Clérigos católicos abusaram de 200 mil crianças na França

Investigação é fruto de uma comissão, criada em 2018 por bispos católicos para lançar luz sobre os abusos na igreja

5 out 2021 - 10h00
(atualizado às 10h13)
Mulher caminha em igreja de Paris
04/10/2021 REUTERS/Sarah Meyssonnier
Mulher caminha em igreja de Paris 04/10/2021 REUTERS/Sarah Meyssonnier
Foto: Reuters

Clérigos franceses abusaram sexualmente de mais de 200 mil crianças nos últimos 70 anos, revelou uma grande investigação divulgada nesta terça-feira, 5, e seus autores acusaram a Igreja Católica de fazer vista grossa por tempo demais.

A Igreja demonstrou uma "indiferença profunda, total e até cruel durante anos", protegendo a si mesma, no lugar de proteger as vítimas de um abuso sistêmico, disse Jean-Marc Sauvé, chefe da comissão que compilou o relatório.

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A maioria das vítimas foram meninos, disse ele, muitos deles de 10 a 13 anos de idade.

A Igreja não somente não tomou as medidas necessárias para evitar abusos, mas tampouco os relatou, e em certas ocasiões colocou crianças em contato com predadores conscientemente, disse o relatório.

O chefe da conferência de bispos da França, Éric de Moulins-Beaufort, disse se tratar de uma vergonha para a Igreja, pediu perdão e prometeu agir.

As revelações na França são as mais recentes a abalar a Igreja Católica na esteira de uma série de escândalos de abuso sexual em todo o mundo, com frequência envolvendo crianças.

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A comissão foi criada por bispos católicos da França no final de 2018 para lançar luz sobre os abusos e restabelecer a confiança pública na Igreja diante de um panorama de congregações minguantes, e trabalha de forma independente.

Sauvé disse que o problema persiste, e acrescentou que até os anos 2000 a Igreja mostrou uma indiferença completa com as vítimas, só adotando uma mudança de atitude real entre 2015 e 2016.

Os ensinamentos da Igreja Católica em temas como sexualidade, obediência e a santidade do sacerdócio ajudaram a criar pontos cegos que permitiram abusos sexuais do clero, disse Sauvé, acrescentando que a instituição precisa reformular a maneira como aborda estas questões para restabelecer a confiança da sociedade.

A Igreja precisa assumir a responsabilidade pelo que ocorreu, disse a comissão, e fazer com que relatos de abusos sejam transmitidos às autoridades judiciais.

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Ela também deve oferecer compensações financeiras adequadas às vítimas, "que, embora não sejam suficientes (para tratar do trauma do abuso sexual), são contudo indispensáveis, já que completam o processo de reconhecimento".

A comissão acrescentou uma lista de recomendações, que inclui a verificação sistemática de fichas criminais de qualquer pessoa indicada pela Igreja para ter contato frequente com crianças ou pessoas vulneráveis e um treinamento adequado aos padres.

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