Militares israelenses dizem que o ataque surpresa lançado pelo Hamas no sábado (7/10) pode ser comparado aos atos terroristas de 2001 contra os Estados Unidos.
"Este é o nosso 11 de setembro. Eles nos pegaram", admitiu um porta-voz das forças armadas do país, enquanto outro militar comparou os eventos recentes ao ataque de Pearl Harbor, realizado em 1941.
Israel ainda luta contra militantes palestinos em "sete a oito lugares" de seu próprio território.
Mais de 700 pessoas foram mortas em Israel desde que o Hamas lançou os ataques, incluindo 260 que participavam de um festival de música.
Em Gaza, 493 pessoas morreram depois de Israel ter lançado ataques aéreos em retaliação, segundo a Autoridade Palestina.
Israel diz que "a maioria" dos pontos de acesso de Gaza para Israel foram fechados, principalmente com tanques.
Mas os militares dizem que "não podem negar" que combatentes ainda possam estar chegando a Israel a partir de Gaza.
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O início do conflito
Nas primeiras horas do sábado (7/10), final do feriado judaico de Sucot, dezenas de homens armados do grupo palestino Hamas se infiltraram no sul de Israel a partir da Faixa de Gaza.
As invasões ocorreram por terra, por mar e por ar, com o auxílio de parapentes.
Também foram registrados disparos de milhares de foguetes vindos de Gaza, que é governada pelo Hamas.
Logo após os ataques, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, postou um vídeo nas redes sociais dizendo que o país estava "em guerra".
O ministro da Defesa de Israel disse que o Hamas "cometeu um grave erro e lançou uma guerra" contra eles mesmos.
"As tropas [israelenses] estão lutando contra o inimigo em todos os locais", acrescentou Yoav Gallant. "O Estado de Israel vencerá esta guerra."
Pouco depois, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse que o seu povo tem o direito de se defender contra o "terror dos colonos e das tropas de ocupação".
Retaliação e reféns
Em resposta à ação do Hamas, Israel fez uma série de ataques aéreos na Faixa de Gaza.
A resposta israelense deixou quase 500 mortos, segundo as últimas informações divulgadas por autoridades palestinas.
É possível que os militares israelenses realizem outras operações por terra em Gaza.
Um fator complicador para essas ações são os reféns. Segundo números divulgados pelas forças armadas de Israel, mais de 100 pessoas (civis e militares) foram capturadas por combatentes do Hamas e são mantidas em cativeiro.
O vice-chefe do gabinete político do Hamas, Saleh al-Arouri, afirmou que "oficiais de alta patente" do Exército de Israel estão entre as pessoas capturadas.
Ele disse ao canal Al Jazeera que "o que está em nossas mãos libertará todos os prisioneiros" em Israel — uma aparente referência a palestinos detidos em prisões israelenses.
"Há muitos palestinos mortos e muitos israelenses mortos, bem como prisioneiros, e a batalha ainda está no auge", disse al-Arouri.
O porta-voz também declarou que o Hamas está pronto para enfrentar uma incursão terrestre israelense em Gaza, que ele descreveu como "o melhor cenário para resolvermos o conflito contra o inimigo".
Além dos ataques aéreos em Gaza, os militares israelenses também tentam retomar o controle de áreas invadidas pelos combatentes palestinos.
Segundo as últimas estimativas, os combates se concentram em sete ou oito locais diferentes, todos próximos de Gaza.
Refugiados
As Nações Unidas afirmam que 123.538 pessoas foram deslocadas em Gaza, principalmente "devido ao medo, às preocupações com a proteção e à destruição das casas".
O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) acrescentou que 73 mil pessoas estão abrigadas em escolas.
Adnan Abu Hasna, porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), espera que os números aumentem.
"Há eletricidade nestas escolas e estamos fornecendo alimentação, água potável, apoio psicológico e tratamento médico", afirmou ele.
Existem 2,3 milhões de palestinos vivendo em Gaza. Antes de lançar os ataques aéreos de retaliação no sábado, Israel alertou as pessoas que viviam em certas áreas para deixarem suas casas.
"Digo ao povo de Gaza: saiam daí agora, porque estamos prestes a agir em todos os lugares com toda a nossa força", afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no sábado (7/10).
'Falha de inteligência'
Em entrevista ao programa Today, da BBC, o ex-chefe de um dos serviços de inteligência de Israel avaliou que as táticas do país "colapsaram totalmente" no sábado.
