O ditador sírio Bashar al-Assad fugiu neste domingo, 8, após rebeldes da milícia jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tomarem as ruas da capital, Damasco, que culminou na derrubada de seu regime. Assad, que foi reeleito para seu quarto mandato em 2021, governava a Síria desde os anos 2000, herdando o regime de seu pai, Hafez Assad, conhecido pela mão de ferro sobre o país de 1971 até sua morte.
Em suas quase três décadas na presidência, Assad tornou-se um símbolo de repressão e do conflito que fragmentou a Síria. Prisões, torturas e assassinatos eram usados com frequência como forma de silenciar qualquer pessoa considerada dissidente diante do regime de Assad.
Os atos foram duramente reprimidos, e a violência escalou para uma guerra civil, com Assad utilizando força militar indiscriminada, incluindo o uso de armas químicas. Ele também se apoiou em alianças externas, como Rússia, Irã e o grupo Hezbollah, para resistir À insurgência fragmentada composta por rebeldes sírios, jihadistas e curdos. Como consequência, os desdobramentos da Primavera Árabe na Síria foram dos mais danosos para a população.
A guerra devastou a Síria, resultando em mais de 500 mil mortes, milhões de deslocados internos e refugiados, além de destruição massiva de infraestrutura. Muitos na comunidade internacional passaram a aceitar de má vontade seu papel contínuo como líder do país, mesmo depois que ele esmagou violentamente a oposição de seu país e usou armas químicas proibidas internacionalmente.
Desde o início da ofensiva surpresa em novembro, os rebeldes do grupo islamista radical Hayat Tahrir al Sham (HTS) deixaram claro que o objetivo era derrubar Assad, mas não está claro o que aconteceria se ele caísse.
Segunda opção para herdeiro
A família Assad, que comanda a Síria desde o golpe de 1970, é alauita, uma seita minoritária que é um desdobramento do islamismo xiita. A seita constitui cerca de 10% da população síria e tem desempenhado um papel dominante na política do país. desde a década de 1960.
Nascido em 11 de setembro de 1965, em Damasco, Bashar al-Assad, o terceiro filho da família, inicialmente não era a primeira opção de herdeiro político escolhido de seu pai. Ele estudou medicina em Damasco e se especializou em oftalmologia, passando parte de sua formação no Reino Unido.
Após a morte de seu irmão mais velho, Basil Assad, em um acidente automobilístico em 1994, Bashar foi chamado de volta à Síria para assumir o papel de sucessor. Ele entrou no Exército Sírio e foi preparado politicamente para suceder o pai. Hafez Assad, por sua vez, trabalhou para construir uma imagem pública favorável ao filho.
Hafez, um militar de longa data, governou o país por quase 30 anos, durante os quais estabeleceu uma economia centralizada ao estilo soviético e manteve um controle tão forte sobre a dissidência que os sírios tinham medo até de fazer piadas sobre política com os amigos.
Quando Hafez Assad morreu em junho de 2000, Bashar assumiu a presidência aos 34 anos, após o parlamento alterar a idade mínima para permitir sua posse. Ele prometeu reformas, mas manteve o mesmo estilo autoritário de seu pai. A ascensão de Bashar foi selada por um referendo nacional, no qual ele foi o único candidato.
A Guerra Civil Síria
Assad enfrentou o maior desafio de seu governo a partir de 2011, com os protestos de uma insurgência que se desdobrou para uma guerra civil em 2012. O conflito teve início quando manifestantes, inspirados pelos movimentos no Egito e na Tunísia, começaram a exigir reformas políticas e mais liberdade. As manifestações pacíficas foram rapidamente reprimidas pelas forças de segurança de Assad, e a violência se intensificou.
Em um cenário de crescente repressão, o país se dividiu entre aqueles que apoiavam o regime e uma série de grupos de oposição, que variavam de forças moderadas a extremistas jihadistas. O regime de Assad, com apoio da Rússia e do Irã, usou força militar indiscriminada, incluindo bombardeios aéreos, cercos e ataques a civis, para esmagar a resistência e recuperar o controle das cidades rebeldes.
Ao longo dos anos, o conflito foi se transformando em um jogo geopolítico com diversos interesses em disputa. O apoio internacional ao regime de Assad foi crucial para sua sobrevivência. A Rússia forneceu suporte militar direto, com ataques aéreos e o envio de tropas, enquanto o Irã e o Hezbollah ofereceram assistência em termos de forças terrestres e armas.
Por outro lado, grupos rebeldes receberam apoio de potências ocidentais e do Golfo Pérsico, enquanto a coalizão internacional liderada pelos EUA combatia o avanço de grupos extremistas, como o Estado Islâmico (ISIS). Essa complexidade de alianças e intervenções externas foi um fator importante na prolongação do conflito, que se arrasta até hoje.
Ao longo da guerra, Assad foi acusado de graves violações dos direitos humanos. O uso de armas químicas, como o ataque em Ghouta em 2013, foi um dos episódios mais impactantes, que gerou uma condenação global e um ataque de retaliação pelos Estados Unidos. Organizações como a ONU e a Anistia Internacional documentaram diversos casos de tortura, massacres e ataques indiscriminados contra civis, configurando o regime de Assad como responsável por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Apesar da gravidade do conflito, Assad conseguiu manter seu poder, principalmente devido ao apoio de seus aliados internacionais e ao fracasso da oposição em unir forças efetivas contra seu regime. Nos últimos anos, algumas nações árabes, como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, começaram a restabelecer laços diplomáticos com a Síria, sinalizando uma possível reintegração do país à Liga Árabe.