Um grupo de turistas desapontados olhava melancolicamente através do labirinto de cercas de metal que margeavam o rio Sena.
À frente deles, a catedral de Notre Dame e outros tesouros parisienses estavam, tentadoramente, fora do alcance.
"Não temos um código", disse uma mulher do México, observando outras pessoas — munidas do QR Code de segurança necessário para acessar a área — passarem, com um sinal sonoro de aprovação, através de um posto de controle policial.
Mais abaixo, ao lado da Torre Eiffel, um casal cansado, arrastando grandes malas, fazia uma meia-volta numa calçada lotada para mudar a direção.
"Fechado. Vocês terão que contornar pelo outro lado", acabara de lhes dizer um policial francês, apontando para o sul.
Enquanto Paris se prepara para revelar a sua cerimônia de abertura olímpica — uma extravagância fluvial que terá atletas em barcos polidos desfilando pelo coração da capital francesa na próxima sexta-feira (26/7) —, a polícia e as forças armadas do país estão fazendo os últimos ajustes para uma operação de segurança sem precedentes.
"Estamos prontos", disse o sorridente presidente Emmanuel Macron, com a sua habitual postura aparentemente intacta após semanas de turbulência política provocada pela sua recente decisão chocante de dissolver o parlamento francês.
A operação de segurança — a expressão dificilmente faz justiça à sua escala — envolve o maior destacamento de forças de segurança em tempos de paz na história francesa, com até 75 mil policiais, soldados e guardas contratados para patrulhar Paris.
Estradas e estações de metrô foram fechadas. Cerca de 44 mil barreiras foram erguidas. E foi criado um elaborado sistema de QR Code para moradores e outras pessoas que procuram acesso ao rio Sena e às suas ilhas.
Tem havido, inevitavelmente, problemas iniciais e frustrações numa cidade que normalmente estaria repleta de turistas estrangeiros sem restrições de acesso.
"Estou um pouco preocupado. Nunca vi aqui tão calmo. Noventa por cento dos clientes já foram embora", disse o garçom Omar Benabdallah, de 25 anos, examinando as mesas vazias na calçada de La Cité.
Mas as autoridades francesas insistem que o incômodo será breve — muitas das barricadas colocadas ao longo do Sena serão removidas após a cerimônia de abertura, e valerá a pena, com o mundo sendo presenteado com um espetáculo memorável que celebra a história e a beleza de Paris.
"Eu não descreveria isso como um pesadelo. Estamos focados e determinados", disse o general Lionel Catar com um meio sorriso. Ele é responsável por coordenar o trabalho de cerca de 5.500 soldados franceses deslocados para a capital.
Catar reconheceu a escala "excepcional" da operação de segurança olímpica e paraolímpica, mas explicou que ela evoluiu a partir da Operação Sentinelle pré-existente na França, uma resposta de uma década a uma série de ataques mortais executados por grupos e indivíduos islâmicos.
"Temos equipes de desminagem. Temos equipes de cães. Existem sistemas anti-drone, radares e mergulhadores vigiando o rio Sena", disse Catar.
A decisão de transferir a sede operacional dos arredores de Paris para a grande e extensa Ecole Militaire, atrás da Torre Eiffel, baseou-se no conselho da polícia do Reino Unido, após a sua experiência nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
"Acho que a sede deles ficava um pouco longe do centro da cidade. Aconselharam-nos a estar próximos dos políticos responsáveis e da polícia", afirmou.
Também participam da operação 1.750 policiais estrangeiros de dezenas de países, incluindo Reino Unido, Espanha, Alemanha, Coreia do Sul e Catar.
Cerca de 250 oficiais britânicos — e 50 cães policiais — estarão na França nas próximas semanas, alguns dos quais se juntarão às patrulhas francesas em torno do centro de Paris.
"Prevemos que quase meio milhão de cidadãos do Reino Unido venham assistir aos Jogos. É a primeira vez que conseguimos enviar agentes para um grande evento [no exterior] desta forma", disse o Superintendente-Chefe Matt Lawler, chefe do Centro Nacional de Coordenação da Polícia.
Houve também cooperação militar direta entre a França e o Reino Unido em tecnologia anti-drone, especialmente durante a cerimônia de abertura.
As autoridades francesas dizem que não houve ameaças específicas contra os jogos, mas que estão preocupadas com o "terrorismo militarizado" — seja do exterior ou de dentro da França. Elas também estão focadas no risco de ataques cibernéticos que poderiam atingir sistemas de bilhetagem e outras infraestruturas.
Nos últimos meses, o governo manifestou uma irritação crescente diante do que acredita ser uma campanha online apoiada pelo Kremlin para suscitar receios exagerados sobre a segurança — e sobre a preparação francesa — para os Jogos Olímpicos.
"A interferência e a distorção de informação não estão sendo feitas apenas pela Rússia, mas também por outros países que estamos observando de perto. Não somos ingênuos. Esperamos que uma trégua olímpica seja observada…. por todos os países", disse Gerald Darmanin, ministro do Interior da França.
Na manhã de terça-feira (23/7), nos arredores de Paris, um esquadrão de elite da polícia francesa realizou mais um treinamento para uma situação com reféns a bordo de um veículo.
Em meio a tiros e fortes explosões, a unidade — a mesma que respondeu ao ataque contra a boate Bataclan 2015 — resgatou atores civis presos em um ônibus.
"Passamos mais de dois anos nos preparando para esses Jogos. Esperamos que não tenhamos que tomar nenhuma atitude", disse o comandante da unidade, Simon Riondet.