Escolhas de novos cardeais pelo papa Franciso não devem facilitar caminho para definição do sucessor

8 out 2024 - 13h31
(atualizado às 15h07)

Quando o papa Francisco nomeia novos cardeais católicos, como fez no último domingo, isso é frequentemente descrito como uma tentativa do pontífice de influenciar o grupo que um dia escolherá seu sucessor.

Mas, embora Francisco, de 87 anos, já tenha nomeado cerca de 80% dos prelados que escolherão o próximo papa, aqueles que estudam a Igreja dizem que suas escolhas -- muitas vezes religiosos com pouca visibilidade e de países distantes, muitos dos quais mal se conhecem -- não têm o objetivo de facilitar o caminho para um sucessor preferido.

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"A ideia de que o papa é capaz de influenciar seu sucessor não é real", disse Alberto Melloni, historiador da igreja na Universidade de Modena-Reggio Emilia. "Não é nem mesmo sua agenda."

A diversidade geográfica é importante para Francisco, um argentino nascido a um oceano de distância de Roma. Entre os novos cardeais que Francisco nomeou ao longo de seus 11 anos como papa, cerca de duas dúzias foram os primeiros escolhidos de seus países de origem, como Haiti, Mianmar, República Centro-Africana e Mongólia.

Os 21 novos cardeais anunciados no domingo vêm de países como Argentina, Brasil, Chile, Peru, Equador, Itália, Reino Unido, Sérvia, Japão, Indonésia, Canadá, Costa do Marfim e Argélia. Um deles é um frade belga que atua como arcebispo de Teerã-Isfahan, no Irã. Outro é um greco-católico ucraniano que ministra na Austrália.

"É mais uma questão de geografia do que de teologia", disse Massimo Faggioli, professor da Universidade Villanova, na Filadélfia, que tem registrado o papado de Francisco. "Em geral, trata-se de dar voz àqueles que estão nas periferias... mais do que uma visão particular da Igreja."

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DESVIANDO DA TRADIÇÃO

Os observadores da Igreja às vezes se surpreendem com o fato de o papa escolher figuras que geralmente são pouco conhecidas em Roma ou que lideram rebanhos católicos relativamente pequenos.

Ele também se desviou da tradição de que os bispos de cidades historicamente importantes automaticamente se tornam cardeais. Nos EUA, por exemplo, ele transformou o bispo de San Diego em cardeal, mas não o arcebispo de Los Angeles. Na Itália, o arcebispo de Bolonha, mas não o de Milão.

"A mensagem é: 'abolir o direito de qualquer diocese de ter um cardeal como arcebispo'", disse Melloni.

Muitas vezes, as escolhas parecem ser influenciadas pela preferência de Francisco pelo que ele chamou de uma Igreja que está "machucada, ferida e suja porque esteve nas ruas".

Em 2019, um dos escolhidos por Francisco, o cardeal Konrad Krajewski, atraiu a ira de políticos italianos ao descer em um bueiro em Roma para restaurar a eletricidade de centenas de pessoas sem-teto que viviam em um prédio ocupado.

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Com a morte ou renúncia do papa, os cardeais entram em um conclave secreto, no qual aqueles com menos de 80 anos votam no próximo papa. Atualmente, pelo menos 67 países têm cardeais que podem votar em um conclave, de acordo com as estatísticas do Vaticano, em comparação com menos de 50 países quando Francisco foi eleito em 2013.

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