A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos semeou euforia entre os apoiadores do líder da direita brasileira, Jair Bolsonaro, que veem agora aumentar a margem para uma anistia ao antigo chefe de Estado e uma candidatura presidencial em 2026.
Além disso, é compreensível a preocupação do governo progressista de Luiz Inácio Lula da Silva, que também teme um desengajamento dos EUA contra as mudanças climáticos, o desmatamento na Amazônia e o combate à fome e à pobreza, a partir da cúpula dos líderes do G20 no Rio de Janeiro, em duas semanas.
Bolsonaro, grande aliado de Trump no quadrante latino das Américas, e com passado político semelhante ao do soberanista, foi um dos primeiros a brindar o sucesso junto com o presidente argentino ultraliberal, Javier Milei, e o salvadorenho, Nayb Bukele.
De acordo com o conservador, o resultado "contra tudo e contra todos" "marca o renascimento de um verdadeiro guerreiro", depois de "uma perseguição judicial injustificável" - uma escolha semântica não aleatória - como aquela de que foi alvo o próprio Bolsonaro, que relatou repetidamente ter sido uma vítima.
Segundo rumores apurados pelo jornal "Folha de São Paulo", porém, a comitiva do ex-presidente brasileiro de direita está convencida de que, com a chegada de Trump, um retorno é iminente, e que os efeitos também serão sentidos no Supremo Tribunal Federal (STF), o último a ter voz no caso de anistia, após a decisão que tornou Bolsonaro inelegível até 2030.
O que preocupa os magistrados e o governo em particular é Elon Musk, definido por Trump como "a nova estrela". O magnata sul-africano, que no Brasil nos últimos meses teve sua plataforma X bloqueada, crítico de Lula e "arqui-inimigo" do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, pode estar caminhando para um confronto difícil. E as especulações sobre possíveis represálias do dono da Tesla incluem até a proposta de sanções econômicas contra Brasília.
O que está claro, porém, é que a nova configuração política dos EUA tem todo o peso necessário para contribuir para o aval para uma anistia a Bolsonaro no Congresso brasileiro, onde o governo não tem os números. E o STF, sob pressão, não poderá impedir a sua entrada em vigor em 2026, permitindo ao líder da direita de concorrer à presidência.
Lula, que nos últimos dias apoiou Kamala Harris, tentou fazer "cara boa em uma situação ruim". Ao felicitar Trump, o progressista lembrou que "a democracia é a voz do povo e deve ser sempre respeitada". Mas o clima no executivo surgiu inteiramente das palavras do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que falou de um "dia que começou cheio de tensão".
Há muitas questões no país que estão no centro das especulações - com o dólar disparando - e a necessidade de encontrar a solução certa para uma revisão incisiva dos gastos para 2025.
Entre os temores está que as consequências da eleição de Trump já possam ser sentidas na cúpula dos líderes do G20, onde Lula trará seus "cavalos de guerra", a começar pelo combate à fome e à pobreza, mas também pelo compromisso contra as mudanças climáticas e contra o desmatamento na Amazônia. Todas questões para as quais o presidente eleito dos EUA - como Bolsonaro - já demonstrou não ter grande sensibilidade. .