Eleitores aguardam para votar em assentamento judaico na Cisjordânia
A questão palestina, ao contrário do que pode parecer para a comunidade internacional, não é o principal assunto das eleições que ocorrem nesta terça-feira em Israel.
O atual primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, até se esforçou para trazer o assunto para o centro da pauta eleitoral. Na segunda-feira, por exemplo, ele rejeitou a criação de um Estado Palestino caso seja reeleito.
Mas foi a economia que dominou a campanha eleitoral - e ela parece ser também o fator que poderá determinar uma eventual derrota do partido Likud, de Netanyahu.
A União Sionista, aliança oposicionista de centro-esquerda que lidera as pesquisas, focou sua campanha na desaceleração da economia - que deve crescer cerca de 3% neste ano - e o custo da habitação. O preço das moradias subiu mais de 50% desde 2008, de acordo com a mídia local.
Outra questão proeminente foi o que os cientistas políticos chamam de "baixa taxa de participação" das comunidades ultraortodoxas na economia e no Exército.
Netanyahu não vai necessariamente sair do governo se seu partido não conseguir maioria. A expectativa é que uma coalizão seja formada, já que a União Sionista também não deve obter cadeiras suficientes para governar sozinha.
O atual primeiro-ministro pode ficar em segundo lugar e ainda ser convidado para formar o próximo governo se o presidente israelense, Reuven Rivlin, decidir assim, depois de consultar outros líderes partidários.
Sem urgência
Yaakov Peri é ex-chefe da agência de segurança interna de Israel, o Shin Bet - um trabalho que exigia que ele refletisse profundamente sobre o relacionamento do seu país com a sociedade palestina, já que ele era responsável por neutralizar a ameaça de grupos militantes.
Antes da queda da última coalizão, ele era Ministro da Ciência e Tecnologia. Agora, é candidato ao Parlamento mais uma vez na lista do partido centrista Yesh Atid.
"O público israelense se importa com o custo de vida e habitação. A rua não sente urgência de um acordo com os palestinos", disse.
Já os três partidos árabes tradicionais, que fizeram uma união histórica e uma lista unificada na esperança de aumentar suas chances, veem uma forte conexão entre a economia e as políticas de segurança.
Se eles forem bem-sucedidos, segundo Aida Touma Suleiman, uma das candidatas, eles pretendem colocar o processo de paz de volta à agenda.
Palestinos que vivem na Faixa de Gaza e na Cisjordânia não votam, mas alguns poucos moradores de Jerusalém conseguiram cidadania israelense. Além disso, a população árabe de Israel, descendente daqueles que viviam no país antes da guerra entre Israel e Palestina em 1948, vota.
"Este (o processo de paz) deveria ser o centro da campanha", disse Suleiman. "Não há nenhuma questão que você possa discutir sem fazer uma conexão com a continuação da ocupação e da guerra política que diferentes governos mantém nos últimos anos."
"Se você quer falar sobre habitação, você precisa de soluções que vêm com recursos. E você deve se perguntar onde estão os recursos neste país", afirma.
Analistas apontam ainda outros reflexos da disputa Israel-Palestina na economia, como o boicote de algumas empresas a Israel e o alto investimento em defesa, em detrimento de habitação e outras questões internas.
Mas, ao longo da campanha, essas conexões não estiveram no centro da campanha.
Os eleitores sabem que a perspectiva de diálogo entre a União Sionista - a aliança entre o Partido Trabalhista de Yitzhak Herzog e movimento Hatnuah, de Tzipi Livni - com a Autoridade Palestina sobre um acordo seria mais provável do que com Netanyahu.
A visão do atual primeiro-ministro parece ser que, em um Oriente Médio instável, onde o Iraque e a Síria estão se desintegrando, um Estado palestino recém-criado poderia rapidamente tornar-se um território sem governo dirigido por extremistas islâmicos.
Oposicionistas podem ver nisso uma desculpa para evitar um acordo com o qual ele já não tinha muito entusiasmo. Mas parte do apelo de Netanyahu com seus eleitores é o discurso de que ele é cauteloso em tais assuntos - uma mão estável sobre questões que afetam a segurança de Israel.