O presidente da Colômbia, Iván Duque, afirmou nesta quinta-feira, 29, que a decisão de retomar a luta armada anunciada por dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) não representa o surgimento de uma nova guerrilha no país, mas sim de uma "quadrilha" apoiada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
"Os colombianos devem ter clareza que não estamos diante do nascimento de uma nova guerrilha, mas sim frente a uma ameaça criminosa de uma quadrilha de narcoterroristas que conta com o abrigo e o apoio da ditadura de Nicolás Maduro", disse Duque em discurso.
Mais cedo, Iván Márquez, um dos chefes da negociação do acordo de paz assinado pelas Farc e o governo da Colômbia em novembro de 2016, disse em vídeo que retomaria a luta armada no país. Ele estava acompanhado de outros importantes ex-líderes da guerrilha, como Jesus Santrich e Hernán Dario Velásquez, mais conhecido como "El Paisa".
No primeiro pronunciamento depois do anúncio dos dissidentes, Duque afirmou que conversou com Juan Guiadó, reconhecido por mais de 50 países como presidente interino da Venezuela, para pedir apoio para capturar os dissidentes das Farc.
"Conversei com o presidente legítimo da Venezuela, Juan Guiadó, pedindo seu apoio e o apoio à Justiça colombiana para a captura deste grupo criminoso patrocinado pela ditadura de Maduro", disse Duque no discurso.
O presidente da Colômbia também pediu que a comunidade internacional fique ao lado do povo colombiano e rejeite de forma inequívoca as ameaças feitas por Márquez e seus companheiros, chamados por ele de "terroristas".
"Nenhum país pode abrigá-los, por isso avançaremos na expedição de alertas vermelhos da Interpol para os dissidentes. (_) Esse grupo de delinquentes pretende zombar do povo colombiano e nós não vamos permitir isso", afirmou Duque.
Ofensiva contra a dissidência das Farc
No discurso, Duque afirmou que conversou com a presidente da Justiça Especial para a Paz (JEP), Patricia Linares, e destacou a ela a "urgente necessidade" de retirar os dissidentes da jurisdição do tribunal, criado a partir do acordo firmado entre as Farc e o governo.
Além disso, o presidente colombiano disse esperar que a Força Alternativa Revolucionária do Comum, partido político criado após a extinção da guerrilha, expulse de forma imediata todos os que aparecem no vídeo divulgado na manhã desta quinta-feira.
"Nossa mensagem é clara: aqueles que optaram pelo caminho da legalidade sob os princípios da verdade, da justiça, da reparação e da não repetição, seguirão contando com o compromisso do Estado. Os que escolherem a rota da criminalidade sentirão todo o peso da lei", concluiu Duque.
Ainda na quinta-feira, Duque anunciou uma ofensiva contra os ex-chefes das Farc que proclamaram uma nova rebelião armada. "Ordenei a formação de uma unidade especial para a perseguição destes criminosos com capacidades reforçadas de inteligência, investigação e mobilidade em todo o território colombiano", declarou o presidente.
Duque ainda anunciou que o governo recompensará quem der informações que permitam a captura de ex-chefes das FARC que aparecem no vídeo proclamando sua decisão de voltar às armas.
EUA dizem que Venezuela apoia dissidentes das Farc
O representante especial dos Estados Unidos para a crise venezuelana, Elliott Abrams, declarou nesta quinta-feira que grupos rebeldes na Colômbia, como a guerrilha do ELN e dissidentes da extinta Farc, operam na Venezuela com o apoio do governo de Nicolás Maduro, o que é motivo de "grande preocupação" para Washington.
Abrams assinalou que as ações destes grupos guerrilheiros, "profundamente envolvidos com o tráfico de drogas", afetam não apenas a segurança da região, mas também a segurança dos Estados Unidos, e ameaçam ampliar o fluxo de emigrantes venezuelanos para os países sul-americanos.
"Tivemos conversações durante todo o ano com o governo da Colômbia porque há uma importante dissidência das Farc e, especialmente, presença do ELN na Venezuela que não é enfrentada pelo regime; e sim conta com a ajuda do regime, com a cooperação do regime", disse Abrams aos jornalistas.
Abrams disse não ter visto o vídeo, mas avaliou que "isto com certeza" afeta a segurança na Venezuela e na Colômbia.
"É uma grande preocupação e parte desta preocupação é, mais uma vez, que o regime em Caracas parece estar fomentando este tipo de atividade, essencialmente entregando partes do país, particularmente ao ELN"./AFP, AP e EFE