Israel parece estar se preparando para uma invasão por terra em Gaza.
Autoridades israelenses pediram que cerca de 1,1 milhão de pessoas no norte da Faixa de Gaza evacuem a região nas próximas 24 horas.
Enquanto isso, o Exército concentra dezenas de milhares de soldados, tanques e artilharia na fronteira de Israel com o território.
Cerca de 300 mil reservistas foram acionados, somando-se a uma força permanente de mais de 160 mil.
Mas o envio de forças terrestres para as zonas urbanas densamente povoadas de Gaza é uma operação repleta de perigos.
O alcance de um potencial ataque terrestre também ainda não está claro - até onde iria a incursão e por quanto tempo?
Quando pode acontecer?
Os preparativos para um ataque terrestre já começaram.
O major-general Amos Gilead, um veterano das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) e de operações anteriores dentro de Gaza, diz que a primeira tarefa de Israel foi criar um governo de unidade para obter apoio público para o que aconteceria a seguir.
As recentes visitas diplomáticas de funcionarios seniores dos EUA e da Europa permitiram a Israel reforçar o apoio internacional, embora essa solidariedade possa vacilar à medida que a guerra se prolongar e as baixas civis aumentarem.
As baixas militares israelenses, significativas em qualquer operação militar, também testarão a própria determinação do país.
A BBC conversou com reservistas recém-chegados ao sul de Israel — o moral deles parece alto e eles estão prontos para lutar.
Nissim estava no Sri Lanka quando ouviu pela primeira vez a notícia do ataque do Hamas. Ele pegou o primeiro avião de volta a Israel para se juntar à sua unidade.
"Esta é a nossa casa. Temos que lutar por ela", diz.
Shuki deixou seu emprego de vendas imediatamente.
"Adoraríamos ter paz", afirma. "Infelizmente, isso não é possível. Nós aproveitamos a vida, por isso precisamos lutar pelo direito de viver".
Israel parece unido na necessidade de ação, mas o tempo não para de correr enquanto os soldados aguardam por ordens sobre o que fazer. Quanto mais as tropas esperarem, mais difícil será manter a prontidão e o moral.
O aviso de Israel aos palestinos que vivem no norte de Gaza é uma indicação de que a próxima fase da operação militar é iminente.
Preparações para a operação
A primeira tarefa de Israel foi proteger o seu próprio território e matar, ou capturar e interrogar, combatentes do Hamas que cruzaram a fronteira e foram responsáveis por matar mais de 1.300 pessoas e sequestrar pelo menos outras 150.
Israel já tem conduzido intensos ataques aéreos contra a hierarquia militar e a infraestrutura do Hamas.
Nos últimos seis dias, a sua Força Aérea lançou mais de 6 mil bombas sobre Gaza. A título de comparação, os aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) lançaram cerca de 7.700 explosivos durante toda a guerra na Líbia em 2011.
Mais de 1.500 pessoas foram mortas em Gaza nos ataques aéreos até agora.
Os planos para a invasão em si são totalmente sigilosos, mas Israel está se preparando para uma operação do tipo há anos. As forças do país têm treinado suas tropas em um centro de guerra urbano no sul, apelidado de mini-Gaza.
Lá, eles aprenderam, entre outras coisas, como lutar em um labirinto de edifícios e túneis subterrâneos — acredita-se que o Hamas tenha construído mais de 1.000 desses em Gaza.
Yaakov Katz, antigo editor do jornal Jerusalem Post e autor de vários livros sobre o Exército de Israel, diz que as Forças Armadas foram organizadas para operar com este propósito em brigadas especializadas — combinando engenheiros com escavadoras blindadas trabalhando ao lado de tanques e infantaria.
Campo de batalha urbano e túneis
O major-general Yaakov Amidror, ex-comandante das IDF e conselheiro de Segurança Nacional, reconhece que lutar contra o Hamas será difícil. O grupo provavelmente colocou armadilhas e dispositivos explosivos improvisados nos pontos de entrada e ao longo das ruas estreitas das cidades, diz ele.
Israel acredita que o Hamas tenha cerca de 30 mil soldados. Suas armas incluem rifles automáticos, granadas lançadas por foguete e mísseis antitanque — alguns de origem russa, como Kornets e Fagots.
O Hamas tem também grandes arsenais de foguetes, os quais tem disparado contra Israel.
Yaakov Katz diz que o grupo também tem produzido os seus próprios pequenos drones, incluindo alguns suicidas. Ele diz que o Hamas também pode contar um fornecimento muito limitado de mísseis terra-ar de curto alcance. O que eles não têm são veículos blindados, tanques e artilharia — ao contrário de Israel.
Mas o desafio para Israel será o combate corpo-a-corpo em áreas urbanas densamente povoadas.
Israel tem equipes especializadas em guerra em túneis, incluindo uma unidade de engenharia chamada Yahalom, e outra apelidada de Oketz, especializada em combate com cães.
Katz diz que as tropas israelenses evitarão entrar nos túneis, a menos que seja necessário, até porque o Hamas os conhece melhor. Em vez disso, Israel pretende destruir os túneis com o lançamento de explosivos.
Destino dos reféns
O destino dos reféns retirados de Israel complica qualquer ataque terrestre.
O major-general Gilead esteve envolvido nas negociações que levaram à libertação de um soldado israelense, Gilad Shalit, que foi detido pelo Hamas durante cinco anos, de 2006 a 2011.
Sua soltura foi negociada em troca de mais de 1.000 prisioneiros palestinos.
Gilead diz que, embora os militares israelenses precisem levar o destino dos reféns em consideração, "se não fizermos algo concreto, poderemos nos encontrar com problemas maiores depois".
Mas o major-general Amidror diz que os reféns não impedirão qualquer ação.
"Lutaremos contra o Hamas até o fim e teremos que encontrar esses reféns durante a operação."
Qual o objetivo de Israel?
O objetivo declarado de Israel é destruir o Hamas.
Gilead, que serviu nas IDF durante 30 anos, diz que o propósito atual vai além do das operações israelenses anteriores dentro de Gaza, que eram "principalmente sobre contenção".
Desta vez, ele diz, "precisamos fazer algo muito mais dramático". Ele acredita que uma ação militar decisiva também dissuadiria outros inimigos de Israel na região — mais especificamente o grupo Hezbollah e o Irã.
Katz acredita que os objetivos de Israel serão mais pragmáticos — principalmente garantir que o Hamas nunca mais tenha capacidade militar para atacar Israel novamente. Ele diz que Israel "não quer reocupar Gaza e tem que cuidar de 2 milhões de pessoas que lhe são hostis".
No entanto, a história recente sugere que as invasões raramente ocorrem conforme o planejado.
Mesmo as Forças Armadas mais avançadas do mundo podem se atolar na lama — a exemplo do que aconteceu aos EUA no Iraque e no Afeganistão e, mais recentemente, à Rússia na Ucrânia.
Uma operação militar dentro de Gaza, que tem apenas 40 km de extensão, não está na mesma escala das demais, mas o resultado está longe de ser previsível, afirma o tenente-general Sir Tom Beckett, do Instituto de Estudos Estratégicos.
"Na verdade, não existem boas opções para uma ofensiva terrestre israelense em Gaza. Não importa o quão bem sucedida a operação seja na derrota do Hamas como organização militar, o imperativo político do Hamas e o apoio da população à resistência continuarão", diz.
"Israel ou reocupa Gaza para controlá-la ou, ao retirar-se após uma ofensiva, cede terreno às pessoas para quem a resistência é existência."