Parecia piada, mas pode se tornar realidade.
Durante a cerimônia de entrega dos prêmios do Globo de Ouro, realizada domingo à noite em Los Angeles, o anfitrião Seth Meyers fez uma brincadeira sobre a possibilidade de Oprah Winfrey - a apresentadora de TV mais famosa dos Estados Unidos - se candidatar à Presidência do país.
Pouco depois, na mesma cerimônia, Oprah subiu ao palco para receber o prêmio Cecil B. DeMille, em reconhecimento ao sucesso de sua carreira.
Ela fez um discurso em tom de reivindicação, e com um grande toque humano, em que tratou dos assédios e abusos sexuais ocorridos em Hollywood e enquadrou o tema em um contexto mais amplo - garantindo que se trata de um problema que transcende culturas, espaços geográficos, raças, religiões, posições políticas ou local de trabalho.
Oprah fez suas as bandeiras de iniciativas que têm surgido em torno do problema e disse que vislumbrava "um novo dia no horizonte" em que ninguém tivesse que dizer #MeToo, que em tradução literal significa "eu também" e se refere à hashtag que milhares de mulheres nos Estados Unidos têm usado para denunciar casos em que foram vítimas de assédio ou abuso sexual.
Seu discurso foi aplaudido de pé e incendiou as redes sociais, onde a ideia de sua possível candidatura presidencial obteve bastante apoio.
Na segunda-feira, a imprensa americana estava cheia de artigos e análises sobre as possibilidades de essa candidatura virar realidade em 2020 e, além disso, do que poderia transformar Oprah na próxima moradora da Casa Branca.
O jornal Washington Post, por exemplo, entrevistou vários especialistas eleitorais próximos tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata, e muitos deles veem um grande potencial em sua candidatura.
"Se ela realmente quisesse concorrer à Presidência, teria uma grande vantagem", disse à publicação Arnold Schwarzenegger, ator e ex-governador da Califórnia, que destacou a capacidade de Oprah para inspirar e suas incríveis habilidades de comunicação.
Muitos dos analistas destacaram a qualidade do discurso da apresentadora, sua condição de mulher massivamente influente e o alto nível de conhecimento que os eleitores americanos têm sobre ela.
Um porta-voz da Casa Branca disse, inclusive, que o governo de Donald Trump "dá as boas vindas" a uma possível candidatura de Oprah.
Apesar de ter negado várias vezes no passado que tenha aspirações políticas, a apresentadora estaria avaliandoa possibilidade de se candidatar à Presidência, disseram fontes próximas à ela, cujos nomes não foram divulgados, em entrevistas à imprensa americana.
A BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, listou seis coisas que você talvez não saiba sobre Oprah Winfrey.
1. Antes de se tornar multimilionária, foi muito pobre
Nascida em um pequeno povoado do Estado do Mississipi, filha de mãe solteira e pobre, Oprah foi criada por sua avó, que a vestia com roupas feitas de tecidos de sacos de batatas, o que lhe rendeu o apelido de "menina saco". Ela também tinha uma boneca feita de espiga de milho desidratada.
Sua sorte, entretanto, começaria a mudar no fim da adolescência, quando iniciou uma carreira profissional que decolou rapidamente no mundo da comunicação e a levou a criar seu próprio império de mídia, com um canal de TV a cabo - o Oprah Winfrey Network - uma bem-sucedida revista e uma empresa de produção cinematográfica.
Segundo o ranking Forbes de multimilionários, relativo a 2017, Winfrey é a mulher negra mais rica dos Estados Unidos, com uma fortuna estimada em US$ 3 bilhões (R$ 9,71 bilhões).
2. Foi vítima de abusos na infância
Ainda criança, Winfrey foi viver com a mãe na cidade de Milwaukee. Aos nove anos, acabou estuprada por um primo. E essa triste história não parou por aí. Outros parentes e amigos da família também abusaram sexualmente dela.
Sua adolescência também acabou sendo turbulenta. Aos 13 anos, foi enviada a um centro de detenção juvenil e aos 14 anos engravidou, mas perdeu o bebê em um parto prematuro.
3. Há uma lei que leva seu nome
Winfrey usou sua experiência pessoal como vítima de abusos como uma alavanca para impulsionar mudanças sociais.
Em 1991, já sendo uma apresentadora de TV bastante reconhecida, ela foi ao Senado de seu país prestar depoimento a um comitê que estudava a Lei Nacional de Proteção à Infância, em que se propunha a criação de uma base de dados com os nomes de todas as pessoas que tivessem sido condenadas no país por cometer abusos contra menores.
"Falo aqui em nome das crianças que desejam ser ouvidas, mas cujos gritos, desejos e esperanças acredito que, com frequência, caem em ouvidos surdos", disse ela na época.
Seu testemunho surtiu efeito, e dois anos depois o então presidente Bill Clinton assinou uma lei batizada como "Lei Oprah".
4. Sua carreira começou com uma brincadeira
Oprah mostrava ter ótimas aptidões para a comunicação desde muito pequena.
Conta-se que aos três anos de idade, ela entrevistava sua boneca e os corvos que paravam junto à cerca da casa de sua avó. Era tão boa oradora que lhe chamavam de "a pregadora" na Igreja que frequentava quando estava em idade escolar.
Essas habilidades de comunicação provavelmente cresceram quando, adolescente, foi viver com seu pai, Vernon Winfrey, que fazia a filha ler um livro por semana e escrever um resumo a respeito.
A partir daí a jovem experimentou uma reviravolta em sua vida, e se tornou uma excelente estudante.
Curiosamente, entretanto, sua carreira profissional não começaria graças às suas competências acadêmicas, mas sim a uma brincadeira.
Quando tinha 17 anos, Winfrey venceu um concurso de beleza (o "Miss Prevenção de Incêndios) e, por causa disso, foi a uma emissora de rádio em Nashville onde, de brincadeira, coube a ela narrar as notícias.
Ela cumpriu tão bem o papel que no mesmo dia lhe ofereceram seu primeiro emprego em um meio de comunicação.
5. Foi indicada duas vezes ao Oscar
Winfrey é majoritariamente conhecida por seu trabalho na TV. Seu programa matutino, o The Oprah Winfrey Show, recebeu mais de 20 indicações aos prêmios Emmy, vencendo em mais de uma dezena de ocasiões.
Mas ela também já concorreu ao Oscar.
Em 1985, foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por sua participação no filme A Cor Púrpura, enquanto em 2014 concorreu como produtora do filme Selma, que disputava a estatueta de Melhor Filme.
Ela recebeu um Oscar honorário em 2011, por seu trabalho humanitário.
6. Seu apoio foi fundamental para o triunfo de Obama
Winfrey tem sido incluída há muitos anos na lista anual das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista Time. Também integra a lista das 100 pessoas mais influentes do século 20.
Uma prova concreta do que significa sua capacidade de mobilização foi produzida em 2008, quando seu apoio foi fundamental para Barack Obama derrotar Hillary Clinton nas eleições primárias que escolheram o candidato do Partido Democrata.
De acordo com um estudo realizado pelos professores Craig Garthwaite e Tim Moore, do Departamento de Economia da Universidade de Maryland, o apoio de Oprah Winfrey somou aproximadamente um milhão de votos à candidatura de Obama, sem os quais Clinton teria conseguido vencê-lo.
Se em 2020 a candidatura dela se concretizar, veremos se o ex-presidente devolver o favor.
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