O fundador do Wikileaks, Julian Assange, disse nesta segunda-feira que, se o soldado americano Bradley Manning for declarado culpado de "ajuda ao inimigo" por vazar informações confidenciais dos Estados Unidos, será aberto um precedente muito sério que levará ao fim do jornalismo investigativo.
"'Ajuda ao inimigo' é uma acusação militar, mas que afeta a todos", disse Assange em entrevista à emissora CNN direto da embaixada do Equador em Londres, onde está asilado desde junho de 2012 para evitar sua extradição à Suécia, onde é acusado de estupro.
A coronel Denise Lind, que julga o caso, delibera desde sexta-feira, depois de concluídas as alegações finais da defesa e da acusação após sete semanas de audiência. A juíza deverá decidir se Manning é culpado de espionagem e ajuda ao inimigo, cuja pena máxima é a prisão perpétua, assim como de outras 20 acusações.
O governo americano acusa Manning por vazar mais de 700 mil documentos confidenciais ao Wikileaks. Assange diz que Manning deixou claro durante o julgamento que estava disposto a aceitar o risco que implicava ser um militar e vazar segredos do Pentágono e do Departamento de Estado. "Chamo esse tipo de pessoa de heróis", disse.
O fundador do Wikileaks, apresentado pela promotoria como colaborador de Manning, assegurou que o soldado, ex-analista militar no Iraque entre o fim de 2009 e o começo de 2010, foi o responsável pelo começo das revoluções da Primavera Árabe.
A publicação das comunicações diplomáticas vazadas por Manning foi percebida por analistas políticos como um dos catalisadores das revoltas na Tunísia, as primeiras no mundo árabe contra regimes autoritários.
A corte marcial contra Manning pode abrir um precedente único se considerar 'ajuda ao inimigo' um vazamento na internet, que permitiria acesso das nações adversárias ou inimigos terroristas como a Al-Qaeda, disse Assange.
Além disso, a defesa advertiu que o Wikileaks deve ser considerado uma organização jornalística e que a condenação poderia afastar novos vazamentos vindos de fontes militares a meios de comunicação tradicionais.
Em 2010, o Wikileaks pôs os Estados Unidos no meio de uma grande controvérsia ao vazar correspondências e comunicados do Departamento de Estado, vídeos e registros das guerras no Iraque e Afeganistão, a maioria confidenciais e de conteúdo sensível que incluíram, entre outras revelações, relatórios controvertidos de líderes latino-americanos.
Esse vazamento revelou entre outros, milhares de documentos sobre a Guerra do Iraque que corroboravam várias denúncias de torturas e abusos que nunca foram averiguadas pelos Estados Unidos e mortes de civis nunca informadas.