Danny Yatom, ex-chefe da agência de espionagem Mossad e político do Partido Trabalhista, de oposição, diz que "tudo deu errado" e "ninguém tinha a menor ideia" de que Hamas atacaria Israel a partir de Gaza.
Ele disse que a segunda camada de defesa de Israel foi insuficiente para impedir os ataques, lembrando como o país foi pego de surpresa quase 50 anos depois da Guerra do Yom Kippur.
"A quantidade de forças era muito pequena — e isso se deve principalmente ao fracasso da inteligência, que disse que 'embora tenhamos testemunhado muitos exercícios do Hamas, eles não têm qualquer intenção de [atacar Israel]'."
Frank Gardner, correspondente para assuntos de Segurança da BBC News, avalia que "os eventos revelam uma colossal falha de inteligência de Israel".
"O país possui uma das redes de inteligência mais extensas e sofisticadas do Oriente Médio. Israel mantém informantes em grupos militantes não apenas nos territórios palestinos, mas também no Líbano, na Síria e em outros locais."
"O Hamas conseguiu planejar e lançar este ataque cuidadosamente coordenado contra Israel, aparentemente em total sigilo", escreve Gardner.
Para Jeremy Bowen, editor de Internacional da BBC News, os últimos acontecimentos em Israel não tem precedentes nos mais de 15 anos desde que o Hamas ganhou controle sob a faixa de Gaza.
"O ataque ocorre depois de meses de violência e tensão crescente entre israelenses e palestinos, embora a maior parte dos conflitos esteja concentrada na Cisjordânia, que é o território ocupado por Israel desde 1967, que se estende entre Jerusalém e a fronteira com a Jordânia", escreve ele.
"A situação atual vai evoluir rapidamente e é provável que se agrave. Uma grande questão é o que acontece agora — não apenas nos arredores de Gaza — mas também em Jerusalém e na Cisjordânia, onde há meses se verifica uma violência cada vez mais profunda."
Reação internacional
Os líderes mundiais reagiram de diferentes maneiras ao ataque do Hamas e à retaliação de Israel:
Estados Unidos: o presidente Joe Biden afirmou que o apoio de seu país a Israel é "sólido e inabalável". Os EUA enviaram navios e aviões para a região e disseram que enviarão munições adicionais para Israel.
Reino Unido: o primeiro-ministro Rishi Sunak prometeu "apoio constante" a Benjamin Netanyahu. "Faremos tudo o que pudermos para ajudar. O terrorismo não prevalecerá", discursou ele.
Irã: o presidente Ebrahim Raisi disse que o Irã apoia o direito dos palestinos à autodefesa e alertou que Israel deve ser responsabilizado por colocar a região em perigo ao longo dos anos. O Hamas é apoiado pelo Irã.
Líbano: o Hezbollah, um poderoso grupo armado também apoiado pelo Irã, trocou tiros e foguetes com Israel no domingo. Isso suscitou receios de um conflito mais amplo entre Israel e os seus Estados oponentes.
China: Pequim apelou a ambos os lados para "cessarem fogo imediatamente". A mídia estatal reiterou a "solução de dois Estados", que inclui o estabelecimento de um Estado independente da Palestina.
Rússia: o Ministério das Relações Exteriores apelou a um "cessar-fogo imediato" e a negociações para "uma paz abrangente, duradoura e há muito esperada".
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar "chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas".
"Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas."
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou uma nota em que "condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza".
"O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, se observe deterioração grave e crescente da situação securitária entre Israel e Palestina. Na qualidade de Presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil convocará reunião de emergência do órgão."
"O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz", conclui o texto.
Na atualização mais recente sobre a situação dos brasileiros na região, o MRE informou que "a embaixada em Tel Aviv identificou, até o presente momento, três brasileiros desaparecidos e um ferido, todos binacionais, que participavam de festival de música no distrito sul de Israel, a menos de 20 km da Faixa de Gaza".
"O brasileiro ferido, também binacional, recebeu, hoje, alta do hospital e se encontra bem."
"A Embaixada em Tel Aviv colheu, até agora, por meio de formulário online, os dados de cerca de mil nacionais e seus dependentes, a maioria dos quais turistas, hospedados em Tel Aviv e Jerusalém", conclui a nota.