A Espanha sediará conversações ONU sobre mudanças climáticas em dezembro após a desistência do Chile, informou a Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira, uma mudança de última hora que gera grandes desafios logísticos e deixou a ativista Greta Thunberg do lado errado do Atlântico.
As negociações sobre mudanças climáticas da ONU, conhecidas formalmente como COP25, serão realizadas de 2 a 13 de dezembro, conforme planejado originalmente, mas em Madri - a mais de 10.000 quilômetros de distância da capital chilena, Santiago, onde deveria acontecer inicialmente.
O governo do Chile anunciou na quarta-feira que desistiria da sede da cúpula climática de dezembro e da reunião de cooperação econômica Ásia-Pacífico, programada para este mês, depois de duas semanas de distúrbios por causa da desigualdade no país sul-americano que deixaram pelo menos 18 pessoas mortas.
"Excelente notícia: Madri sediará a Cúpula do Clima de 2 a 13 de dezembro", escreveu o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, no Twitter. "A Espanha está trabalhando a partir de agora para garantir a organização da COP25."
Alexander Saier, porta-voz da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, disse que o governo espanhol ajudará a acelerar a emissão de vistos e criará uma agência para ajudar a organizar as viagens e acomodações de cerca de 25 mil pessoas esperadas para o evento.
"É mais importante que a conferência ocorra politicamente. Acredito que não seria um bom sinal se a conferência fosse cancelada ou adiada", afirmou Saier.
PROTESTOS
A conferência ocorre em meio a apelos por ações rápidas de grupos ambientalistas e manifestantes climáticos, com relatórios científicos recentes exigindo medidas amplas para impedir que as temperaturas globais subam mais de 1,5 graus Celsius.
A ativista adolescente para mudanças climáticas Greta Thunberg, que liderou um movimento de greve para focar a atenção no aquecimento global, disse que a mudança de local da cúpula a deixou do lado errado do Atlântico.
Thunberg, atualmente em Los Angeles, viajou da Europa para os Estados Unidos num iate e planejava continuar sua viagem a Santiago para as negociações climáticas por um meio de transporte livre de carbono.
"Agora preciso encontrar uma maneira de atravessar o Atlântico em novembro ... Se alguém pudesse me ajudar a encontrar transporte, ficaria muito grata", escreveu ela no Twitter.
O Chile continuará na presidência das negociações climáticas, mesmo em Madri. A chamada Conferência das Partes (COP) visa aprofundar os detalhes da implementação do Acordo Climático de Paris de 2015.
"Continuaremos a reforçar o trabalho realizado com o entendimento de que o desenvolvimento social e ambiental caminha de mãos dadas", disse a ministra do Meio Ambiente do Chile, Carolina Schmidt, no Twitter.
As notícias de que a cúpula será realizada em Madri vêm em um momento tenso para a política espanhola, com protestos pró-independência que às vezes se tornam violentos na região da Catalunha, e a segunda eleição parlamentar deste ano marcada para 10 de novembro.
Não é a primeira vez que Madri assume no último minuto como anfitriã de um evento que deveria ocorrer na América do Sul. Em dezembro do ano passado, a capital espanhola sediou a final da Copa Libertadores no lugar de Buenos Aires, depois que a violência levou a partida a ser cancelada.