O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira, 24, que os países que dão sustentação ao discurso do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, precisam fazer esforço maior para acabar com o que chamou de genocídio em Gaza.
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Em entrevista coletiva após sua participação na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) esta semana em Nova York (EUA), Lula disse que condena de forma veemente o comportamento do governo de Israel. "Eu condeno de forma veemente esse comportamento do governo de Israel e tenho certeza que a maioria do povo de Israel não concorda com esse genocídio", disse o petista.
Na coletiva, Lula também afirmou que Netanyahu está "condenado da mesma forma" que o presidente da Rússia, Vladimir Putin. "Várias tentativas de paz e de cessar-fogo foram aprovadas e não foram cumpridas, por isso que estamos nesta briga de fortalecer a ONU como um instrumento que tem a força de tomar decisão. Os países que dão sustentação aos discursos de Netanyahu precisam começar a fazer um esforço maior para que esse genocídio pare".
Encontro com Autoridade Palestina
Ainda nesta quarta-feira, o brasileiro encontrou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na sede da ONU, em Nova York, e defendeu um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. "É a primeira vez que eles participam da Assembleia-Geral da ONU. Manifestei minha solidariedade pelo sofrimento de mulheres e crianças palestinas com a violência e a necessidade de um cessar-fogo imediato", escreveu Lula, em seu perfil em uma rede social.
Lula declarou que a ONU "não tem coragem" de criar o Estado da Palestina, lembrando que na sua fundação teve força para criar o Estado de Israel.
Segundo assessores do presidente, o contato entre Lula e Abbas foi "rápido, mas caloroso" e ocorreu durante a reunião bilateral do brasileiro com o presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo.
Mahmoud Abbas, de 88 anos, é líder da Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia. Seu partido, o Fatah, foi expulso da Faixa de Gaza em 2007 após uma guerra civil com o Hamas, que venceu as eleições daquele ano e desde então governa o enclave.
Criticas do presidente da Ucrânia
Lula ainda respondeu aos questionamentos do presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, em relação ao interesse brasileiro em costurar uma fórmula de paz ao lado da China para acabar com a guerra no Leste Europeu. Lula defendeu uma solução "diplomática" e não militar para o conflito.
"Se os dois países não quiserem conversar não tem diálogo, mas nós estamos à disposição junto com a China para conversar", apontou Lula.
O presidente brasileiro também apontou que Zelensky fez a sua "obrigação" ao falar que defende a soberania de seu país. "Se ele fosse esperto ele diria que a solução é diplomática e não militar".
Durante o seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, Zelensky apontou que a Rússia está tentando ressuscitar um passado colonial e países como Brasil e China deveriam reconhecer isso ao invés de "tentar aumentar a sua própria influência global às custas da Ucrânia". O líder ucraniano rejeitou a proposta brasileira e disse que qualquer fórmula que aponte que Kiev precise ceder cerca de 20% do seu território para acabar com a guerra é inaceitável.
"Este tipo de proposta ignora o sofrimento da Ucrânia, ignora a realidade e dá a Vladimir Putin o espaço político para continuar com a guerra", afirmou o presidente ucraniano.
Reforma da ONU
Em Nova York, Lula também afirmou que o Brasil considera apresentar uma proposta de convocação de uma conferência para a revisão da carta da Organização das Nações Unidas (ONU). O anúncio foi feito durante a segunda reunião de ministros de relações exteriores no G20 Brasil, que acontece de maneira inédita na sede da ONU, nos Estados Unidos.
"Cada país pode ter a sua visão sobre o conjunto de reformas da governança global, mas precisamos todos concordar com o fato de que a reforma é fundamental e urgente", avaliou. Segundo ele, o Brasil mantém firme a sua posição histórica: "A ONU deve estar sempre no centro da governança global".
"A Organização passa por uma crise de confiança, que precisa ser restabelecida", disse, acrescentando que a ONU e o secretário-geral, cargo ocupado por António Guterres, devem voltar a ocupar "posição central" no debate sobre questões econômicas e financeiras globais.
Lula avaliou que o "Pacto para o Futuro" representa um passo importante nessa direção, mas defendeu a necessidade de transformações estruturais. "Criticar sem agir é um exercício estéril. Mas admitir que há fissuras a serem reparadas é o primeiro passo para fazer algo melhor", concluiu.
Lula destacou que o Brasil trouxe para o debate climático atores como bancos centrais e bancos públicos de desenvolvimento, para garantir uma transição justa. "O G20 é responsável por 80% das emissões globais de gases de efeito estufa. Sua liderança na missão de conter o aquecimento a um grau e meio fará a diferença para todo o planeta", afirmou. (*Com informações de Reuters, Ansa e Estadão Conteúdo)