Como pode ser reação de Israel a mísseis iranianos — e o que Irã pode fazer em seguida?

Segundo as declarações feitas pelo próprio governo israelense, a resposta virá com força, avalia Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC.

2 out 2024 - 08h41
(atualizado às 18h09)
Benjamin Netanyahu afirmou que o Irã 'pagará' por lançamento de mísseis
Benjamin Netanyahu afirmou que o Irã 'pagará' por lançamento de mísseis
Foto: X / @netanyahu / BBC News Brasil

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Irã "cometeu um grande erro" com o lançamento de mísseis contra o território israelense na noite da terça-feira (1/10) e "pagará por isso".

Os bombardeios iranianos aconteceram em meio à escalada de tensões no Oriente Médio com os ataques de Israel contra o Hezbollah no Líbano.

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Netanyahu afirmou, após a divulgação pelas forças militares das informações sobre os disparos, que o governo iraniano não entende a "determinação" de seu país em retaliar contra seus inimigos.

"Eles entenderão", ele diz. "Nós manteremos a regra que estabelecemos: a quem quer que nos ataque, nós atacaremos".

A tensão entre Israel e Hezbollah já havia aumentado desde os ataques do grupo palestino Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.

Mas a situação piorou a partir de 17 de setembro desse ano, quando ocorreram explosões de pagers e walkie-talkies usados pelo Hezbollah no Líbano, matando mais de 30 pessoas e deixando mais de 2 mil feridos. Israel foi acusado pela ação, mas não negou nem confirmou a autoria.

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Segundo as forças israelenses, Israel foi alvo de cerca de 180 mísseis — a maioria deles interceptados. Nesta quarta-feira (2/10), o exército de Israel confirmou que oito soldados isralenses morreram na sua invasão terrestre no sul do Líbano.

Mas afinal, qual pode ser a escala de retaliação de Israel ao Irã?

A reação de Israel a mísseis iranianos

Segundo as declarações feitas pelo próprio governo israelense, a resposta virá com força, avalia Frank Gardner, correspondente de segurança da BBC.

A contenção que os aliados internacionais haviam pedido de Israel após o bombardeio iraniano anterior, em abril, provavelmente não estará em evidência desta vez, diz.

A estratégia de Israel , segundo Gardner, pode ser divida em três categorias:

Militar convencional - Um alvo inicial e óbvio seriam as bases de onde o Irã lançou os mísseis balísticos. Isso significa plataformas de lançamento, centros de comando e controle, tanques de reabastecimento e bunkers de armazenamento.

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Poderia ir além e atingir bases da IRGC, a Guarda Revolucionária iraniana, bem como defesas aéreas e outras baterias de mísseis. Também poderiam tentar assassinar indivíduos-chave envolvidos no programa de mísseis balísticos do Irã.

Econômico - Essa reação incluiria os ativos estatais mais vulneráveis do Irã, como suas usinas petroquímicas, de geração de energia e, possivelmente, seus interesses no setor naval. Contudo, essa seria uma medida profundamente impopular, já que prejudicaria muito mais a vida da população do que ataques ao setor militar.

Nuclear - Este é o ponto central para Israel. É um fato conhecido, estabelecido pelo órgão de vigilância nuclear da ONU, a AIEA, que o Irã está enriquecendo urânio muito além dos 20% necessários para energia nuclear de uso civil.

Israel e outros países suspeitam que o Irã esteja tentando atingir o "ponto de ruptura", no qual estaria a um passo de poder construir uma bomba nuclear.

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Entre os possíveis alvos de Israel estão Parchin, o epicentro do programa nuclear militar do Irã, reatores de pesquisa em Teerã, Bonab e Ramsar, além de grandes instalações em Bushehr, Natanz, Isfahan e Fordow.

Irã voltou a atacar Israel pela segunda vez este ano. Foto mostra mísseis sendo interceptados no céu da cidade de Ashkelon, em Israel
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Gardner explica que Israel se prepara há muito tempo, com respostas prontas para o caso de ataques ao Irã.

Agora, os oficiais responsáveis pela defesa do país avaliarão quando e com que força retaliarão.

Os alvos militares mais óbvios são as bases terrestres de onde foram lançados os mísseis balísticos de terça-feira.

Isso inclui não apenas os silos, mas os centros de comando e controle e até mesmo as instalações de reabastecimento, diz o correspondente da BBC.

Segundo ele, Israel poderia até mesmo tentar ativar sua rede de agentes dentro do Irã para ir atrás daqueles que ordenaram e executaram o ataque com mísseis.

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"Além disso, se Israel decidir escalar ainda mais, poderia mirar nas instalações nucleares do Irã", diz.

"De qualquer forma, um contra-ataque iraniano seria quase inevitável, com ambos os países perpetuando o atual ciclo de ataque e vingança."

Qual a capacidade de resposta do Irã?

O Irã não pode derrotar Israel militarmente, diz Garner. "Sua força aérea está obsoleta, suas defesas aéreas são frágeis e o país teve que lidar com anos de sanções ocidentais", afirma o correspondente da BBC.

Mas o país ainda possui uma grande quantidade de mísseis balísticos e outros tipos, além de drones explosivos e várias milícias aliadas em todo o Oriente Médio.

O próximo ataque de mísseis iranianos pode ter como alvo áreas residenciais israelenses, em vez de bases militares.

"O ataque de uma milícia apoiada pelo Irã às instalações petrolíferas da Arábia Saudita em 2019 demonstrou o quão vulneráveis seus vizinhos são a ataques", lembra Gardner.

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A Marinha da Guarda Revolucionária, que opera no Golfo, possui grandes frotas de pequenos barcos de ataque com mísseis rápidos que poderiam, potencialmente, sobrecarregar as defesas de um navio da 5ª Frota da Marinha dos EUA em um ataque em "enxame".

"Se receber ordens, também poderia semear minas no Estreito de Ormuz, interrompendo o fluxo de até 20% das exportações diárias de petróleo do mundo, o que teria um grande impacto na economia global."

E, além disso, há as bases militares dos EUA espalhadas pela costa árabe do Golfo, de Kuwait a Omã.

O Irã advertiu que, se for atacado, não retaliará apenas contra Israel, mas contra qualquer país que perceba como cúmplice.

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