio ao privar Gaza de água, uma acusação que Israel rejeita.
O relatório de 546 páginas da HRW desta quinta-feira disse que conflitos e crises humanitárias expuseram o desgaste das proteções internacionais no ano passado em lugares como Sudão, Ucrânia e Haiti.
Em 2024, alguns autoritários, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e líderes do Sahel, na África, reforçaram seu controle sobre o poder, disse o relatório, mas em outros lugares houve resistência a essas tendências, como na Coreia do Sul.
"Isso apenas mostra que é possível se levantar quando há um ataque total aos direitos humanos", disse Hassan.