SHARM EL-SHEIKH - Criticado pela postura adotada ao longo dos últimos quatro anos em relação ao combate ao desmatamento no Brasil, o governo brasileiro deve destacar nesta terça-feira, 15, na plenária da COP-27, um tema diferente: a renovação da frota global de veículos. Em entrevista ao Broadcast/Estadão, o ministro de Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse que este será um dos principais temas de seu pronunciamento, previsto para a partir das 15 horas (10h pelo horário de Brasília).
"O Brasil vai propor aqui nas negociações climáticas o desafio de renovação de frota global, estamos sugerindo negociações (neste sentido). Financiamento de clima para hidrogênio verde e veículo 100% elétrico é para país rico, é só dar uma olhada no Cairo para ver a idade dos veículos", afirmou. "Os carros mais velhos da Europa estão na África e os dos Estados Unidos estão no México ou na América Latina. Política de meio ambiente seria para readequação dessa frota, não só olhar para veículos de última geração e de minúsculo acesso à maioria da população", continuou.
No Brasil, segundo Leite, cerca de 25 milhões de veículos leves têm mais de dez anos, de um total aproximado de 46 milhões que circulam pelo País. No caso dos caminhões, são 900 mil com mais de 30 anos, de um total de 2,4 milhões em circulação, diz ele.
Leite também deve chamar a atenção, nesta terça, para o que chama de "política racional de meio ambiente" do governo e os programas a ela ligados, envolvendo reciclagem, lixões, ferrovias e, principalmente, energias verdes, em parceria com a iniciativa privada. "Atingimos recorde de instalação de energia solar em quatro anos, equivalente a uma Itaipu, com incentivo federal.
Questionado sobre se tocaria no tema do desmatamento durante seu pronunciamento, o ministro do Meio Ambiente respondeu que falará sobre a estrutura coordenada pelo Ministério da Justiça, que abrange a contratação de 740 novos agentes ambientais, R$ 270 milhões investidos em equipamentos diversos e instalação de seis bases fixas pela Polícia Federal e Ministério da Justiça. As seis bases, contudo, foram instaladas nos últimos seis meses, segundo ele. "Quem coordena o combate ao crime é o Ministério da Justiça."
Sobre as críticas internacionais dirigidas ao governo do presidente Jair Bolsonaro referentes ao desmatamento na Amazônia, Leite reforçou que "há um desafio de eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2028?. "Além de aumentar o quadro de servidores, a forma de combater o desmatamento é integrando a infraestrutura, com comunicação, 5G já chegou na Amazônia, e a presença do Estado de forma mais clara na região", disse.
Leite também comentou sobre o fato de o Consórcio Interestadual Amazônia Legal, formado por governadores da região, estar presente na COP-27 em estande próprio - fato que gerou comentários na COP sobre divergências entre o governo federal e os estaduais. "Nosso estande é de energias mais verdes, o deles é mais ligado à floresta e aos desafios do consórcio. Sou parceiro do Consórcio desde o primeiro dia, primeiro como diretor, depois como secretário. A relação sempre foi boa e continua sendo boa", afirmou. "Essa COP era a das energias verdes brasileiras. Queríamos fazer uma comunicação do Brasil que pode se industrializar com a menor pegada de carbono do mundo."