Uma farsa. Uma paródia da democracia. Uma forma de contornar a revolta contra o presidente. As eleições presidenciais que ocorrem nesta terça-feira, na Síria, têm sido classificadas de forma bastante negativa pela oposição, pela comunidade internacional e por cidadãos que esperam por mudança.
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Eles lamentam o fato de terem de considerar como certa a vitória do líder que está há 14 anos no poder.
Pela primeira vez em décadas, o país realiza eleições presidenciais com mais de um candidato. Porém, os dois únicos concorrentes de Assad, Maher Abdul-Hafiz Hajjar e Hassan Abdallah al-Nouri, são desconhecidos do público e não tiveram condições de realizar uma campanha que digna de disputar o voto do eleitorado, como a de Assad.
O pleito acontece em um cenário complicado, com o país devastado por uma guerra civil, que já dura mais de três anos, e marcado pela ausência de condições de locomoção, exercício da liberdade de expressão e democracia.
De acordo com a professora e diretora do Centro de Estudos Árabes da Universidade de São Paulo (USP), Arlene Clemesha, o contexto atual aponta para uma eleição que não é limpa, democrática ou legítima.
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“Essas eleições são uma tentativa de legitimar o governo de Assad, após um longo processo de guerra civil. É uma manobra para dar uma aparência de legitimidade a um governo que massacrou sua população”, explica Clemesha.
“Tudo indica que Assad vença, mas as eleições que ele ganhou anteriormente não foram livres, nem claras; o processo nunca foi democrático e transparente e não é hoje que vai ser”, acrescenta.
Agências de notícias e jornais estrangeiros veicularam que refugiados no Líbano foram mobilizados por grupos pró-Assad para votar no atual presidente – seu transporte até os locais de votação teriam sido, inclusive, pagos por esses grupos. Outros foram pressionados por representantes do governo a optar pelo atual presidente, nesta terça-feira, caso quisessem um dia regressar à Síria.
Odiado e adorado por seu povo, o rosto de Assad estampa cartazes e pinturas em muros de ruas de todo o país. Como pontua Clemesha, o atual líder tem sua parcela de apoio à população, ainda que seja difícil delimitar qual é.
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“Conservadorismo, temor de mudança, receio da oposição, que abriga radicais e terroristas – inclusive membros da Al-Qaeda – a crença de que a Síria precisa de um governo forte e de que o risco de abertura é muito grande por conta dos conflitos em Israel: há muitos motivos que não podemos menosprezar e ignorar, mas isso não muda o caráter do regime, que é autoritário”, explica Clemesha.
O governo aprovou uma lei eleitoral, pouco antes do plebiscito, que nega a possibilidade de candidatura de pessoas que tenham morado em algum momento dos últimos 10 anos em um país estrangeiro, minando a chance de opositores fervorosos do regime que estão há anos exilados.
O regime teria traçado uma linha entre o que é aceito como oposição tolerada e oposição de fato, tornando os membros deste segundo grupo inelegíveis, renegando-os como cidadãos e classificando-os como terroristas.
“Os concorrentes de Assad foram aceitos pelo regime, na tentativa de imprimir uma legitimidade ao pleito. Mesmo que houvesse uma possibilidade de vitória nas urnas, nada mudaria porque o sistema político está fechado”, destaca Clemesha.
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A vitória da oposição emperra também em outro ponto: a ausência de uma representação unificada: “Não há uma alternativa centralizada e esse é mais um dos motivos que leva as pessoas a buscarem estabilidade votando no Assad”, observa.
De fato, não se espera que o resultado seja outro senão a vitória de Bashar al-Assad, nem uma perspectiva de mudança em um futuro próximo: “As eleições não vão modificar nada, elas fazem parte de um quadro já estabelecido”.
