A falta de produtos anestésicos está chegando a níveis preocupantes na Faixa de Gaza, alerta a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF). De acordo com a organização, muitos feridos, em sua maioria crianças e mulheres, estão passando por procedimentos cirúrgicos sem a sedação adequada, devido à escassez de medicamentos.
No início desta semana, Mohammed Obeid, cirurgião do MSF em Gaza, descreveu uma situação assustadora: "Os hospitais estão inundados de pacientes. Amputações e cirurgias estão sendo realizadas sem anestesia adequada, e os necrotérios estão inundados de corpos".
"Faltam narcóticos, faltam sedativos, faltam opióides. Fazemos muitas operações com meia dose de sedativo, o que é terrível", disse à agência de notícias AFP, Léo Cans, chefe da missão da MSF nos territórios palestinos, que trabalha em Jerusalém e está em contato com suas equipes em Gaza.
Um exemplo desses casos, segundo Cans, foi a operação de uma criança de apenas 10 anos.
"Teve que amputar metade do pé esquerdo sob semi-sedação, no chão do hospital, no corredor, porque todas as salas de cirurgia estavam lotadas", disse. "A mãe dela estava lá, a irmã dela estava lá. Elas estavam assistindo à operação (...) no chão".
Ainda de acordo com a ONG, em toda a Faixa de Gaza, o número de feridos que precisam de assistência médica urgente excede em muito a capacidade do sistema de saúde, que atualmente tem cerca de 3,5 mil leitos.
"Tantas vítimas em um espaço de tempo tão curto é algo inédito, mesmo em comparação com ofensivas israelenses de grande escala anteriores", pontuou a ONG.
A ONG pede um cessar fogo à guerra, que iniciou no início do mês. "Pessoas indefesas estão sendo submetidas a bombardeios terríveis. As famílias não têm para onde correr ou se esconder enquanto o inferno é lançado sobre elas. Precisamos de um cessar-fogo agora", diz Christos Christou, presidente internacional de MSF. "Água, alimentos, combustível, suprimentos médicos e a ajuda humanitária em Gaza precisam ser restaurados com urgência".