O número de pessoas que morreram por causa da covid-19 no Reino Unido é quase o dobro do número que é anunciado todos os dias.
No dia 1º de maio, o número de mortes por coronavírus anunciadas pelo governo do Reino Unido era de pouco mais de 28 mil.
Olhando para os registros de mortes apresentados na época, o número é maior: pouco mais de 36 mil atestados de óbito relacionados à covid-19.
A medida preferida pelos estatísticos, contando todas as mortes acima do que seria esperado, foi ainda maior: mais de 50 mil.
Cada método responde a perguntas diferentes.
Por que não confiar nos dados diários do governo?
Todos os dias, o Departamento de Saúde e Assistência Social (DHSC, na sigla em inglês) informa o número de mortes por coronavírus que foram relatadas no Reino Unido.
Este é o gráfico lido na coletiva de imprensa diária e usado na maioria dos sites internacionais para comparação.
Mas isso inclui apenas mortes de pessoas que testam positivo para coronavírus.
Isso é bom para os cientistas que desejam monitorar os padrões de crescimento da epidemia com precisão: a taxa de aumento e o tempo que se passa no pico são medidas úteis, diz a professora Sylvia Richardson, presidente eleita da Royal Statistical Society, da Universidade de Cambridge.
Mas é uma medida ruim do número total de mortes porque ele descarta as pessoas que não foram testadas.
Quando os testes no Reino Unido eram feitos exclusivamente em hospitais, esses números diários não incluíam a maioria das mortes na comunidade.
Além disso, países diferentes usam definições diferentes.
Por exemplo, a Inglaterra excluiu as mortes fora dos hospitais de sua contagem diária até algumas semanas atrás. Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, não.
E a Bélgica inclui casos suspeitos de coronavírus em sua contagem diária, o que faz com que seus números pareçam extraordinariamente altos em comparação com outros países.
Isso dificulta a comparação precisa entre países, e os cientistas alertam contra a leitura excessiva de pequenas diferenças absolutas nessas estatísticas diárias.
Quando cada país conta de maneira diferente, os estatísticos recorrem a uma medida diferente — com uma definição mais simples.
Olhando para todas as mortes
Se você observar todas as mortes em um país, independentemente da causa, irá notar as mortes ignoradas pelos testes de laboratório, as mortes diagnosticadas erroneamente e aquelas causadas pela tensão que o vírus traz à nossa sociedade.
Obviamente, você verá os ataques cardíacos e acidentes de carro que poderiam ter acontecido de qualquer maneira.
Mas o número total de mortes registradas em uma semana normalmente segue um padrão previsível.
Ele dispara desde o final de março, ficando muito acima das semanas anteriores ou do que seria esperado nessa época do ano. Esse número caiu nas últimas semanas, mas ainda estamos vendo mais mortes do que seria esperado nesta época do ano.
E são essas mortes extras ou "excessivas", a diferença entre o número que normalmente vemos e o que estamos vendo no momento, que os estatísticos usam para observar o real impacto do coronavírus.
O que isso nos diz?
Com o excesso semanal durante as semanas da epidemia, essas mortes chegam a pouco mais de 50 mil até o dia 1º de maio, superior ao número de registros de óbitos que mencionam covid-19 ou à contagem diária do governo do Reino Unido.
Cerca de três quartos desse excesso podem ser explicados por mortes que mencionam a covid-19 no atestado de óbito — esse total foi de pouco mais de 36 mil.
Mas ainda existem quase 14 mil mortes, um aumento significativo, que pode ser de mortes não diagnosticadas, causadas diretamente ou indiretamente pelo coronavírus.
Isso fornece uma imagem mais clara do impacto total do vírus.
Também pode ser uma medida melhor para fazer comparações entre países porque não depende de quais mortes são contadas.
Fazendo comparações
Mas isso também "precisa ser colocado em perspectiva", diz o professor Richardson.
O Reino Unido divulga dados de mortes todas as semanas, mas esse não ocorre em todos os países.
Alguns publicam dados diariamente, outros mensalmente ou trimestralmente, dificultando a comparação a partir de um ponto de partida semelhante.
Os fatores que tornam o coronavírus mais perigoso também diferem entre os países.
É esperado ver mais mortes em excesso na Itália, onde a média de idade da população é de 47 anos, do que na Irlanda, onde é de 40 anos.
Isso é essencial para que os governos decidam as medidas que vão tomar contra o vírus: com que rapidez e força eles decretam o lockdown ou com que eficácia testam e rastreiam e colocam em quarentena os casos do vírus, e como o sistema de saúde lida com tudo isso.
Sem essa informação qualitativa extra sobre como essas medidas devem ser tomadas "é possível deixar passar coisas que seriam óbvias", adverte o professor Richardson.
"Você precisa entender o contexto social das medidas e como elas têm sido implementadas."
Apenas calculando quem foi mais atingido não diz por que eles foram os mais atingidos. E apenas informa como os países estão agora.
Não teremos uma imagem completa de quem teve a pior epidemia até que os países passem por ela.
Ainda haverá mortes causadas por novos picos ou pelos danos causados por lockdowns.
A falta de um número único no momento, que dê a imagem definitiva de quem foi o mais atingido ou quem está lidando melhor, não significa que devemos evitar todas as comparações.
Mas, diz o professor Richardson, "precisamos de vários números — e de alguma compreensão".
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Cuidados
A principal recomendação de profissionais de saúde que acompanham o surto é simples, porém bastante eficiente: lavar as mãos com sabão após usar o banheiro, sempre que chegar em casa ou antes de manipular alimentos.
O ideal é esfregar as mãos por algo entre 15 e 20 segundos para garantir que os vírus e bactérias serão eliminados.
Se estiver em um ambiente público, por exemplo, ou com grande aglomeração, não toque a boca, o nariz ou olhos sem antes ter antes lavado as mãos ou pelo menos limpá-las com álcool. O vírus é transmitido por via aérea, mas também pelo contato.
Também é importante manter o ambiente limpo, higienizando com soluções desinfetantes as superfícies como, por exemplo, móveis e telefones celulares.
Para limpar o celular, pode-se usar uma solução com mais ou menos metade de água e metade de álcool, além de um pano limpo.