Aos 91 anos, Krystyna Farley detém o título de rainha da beleza sênior pelo Estado americano de Connecticut.
Ela foi coroada no ano passado, mas esse está longe de ter sido o principal desafio de sua vida.
Polonesa radicada nos Estados Unidos, Farley sobreviveu a um campo de trabalhos forçados na Sibéria.
"A vida (na Polônia) era maravilhosa, sem preocupações. Meu pai tinha uma propriedade de 14 hectares. Você vai à escola, faz tudo o que quiser, a vida era completamente diferente", relembra ela à BBC sobre sua infância, antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Tudo mudou quando Farley tinha 14 anos.
União Soviética e Alemanha invadiram a Polônia, dando início ao conflito global.
Sibéria
Com os pais e as irmãs, ela fez parte de um imenso contingente de poloneses deportados para campos de trabalhos forçados na Rússia.
"Não ficamos presos. Mas não podíamos sair de um determinado perímetro de segurança. Ou seja, não podíamos fazer o que queríamos", explica.
Dois anos depois, Rússia e Polônia firmaram o chamado Tratado Sikorski-Mayski, pelo qual os prisioneiros poloneses foram anistiados.
Farley decidiu, então, se mudar para a antiga Pérsia (atual Irã) e se juntar às Forças Armadas da Polônia no exílio.
Sua família ficou para trás.
"Soube que minha mãe morreu no sul da Rússia. Nunca mais a vi. Mas até hoje não sei onde está minha irmã. Ela deve estar viva. Tem dois anos a mais do que eu", lembra.
Farley conta ter sido difícil deixar a família para trás, mas "quando você está faminta, não pensa. Você faz o que é melhor para você", explica.
Durante seu tempo nas Forças Armadas, ela foi ajudante de enfermagem.
'Ferida que não cicatrizou'
Mas os traumas da guerra e da fome ainda permanecem com ela.
"É uma ferida que ainda não cicatrizou", lamenta. "Mas gosto de aproveitar a vida. Estou viva aos 91 anos e minha filha mais velha tem 70 anos. Digo a ela que tenho 39 anos", brinca.
Farley se casou com o primeiro marido na Inglaterra. Quando ele morreu, a curiosidade a motivou a se mudar para os Estados Unidos.
Foi quando, anos atrás, ela soube de um concurso de beleza voltado a pessoas mais velhas.
"Já participei várias vezes. Além de ter sido coroada miss por Connecticut, sou vice-presidente da entidade responsável pelo concurso. Só não posso ser presidente porque não sei escrever em inglês. Se escrevesse em inglês, concorreria à Presidência dos EUA", diz.
Como todo concurso de miss, as postulantes ao cargo têm, cada uma, sua própria filosofia.
"Primeiramente, você tem de amar as pessoas. Gosto de tê-las ao meu redor. Se você não tiver isso, você está morta", afirma.
Vida na 3ª idade
Para Farley, o concurso é importante porque "mostra que a vida não acabou aos 60 anos".
"Você mostra às pessoas que, apesar da idade, você está viva, pode dançar, costurar, pintar, fazer o que quiser", diz.
"Difícil descrever minha personalidade, para dizer a verdade. Mas me considero uma leoa. É assim que me vejo."
E qual dica ela daria a quem quer chegar na mesma idade com tanto viço?
"Faça alguma coisa. Não fique dizendo que dói aqui e acolá. Não importa. Viva a vida", conclui.