Tradicional bastião da esquerda na Itália, a Emilia-Romagna, no norte do país, optou por continuar "vermelha" e impôs um limite às ambições do ex-ministro do Interior Matteo Salvini.
Em eleição realizada neste domingo (26), o governador Stefano Bonaccini, do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), alcançou 52,4% dos votos e se reelegeu para mais cinco anos de mandato, superando Lucia Borgonzoni, da ultranacionalista Liga, que teve 43,6%.
"Os emilianos-romagnolos entenderam a escolha de usar a Emilia-Romagna para outros fins e decidiram levar a campanha para outro lado", disse Bonaccini, acrescentando que a vitória deixa "uma lição para o futuro".
Governada pela esquerda desde sua instituição, em 1970, a Emilia-Romagna era vista como um atalho para Salvini voltar ao poder na Itália. Seu projeto era colocar a Liga no governo de uma das regiões mais "vermelhas" do país e aumentar a pressão sobre o primeiro-ministro Giuseppe Conte, que comanda uma instável coalizão entre partidos de centro-esquerda e o M5S, formada com o objetivo de evitar eleições antecipadas.
A Liga lidera todas as pesquisas de intenção de voto em âmbito nacional e, no caso de novas eleições legislativas, poderia conquistar a maioria no Parlamento no comando de uma coalizão com outros partidos de direita.
Por conta disso, o ex-ministro se empenhou pessoalmente na disputa eleitoral e teve uma intensa agenda de comícios por toda a região, muitas vezes eclipsando a própria Borgonzoni. No ponto mais polêmico da campanha, Salvini interfonou na frente das câmeras para a casa de uma família de tunisianos acusada por uma vizinha de traficar drogas.
A perspectiva de uma vitória da Liga na Emilia-Romagna deu origem ao movimento das "sardinhas", que desde o fim do ano passado lotou praças e ruas da região e do restante do país para conter o avanço da extrema direita.
Apesar de se professarem apartidárias, as "sardinhas" têm viés abertamente progressista e foram determinantes para a vitória de Bonaccini. "Um imenso obrigado ao movimento das sardinhas", disse o governador do Lazio e líder do PD, Nicola Zingaretti.
Já Bonaccini afirmou que as "sardinhas" fizeram a esquerda voltar às ruas, "enchendo praças e pedindo que a política não seja feita de vulgaridade, raiva e rancor". O surgimento do movimento se refletiu na afluência: 67,67% dos eleitores foram às urnas, quase o dobro dos 37,76% registrados em 2014.
Salvini, por sua vez, admitiu a derrota, mas acrescentou que, pela primeira vez, "houve jogo" na Emilia-Romagna. "Vamos nos preparar para cinco anos de oposição apaixonada, porque a mudança na Emilia-Romagna foi apenas adiada", declarou o secretário da Liga.
O ministro, no entanto, pode comemorar a vitória de sua coalizão na Calábria, sul da Itália, que também era governada pelo PD. A candidata Jole Santelli, do partido conservador Força Itália (FI) e apoiada por Salvini, obteve 55,4% dos votos e superou o independente de esquerda Pippo Callipo, com 30,1%.
Avanço
Mesmo fora do poder, Salvini segue com a popularidade em alta e, no fim de outubro, havia alcançado uma vitória avassaladora nas eleições regionais na Úmbria, outro antigo bastião da esquerda italiana.
Até a derrota na Emilia-Romagna, a coalizão conservadora havia vencido todas as eleições regionais desde 4 de março de 2018, quando Salvini assumiu a liderança da aliança.
De lá para cá, outras sete regiões governadas pelo PD, maior força de esquerda no país, foram às urnas, e a Liga ou seus aliados ganharam em todas. "Vencemos em oito de nove [já contando Emilia-Romagna e Calábria], podia ter sido pior, mas sou um perfeccionista, queria nove vitórias", disse Salvini.
Entre maio e junho de 2020, outras seis regiões italianas devem eleger novos governadores: Campânia, Marcas, Puglia e Toscana, controladas pela esquerda, e Ligúria e Vêneto, comandadas pela direita.