Com a campanha eleitoral para o governo da Itália em andamento, dois dos principais expoentes políticos do país, os ex-primeiros-ministros Silvio Berlusconi e Matteo Renzi trocaram acusações públicas sobre a reforma trabalhista nesta quarta-feira (10).
"Sei que a campanha eleitoral faz com que os adversários mudem sua maneira de comunicar, com coisas estúpidas que não valem a pena comentar. Na realidade, é a esquerda que deixou uma herança de desemprego em alta, não sei como podem acusar meus governos", disse Berlusconi à rádio "Anch'io", acrescentando que, se vencer, vai acabar com a reforma trabalhista "Jobs Act".
A reforma foi aprovada durante o governo de Renzi, em 2015, justamente, para flexibilizar as questões trabalhistas para as empresas. Segundo o líder do partido Força Itália, "os dados sobre o desemprego juvenil", que estão em queda acelerada segundo o Istat divulgou em pesquisa ontem (9), "atingem, sobretudo, os contratos com prazo definido".
"Conosco no governo, cortaremos o 'Jobs Act' que deu impulso apenas para os trabalhos de curto prazo", ressaltou o secretário-geral do Partido Democrático.
Assim que foi veiculada a entrevista, Renzi respondeu ao ex-Cavaliere e ironizou a situação em entrevista à "Radio Capital".
"O nordeste [da Itália] deve estar contente, o mundo produtivo... queria ver o que pensam os empresários de voltar ao trabalho do passado", ironizou.
Depois, Renzi negou que tenha dito que o líder do Força Itália tenha deixado como herança o desemprego no país.
"Me pergunto como Berlusconi pode negar a realidade dos fatos. Por anos, escrevemos que isso é perigoso para a democracia. Eu nunca disse isso. Mas, quando entramos no mundo dos resultados, vemos como isso provoca crises bizarras", disse ainda Renzi.
Após a repercussão negativa da fala do ex-primeiro-ministro, o FI emitiu uma nota esclarecendo que "as palavras do presidente Berlusconi sobre o Jobs Act foram parcialmente mal interpretadas".
Segundo a sigla, ele quis dizer que o "Jobs Act faliu parcialmente porque não induziu que as empresas criassem empregos estáveis, mas muitos empregos precários".
"De qualquer maneira, é uma norma que está causando seus efeitos. Quando estivermos no governo, não voltaremos, naturalmente, ao regime anterior, mas introduziremos instrumentos mais eficazes do Jobs Act para corrigir os efeitos de distorção e incentivar as empresas a criar empregos estáveis", conclui a nota.
Vacinas
Outra polêmica desta quarta-feira foi uma declaração de Matteo Salvini, líder da sigla ultranacionalista Liga Norte (que está na coalizão de Berlusconi junto ao Fratelli d'Italia), em que ele afirma que vai cancelar a obrigatoriedade de vacinação das crianças em idade escolar.
No ano passado, por conta do surto de doenças consideradas controladas, o governo italiano aprovou uma lei em que obriga que crianças até 12 anos sejam vacinadas e que comprovem a vacinação para poder se matricular nas escolas. A lei ficou conhecida com o nome de sua autora, a ministra da Saúde, Beatrice Lorenzin.
"Cancelaremos a norma Lorenzin. Vacinas sim, obrigação não", escreveu em sua conta no Twitter.
Renzi, então, usou a mesma rede social para criticar a notícia e alfinetar Berlusconi. "Berlusconi volta atrás sobre o trabalho.
Salvini volta atrás sobre as vacinas. A direita italiana de hoje é essa aqui. Nós queremos andar adiante. Pela Itália, sem medo", escreveu.
Lorenzin também aproveitou a oportunidade para se manifestar e disse que a "Itália está vacinada contra os incompetentes".
"A posição de Salvini e de outros expoentes da Liga que hoje declaram que a primeira medida abolir a obrigatoriedade das vacinas é igual àquela do Movimento Cinco Estrelas. A Liga joga, para ter qualquer voto a mais, sobre a saúde dos italianos, sobre a saúde dos nossos filhos", disse a ministra.
Disputa nacional
Atualmente, o cenário eleitoral para as eleições de 4 de março é incerto. O M5S, partido que se considera antissistema, aparece na liderança, com 28,2%, seguido pelo governista Partido Democrático, de centro-esquerda, com 24,1%. Já o FI de Berlusconi tem 14,8% e o Liga Norte tem 13,6%.
Lombardia
Além das eleições legislativas, o dia 4 de março também será marcado pelas votações regionais no Lazio e na Lombardia. Nesta última, a coalizão de direita - FI, Liga e Fratelli d'Italia - foi surpreendida com o anúncio de que o atual governador Roberto Maroni, da Liga, não iria disputar sua reeleição.
Para seu lugar, foi anunciado Attilio Fontana. "Eu gostei muito e estou muito orgulhoso de fazer essa batalha", disse o candidato de centro-direita.