15 anos depois, massacre de Columbine é modelo para ataques

Chacina em escola americana ganhou repercussão mundial por ter sido televisionada e por ser tema de “Tiros em Columbine”, Oscar de melhor documentário em 2003

17 abr 2014 - 05h56
(atualizado às 14h07)
<p>Neste domingo, 20, o Massacre de Columbine completa 15 anos. Nesse período, muitos outros crimes semelhantes a esse aconteceram nos EUA e em outros países</p>
Neste domingo, 20, o Massacre de Columbine completa 15 anos. Nesse período, muitos outros crimes semelhantes a esse aconteceram nos EUA e em outros países
Foto: AP

Os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold nunca foram populares na escola, mas viraram assunto na mídia mundial no dia em que morreram. Responsáveis pela chacina ocorrida no Instituto Columbine, no Colorado, EUA, os assassinos são lembrados e citados sempre que há alguma tragédia como a do dia 20 de abril de 1999, há quinze anos.

Com armas de fogo e um arsenal de bombas caseiras, os dois adolescentes invadiram o colégio, mataram 12 alunos, um professor e, por fim, cometeram suicídio. O massacre também deixou 25 pessoas feridas. Mais tarde, o FBI localizou os diários dos jovens, que denunciavam um sentimento comum nesses tipos de ataques: o ódio.

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Segundo o psicólogo Peter Langman, ouvido pelo USA Today, Harris e Klebold "Não eram garotos comuns que foram importunados até retaliarem. Nem garotos comuns que jogaram videogame demais, ou garotos comuns que só queriam ser famosos. Eles simplesmente 'não eram garotos comuns'. Eram garotos com sério problemas psicológicos", disse o autor do livro "Por que os Jovens Matam: por Dentro da Mente dos Assassinos Escolares".

A dupla tinha perfis diferentes e lidava com a exclusão e a falta de amigos de maneiras distintas. Harris, o mentor do crime, sentia - além de raiva - uma sede por dominação. Queria ser Deus. Enquanto Klebold era um garoto triste e solitário, que se sentia o mais miserável dos seres humanos. 

O crime, apesar de não ter sido nem o primeiro ataque a escolas dos Estados Unidos, nem o que deixou mais vítimas, se destaca por ter sido o primeiro massacre em uma instituição de ensino americana transmitido, em grande parte, ao vivo pela televisão. 

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Massacre foi parar no cinema

O que também dá destaque ao caso é o fato de a chacina ter inspirado a produção do filme “Tiros em Columbine”, que ganhou o Oscar de melhor documentário em 2003.

Com seu senso de humor "raivoso", o sempre polêmico cineasta e ativista Michael Moore explora as raízes do derramamento de sangue nos EUA. O país é conhecido pelo enorme número de pessoas mortas por armas de fogo, sem ter passado por uma guerra civil. 

No filme, Moore aborda a questão da farta disponibilidade de armamentos nos Estados Unidos e outras diversas causas que ajudariam a explicar tal violência, chegando a fazer uma análise da cultura do medo, intolerância e violência em uma nação onde o porte de armas é generalizado. Além disso, o filme procura investigar e enfrentar os poderosos interesses políticos e empresariais que estão por trás da venda de armas e munições.

Em seu discurso, ao receber a estatueta do Oscar em 2003, Michael Moore aproveitou para alfinetar o governo americano. 

Moore criticou a administração Bush por ter acabado de anunciar a invasão ao Iraque. “Vivemos em uma época em que temos resultados fictícios de eleições que elegeram um presidente fictício. Vivemos em um tempo em que um homem nos está mandando para a guerra por motivos fictícios. Que vergonha, senhor Bush”, disse Moore. Foi aplaudido de pé. E vaiado com a mesma intensidade.

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Estados Unidos lidera casos

No último dia 9, um estudante de 16 anos percorreu os corredores da escola regional de Franklin, na região de Murrysville, na Pensilvânia, EUA, com a mesma intenção da dupla que agiu no Colorado. O ataque, que aconteceu antes do início das aulas, deixou 22 pessoas feridas a facadas. 

A maioria das vítimas têm entre 14 e 17 anos e foram atingidas no tronco, abdome, tórax e costas. Algumas ficaram em estado grave e tiveram que passar por cirurgias, mas nenhuma morreu. Alex Hribal é o principal suspeito do ataque e ainda não foi julgado. 

Durante o ano de 2007, três grandes chacinas em escolas chocaram o mundo. Em fevereiro, o estudante Steven Kazmierczak foi o autor do massacre na Universidade de Illinois, EUA, deixando seis mortos, inclusive ele mesmo. Em abril, Cho Seung-Hui matou 32 pessoas na norte-americana Universidade Virginia Tech, antes de cometer suicídio. E em novembro, o jovem Pekka-Eric Auvinem foi o autor do massacre no Colégio Jokela, na Finlândia.

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Horas antes da chacina, este último chegou a publicar um vídeo no Youtube com o título "Massacre no Colégio Jokela - 7/11/2007", que mostrava a foto de uma escola, que parecia ser o lugar onde aconteceu o tiroteio. A foto, então, se fragmentava e mostrava a imagem de um homem apontando uma arma para a câmera. Nove pessoas morreram, inclusive Auvinem, que também se matou.

Os Estados Unidos é, de longe, o país que registra o maior número de casos de massacres em escolas e universidades. Mas crimes como esses já aconteceram, inclusive, no Brasil.

No Rio de Janeiro, o jovem Wellington Menezes de Oliveira invadiu a escola municipal Tasso da Silveira e deixou doze estudantes mortos, além de uma dezena de alunos feridos. O crime, que aconteceu no dia 7 de abril de 2011, também culminou na morte do assassino que, baleado por um policial, deu fim à própria vida com um tiro na cabeça.

A culpa seria do bullying?

É impossível analisar os diversos casos de chacinas em escolas e não se deparar com um quadro presente em quase todos os episódios: o autor dos crimes, geralmente, foi vítima de bullying, tem ódio e sede de vingança. A violência pode ser direcionada às pessoas que o perseguiram ou ao cenário das provocações, nesses casos, a escola. 

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Em um trecho de seu diário, Eric Harris escreve sobre o tratamento que recebia de outros alunos. "Eu odeio vocês por me deixarem de fora de tantas coisas divertidas. E não diga, 'Ora, é culpa sua', porque não é, vocês tinham meu telefone, e eu pedi e tudo mais, mas não. Não, não, não deixem aquele estranho do Eric vir junto", desabafa. 

No entanto, vale ressaltar que especialistas garantem que o bullying, por si só não é motivo suficiente para que uma pessoa em plenas condições psíquicas e sem nenhum outro tipo de predisposição cometa uma chacina como a ocorrida em Columbine. 

Fonte: Terra
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