"Eles torturavam todos", diz colega de prisão de James Foley
Fotógrafo sírio Omar Alkhani esteve dois meses nas mãos do "Estado Islâmico", junto com o jornalista americano decapitado. Em entrevista à DW, ele relata o período em que esteve nas mãos dos fundamentalistas
Desde que o grupo fundamentalista "Estado Islâmico" (EI) assumiu o controle do norte do Iraque, terror e morte dominam a região e ameaçam se alastrar a outras áreas do Oriente Médio. Os Estados Unidos já intervêm militarmente, apoiando as forças do governo iraquiano, e no fim da última semana a União Europeia aprovou o envio de armas.
Com a decapitação do jornalista americano James Foley pelos terroristas, em declarada represália à intervenção ocidental, a indignação internacional atingiu um novo pico. Foley fora sequestrado em novembro de 2012 na Síria. O presidente dos EUA, Barack Obama prometeu fazer tudo para encontrar os responsáveis pelo assassinato.
A DW entrevistou o fotógrafo Omar Alkhani, que durante dois meses esteve como refém do "Estado Islâmico" na mesma prisão que Foley. Nascido em 1982 em Damasco, Alkhani trabalha como freelancer. Sua esposa, uma americana, continua em mãos dos sequestradores.
Deutsche Welle: Como ocorreu o seu sequestro?
Omar Alkhani:
Eu estava em Aleppo, fotografando para documentar a situação humanitária na cidade. Então um grupo de pessoas armadas chegou num automóvel grande e me levou para uma das prisões delas.
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Quem mais estava com você na prisão?
Eram membros do Exército Livre Sírio e alguns civis, todos da mesma cidade.
Como você foi tratado?
Nos primeiros dez a 14 dias, fui muito mal tratado. Eles me torturaram. Eles torturavam todo mundo. Eles diziam: "Você é um espião, você trabalha com jornalistas", ou "você fotografa para dizer ao mundo todo como o 'Estado Islâmico' é ruim".
Como foi libertado?
Depois de dois meses, eles me mandaram vendar os olhos com alguma coisa. Aí me colocaram no carro, andaram duas horas e me jogaram na rua.
Você teve contato com James Foley?
Não me encontrei pessoalmente com James Foley, ele estava na cela ao lado. Eu escutei a voz dele, escutei como ele falava com seus amigos todo dia.
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Qual foi a última vez que você viu James Foley?
Foi ano passado, na noite de Natal. Aí eles o levaram para outra prisão.
O que pode contar sobre as condições sob as quais ficou preso?
Eu fiquei dois meses na mesma prisão que James e os amigos dele. Deixe primeiro eu contar um pouco sobre Jim. Ele era uma pessoa muito gentil, com os amigos e até mesmo com os guardas da prisão. Ele ria o tempo todo, fazia sempre piadas que faziam todos rir. Na época não haviam feito nada de ruim com ele nem conosco. Assim eu me lembro do tempo com Jim. Não sei como era em outras prisões, pois ele foi levado para outra prisão, enquanto eu fiquei lá.
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James Foley era americano e tinha 40 anos. Repórter experiente, cobriu o conflito na Líbia, antes de viajar para a Síria, onde trabalhou na revolta contra o regime de Bashar al-Assad para o site de informações americano GlobalPost, para a Agência France-Presse (AFP) e outros meios de comunicação. O jornalismo era para ele uma segunda carreira, uma vez que se inscreveu na Escola de Jornalismo da Northwestern University, aos 35 anos. Anteriormente, ele foi professor e ensinou detentos a ler e escrever em várias prisões
Foto: Facebook/Find James Foley
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O vídeo intitulado "Mensagem aos Estados Unidos", difundido na terça-feira na internet, o EI mostra um homem encapuzado e vestido de negro que, com uma faca, degola o jornalista americano James Foley, desaparecido desde 2012. As imagens foram declaradas como verdadeiras pela Casa Branca e os próprios pais de Foley disseram acreditar na veracidade do vídeo que foi lançado nas redes sociais pelos extremistas
Foto: Reuters
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No vídeo de seu assassinato, James passa uma mensagem à família e relaciona sua iminente morte ao recente bombardeio americano no Iraque para combater o EI no norte do país. Evidentemente coagido, ele diz: "Peço aos meus amigos, família e amados que se manifestem contra os meus verdadeiros assassinos, o governo dos EUA, porque o que irá acontecer comigo é somente o resultado da complacência e da criminalidade deles"
Foto: Facebook/Find James Foley
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Em sua conta de Twitter, desatualizada desde 2012, quando foi sequestrado pelos extremistas islâmicos na Síria, Foley diz reporto do Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria. Um monte de perguntas, nenhuma resposta
Foto: Facebook/Find James Foley
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A mãe e o irmão de James durante uma entrevista a um canal de TV americano, 2012 (foto). Após as imagens divulgadas na internet do filho sendo decapitado, Diane Foley escreveu uma mensagem nas redes sociais dizendo ser muito orgulhosa de 'Jim'. "Ele percebeu que as histórias que ele queria contar eram as verdadeiras histórias, sobre a vida das pessoas, e ele via o jornalismo como uma maneira de dizer o que realmente acontece no mundo", contou em uma entrevista ao Columbia Journalism Review
Foto: Facebook/Find James Foley
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A mãe do jornalista também pediu que os militantes libertem os outros reféns. "Como Jim, eles são inocentes. Eles não têm controle sobre a política do governo americano no Iraque, na Síria ou em qualquer lugar no mundo", escreveu
Foto: Facebook/Find James Foley
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O pai do jornalista, John, também declarou que, antes de sua fatídica viagem para a Síria, "Jim tinha dito que havia encontrado sua paixão"
Foto: Facebook/Find James Foley
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Foley trabalhou em todo o Oriente Médio, a serviço da publicação americana Global Post e outras empresas, como a agência de notícias francesa AFP
Foto: Facebook/Find James Foley
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Ele cobriu a guerra na Líbia, quando ficou detido por mais de 40 dias. "Sou atraído pelo drama do conflito e por tentar expor estas histórias desconhecidas", disse ele à BBC em 2012
Foto: Facebook/Find James Foley
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"Há violência extrema, mas há uma vontade de saber quem estas pessoas realmente são. E creio que isto é o que é realmente inspirador", disse Foley em uma entrevista antes de ser sequestrado, em novembro de 2012
Foto: Facebook/Find James Foley
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, expressou revolta com a decapitação de Foley por militantes islâmicos e prometeu que seu país irá fazer o que precisar para 'proteger seus cidadãos'
Foto: Reuters
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O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, repudiou o assassinato horripilante do jornalista James Foley, um crime abominável que ressalta a campanha de terror que o Estado Islâmico continua a levar adiante contra os povos do Iraque e da Síria
Foto: AFP
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