A onda de violência que assusta o Equador entrou no segundo dia nesta quarta-feira, 10. Em um decreto na terça-feira, 9, o presidente Daniel Noboa reconheceu um "conflito armado interno" no país e identificou 22 gangues como organizações terroristas a serem buscadas pelos militares. Ao menos 70 pessoas foram presas até o momento.
Segundo a Polícia Nacional do Equador, em publicação na madrugada desta quarta, a ação contra "atos terroristas" resultou, até agora, além dos detidos, em 17 pessoas recapturadas, três policiais liberados e apreensões de armas de fogo, explosivos e veículos.
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Resultados operativos preliminares, obtenidos tras varias intervenciones ejecutadas a nivel nacional ante atentados y actos de terrorismo. #CompromisoInquebrantable pic.twitter.com/6ccgZ0ZWAC
— Policía Ecuador (@PoliciaEcuador) January 10, 2024
A crise no país começou na segunda-feira, 8, após a fuga da prisão do líder da gangue Los Choneros, Adolfo Macias, mais conhecido como "Fito" e violência nas prisões, incluindo sequestros de guardas por detentos.
No mesmo dia, Noboa, que assumiu o cargo de presidente em novembro prometendo conter a violência relacionada às drogas, declarou estado de emergência por 60 dias.
O governo disse que a violência é uma reação ao plano de Noboa de construir uma nova prisão de alta segurança e transferir líderes de gangues presos. "Eles criaram uma onda de violência para amedrontar a população", disse o almirante Jaime Vela, chefe do comando conjunto das Forças Armadas, acrescentando que o decreto tornou as gangues alvos militares.
As transferências de líderes de gangues para as prisões têm historicamente levado à violência, com centenas de presos mortos nos últimos anos. As guerras de gangues pelas lucrativas rotas de contrabando de cocaína também alimentaram a instabilidade.
O Peru declarou emergência ao longo de sua fronteira com o Equador, enquanto outras nações sul-americanas, Brasil, Colômbia e Chile, expressaram apoio ao governo de Noboa, e a China fechou sua embaixada e consulados até segunda ordem.
Invasão em TV
Na terça-feira, 9, homens armados com explosivos invadiram uma emissora de TV que estava no ar no Equador. A polícia prendeu os 13 homens que invadiram o estúdio da TC durante uma transmissão ao vivo, enquanto em outros lugares pelo menos sete policiais foram sequestrados e houve várias explosões.
"Graças a Deus, estamos vivos, porque foi um ataque extremamente violento", disse Jorge Rendon, vice-diretor do programa de notícias que foi interrompido.
A tomada do estúdio da TC em Guayaquil foi transmitida por cerca de 20 minutos. Homens usando balaclavas e, em sua maioria, vestidos de preto, empunhavam armas e abordaram os funcionários que se amontoavam no chão. Foram ouvidos tiros e gritos, e alguns dos invasores fizeram gestos para a câmera.
"Eles atiraram na perna de um dos nossos cinegrafistas e quebraram o braço de outro. Eles fizeram disparos", acrescentou Rendon. "A polícia chegou em minutos, cercou a estação de TV e as unidades táticas intervieram."
A TC, que transmite nacionalmente, compartilha um local com outra emissora pública, a Gamavision, e várias estações de rádio. O canal voltou ao ar para seu noticiário noturno, com âncoras dizendo que o gabinete do procurador-geral estava no local coletando provas. Dois funcionários ficaram feridos, segundo o canal.
Guardas penitenciários capturados
A agência penitenciária SNAI disse na terça-feira que um grupo de prisioneiros escapou de uma penitenciária em Riobamba, incluindo o acusado de pertencer a uma gangue, Fabricio Colon Pico, suspeito de um complô contra o procurador-geral. Dezessete dos 39 fugitivos foram recapturados, informou o gabinete do promotor.
Onze agentes penitenciários tomados como reféns nos últimos dois dias foram libertados, acrescentou o SNAI, mas 139 agentes e outros funcionários ainda estão detidos.
As autoridades de Guayaquil disseram que houve incidentes de "tomada de controle" em cinco hospitais, mas que a polícia e os soldados haviam restabelecido a ordem. Não ficou claro o que os incidentes envolveram.
Imagens de vídeo nas mídias sociais mostraram homens armados nas ruas, trânsito parado e um helicóptero sobrevoando Guayaquil. As lojas e escritórios fecharam mais cedo em Quito.
Alguns equatorianos estão questionando os esforços de Noboa para controlar a violência. Ele planeja um plebiscito este ano com foco na segurança. As mortes violentas aumentaram para 8.008 em 2023, quase o dobro do número de 2022.
(*Com informações da Reuters.)