Refugiados sírios exibem bandeiras do Exército Livre da Síria durante manifestação contra o pleito desta terça-feira, 3 de junho, em Trípoli, Líbano
Foto: Reuters
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Simpatizante do atual presidente sírio, Bashar al-Assad beija seu retrato próximo à ambaixada síria na capital do Iêmen, Saná, em 28 de maio
Foto: AFP
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Criança faz o símbolo da vitória embaixo de um retrato de Assad, no Iêmen, em 28 de maio
Foto: AFP
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Sírias que moram no Irã mostram seus passaportes enquanto votam para presidente na embaixada da Síria em Teerã, em 28 de maio
Foto: AP
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Mulheres sírias exibem a bandeira de seu país junto de uma foto do atual presidente e cadidato Bashar al-Assad, em Teerã, em 28 de maio
Foto: AP
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Sírios votam no Líbano, em 28 de maio
Foto: AP
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Eleitores que vivem em Beirute, no Líbano, caminham rumo à embaixada da Síria em Beirute para depositar seu voto, em 28 de maio
Foto: AP
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Bashar al-Assad disputa a presidência com os candidatos Maher Abdul-Hafiz Hajjar e Hassan Abdallah al-Nouri (da esquerda parava direita), em 28 de maio
Foto: AP
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Cartazes de Bashar al-Assad são vistos por toda parte em ruas da cidade de Latakia, em 24 de maio
Foto: AP
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Um homem tira uma foto de seu amigo na frente de um cartaz do presidente da Síria, Bashar al-Assad, na Praça Umayyad, em Damasco em 16 de maio
Foto: AP
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Cartazes dos candidatos da oposição, Maher Abdul-Hafiz Hajjar (à direita) e Hassan Abdallah al-Nouri decoram ruas da capital, Damasco, em 12 de maio
Foto: Reuters
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O governador de Aleppo, Mohammed Wahid Akkad, lança o seu voto na frente de uma delegação do Parlamento nas eleições presidenciais do país, nesta terça-feira; os sírios votam em eleições que podem terminar em uma vitória esmagadora do presidente Bashar al-Assad, no meio de uma devastadora guerra civil
Foto: Reuters
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As pessoas votam em eleição presidencial perto de retratos dos candidatos, incluindo o presidente da Síria, Bashar al-Assad em al-Othman, Damasco
Foto: Reuters
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Clérigos muçulmanos e cristãos se reúnem dentro de uma tenda para expressar sua solidariedade ao presidente da Síria, Bashar al-Assad, perto de um posto de votação em al-Othman, Damasco nesta terça-feira
Foto: Reuters
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Partidários do presidente da Síria, Bashar al-Assa, acenam bandeiras nacionais na frente do prédio da Federação Geral dos Sindicatos, durante a eleição presidencial em Damasco; Assad deve ter vitória esmagadora
Foto: Reuters
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Pessoas fazem fila para depositar seus votos na eleição presidencial ao lado de retratos dos 3 candidatos, incluindo o atual presidente da Síria, Bashar al-Assad, em hotel de Damasco
Foto: Reuters
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Pessoas votam em um posto de de Damasco nesta terça-feira; sírios esperam vitória esmagadora de presidente Bashar al-Assad, em meio a guerra civil que já matou mais de 160 mil pessoas
Foto: Reuters
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Presidente Assad foi votar acompanhado da mulher, Asma, no centro de Damasco nesta terça-feira; ele deve ser o grande vitorioso
Foto: AP
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Sírios votam na fronteira sírio-libanesa de Jdaydet Yabous, em 3 de junho
Foto: Reuters
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Candidato à presidência da Síria, Maher Hajjar lança o seu voto no centro de votação, em Damasco, em 3 de junho
Foto: Reuters
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Pessoas votam perto de retratos dos candidatos à presidência, incluindo o atual presidente, Bashar al-Assad (ao centro), em um centro de votação em Damasco, em 3 de junho
Foto: Reuters
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Candidato à presidência da Síria Hassan al-Nouri, acompanhado de sua esposa Hazar, deposita seu voto no centro de votação em Damasco