A presidente da Argentina, Cristina Kichner, surpreendeu o mundo político ao se afastar temporariamente do cargo para tratamento médico. Nesta terça-feira, ela deverá se submeter a uma cirurgia para cuidar de um hematoma no crânio.
Os problemas de saúde de Cristina vieram à tona no sábado, quando o governo informou que ela ficaria afastada por um mês, em repouso, para tratar de um hematoma subdural crônico. Em seu lugar assume o vice, Amado Boudou.
No domingo, no entanto, a presidente sentiu um "formigamento no braço esquerdo", o que, segundo uma nota oficial, fez os médicos reverem seu tratamento. Nesta segunda-feira, o governo comunicou que a presidente se submeterá a uma cirurgia.
Vários líderes regionais manifestaram solidariedade a Cristina. A presidente Dilma Rousseff disse em sua conta de Twitter que a colega argentina é sua "amiga e amiga do Brasil".
O que Cristina Kirchner tem?
Segundo comunicado da Casa Rosada, Cristina sofre um "hematoma subdural crônico". O diagnóstico foi divulgado após uma consulta médica de rotina no Hospital Universitário da Fundação Favaloro, em Buenos Aires.
Uma forte dor de cabeça levou os médicos a submeter a presidente a uma tomografia computadorizada, quando se teria descoberto o problema.
Segundo o porta-voz da presidência, Cristina sofreu uma queda em agosto, o que poderia ter motivado o quadro. Não foram divulgados, no entanto, detalhes sobre o incidente.
A imprensa local chegou a especular que Cristina teria caído da escada do avião presidencial e batido a cabeça.
Os veículos mais críticos ao governo cobraram maior transparência a respeito das condições clínicas de Cristina e as circunstâncias em que se deu sua "consulta de rotina".
O agora presidente em exercício, Amado Boudou, se encarregou de responder aos questionamentos.
"Não tem nenhuma incerteza ou coisa estranha", disse. "Cristina só está tendo um descanso de que precisava", disse.
O que é um hematoma subdural?
Hematoma subdural é o quadro de acúmulo de sangue na região entre o crânio e o cérebro. Trata-se de um quadro relativamente comum em casos de traumatismo envolvendo pessoas de idade média e avançada.
Cristina tem 60 anos de idade e, segundo a Presidência, sofreu uma queda em agosto. Hematomas assim podem desaparecer com repouso (quando o líquido é reabsorvido) ou com intervenção cirúrgica para drenagem.
Segundo comunicado do hospital, a presidente fez vários exames. A opção pela cirurgia se deu após o formigamento no braço esquerdo e após "leve perda da força muscular do mesmo membro superior".
Desde a morte repentina em 2011 do ex-presidente e marido de Cristina, Néstor Kirchner, o governo tem sido extremamente cauteloso com a saúde da mandatária.
Em várias ocasiões Cristina suspendeu sua agenda, inclusive encontros internacionais, após sentir tontura ou cansaço físico como decorrência de sua baixa pressão arterial.
Em janeiro de 2012, Cristina se submeteu a uma cirurgia para extrair a glândula tireoide. Chegou-se a anunciar na ocasião que a presidente sofria de um câncer, mas exames após a operação mostraram que se tratava de um diagnóstico equivocado.
E agora, quem manda?
Assim que se anunciou o afastamento da presidente, o vice, Amado Boudou, foi convocado. Ele estava em viagem ao Brasil e partiu imediatamente à Argentina. Boudou assumiu oficialmente o cargo interino na segunda-feira.
"É igual ao ano passado. Não tem nada estranho", disse, em referência ao afastamento de Cristina durante a cirurgia anterior. "Ela pediu para manter a gestão e toda a equipe da presidente vai manter a gestão", disse.
Após ganhar a simpatia de Cristina no último governo, Boudou ficou relegado a segundo plano nos últimos meses. O vice é investigado por suposto enriquecimento ílicito durante sua gestão como ministro da Economia.
Boudou é personagem central do escândalo Ciccone. A Justiça tenta esclarecer se o então ministro havia feito tráfico de influência e informação durante a compra da empresa gráfica Ciccone Calcográfia, que entrou em falência pouco antes de ser estatizada.
Setores da oposição classificaram como "inadequada" a transmissão interina de cargo a Boudou.
Quais a consequências políticas do afastamento de Cristina?
O governo assegura que a agenda do Executivo não muda. O impacto mais provável pode se dar no contexto partidário, já que no dia 27 de outubro os argentinos vão para as urnas para eleger deputados e senadores.
A expectativa é de votos pouco simpáticos ao governo, que saiu derrotado nas eleições primárias em agosto, um termômetro para as eleições parlamentares.
O afastamento de Cristina se dá na reta final da campanha, cuja batalha mais difícil ocorre na Província de Buenos Aires, tradicional reduto peronista.
As pesquisas mostram o ex-aliado de Cristina e provável candidato à sua sucessão, o também peronista Sergio Massa, como favorito.
Nas primárias, Massa venceu o candidato governista, Martín Insaurralde. Cristina agora tenta recuperar a força do kirchnerismo na Província a fim de assegurar apoio político para os dois últimos anos de seu governo, que acaba em 2015.