Alfred Boyd, hoje com 83 anos, trabalhava para a administração do presidente John F. Kennedy, onde tentava promover legislações que melhorassem a vida dos negros
Foto: Carla Ruas
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"O movimento (dos direitos civis) mostrou para o mundo inteiro a discriminação que sofriam as minorias. E o governo se sentiu obrigado a passar legislações que mudaram completamente o jogo"
Foto: Carla Ruas
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Jim Crocket lembra bem daquela quarta-feira em 1963: "Estava muito quente e quando eu cheguei já tinha um mar de pessoas. Mas eu fiquei encantado, e perguntava para todo mundo de onde vieram, porque algumas pessoas tinham viajado dias para chegar lá"
Foto: Carla Ruas
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Para participar da marcha, Crocket faltou ao trabalho e viajou uma hora de ônibus até a capital
Foto: Carla Ruas
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Crocket foi um dos primeiros negros a entrar na universidade Johns Hopkins, em Baltimore
Foto: Carla Ruas
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Numa fotografia de 1951, Crocket aparece com apenas 23 anos, protestando em frente a um teatro que barrou a sua entrada só porque ele era negro
Foto: Arquivo pessoal
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Rowland Scherman, hoje com 67 anos, estreou como fotógrafo profissional naquela tarde de agosto de 1963
Foto: Carla Ruas
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"Eu entrei num verdadeiro transe, e fotografei o dia inteiro sem parar para comer ou beber"
Foto: Carla Ruas
O 28 de agosto de 1963 foi um divisor de águas nos Estados Unidos. Naquele dia de verão, mais de 250 mil pessoas participaram da Marcha por Trabalho e Liberdade, na capital Washington, para pedir igualdade racial. Dentre os diversos líderes que subiram em um palco montado nas escadarias do Lincoln Memorial, um se destacou: Martin Luther King. O seu discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho", na tradução do inglês), que faz 50 anos nesta quarta-feira, ajudou a impulsionar medidas que mudaram para sempre a trajetória dos negros nos Estados Unidos.
Já haviam ocorrido muitos protestos contra a segregação racial no país, mas nenhum tinha sido tão grande como a marcha de 1963. Um momento histórico que alavancou a criação da Lei dos Direitos Civis (1964) e da Lei dos Direitos de Voto (1965) e que ficou na memória de muita gente. O Terra conversou com três pessoas que estavam lá e fizeram parte desta história: um militante dos direitos civis, um funcionário do escritório do presidente John F. Kennedy e um fotógrafo que estreiou como profissional registrando o mar de gente naquela tarde quente de agosto.
Jim Crocket lembra bem daquela quarta-feira, em 1963. Aliás, sua memória é impressionante para quem já viveu 88 anos. "Estava muito quente e quando eu cheguei já tinha um mar de pessoas. Mas eu fiquei encantado, e perguntava para todo mundo de onde vieram, porque algumas pessoas tinham viajado dias para chegar lá", recorda.
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Para participar da marcha, Crocket também teve que fazer sacrifícios: faltou ao trabalho e viajou uma hora de ônibus até a capital. Mas para ele foi uma decisão muito natural. Desde os anos 1940 ele vinha participando do movimento dos direitos civis. Numa fotografia de 1951 ele aparece com apenas 23 anos, protestando em frente a um teatro que barrou a sua entrada só porque ele era negro.
Este foi apenas um dos preconceitos que Crocket enfrentou na sua vida. Mesmo após a abolição da escravatura, os negros continuaram sendo considerados cidadãos de segunda classe nos Estados Unidos. “Eu frequentei escolas segregadas, não pude entrar em certos restaurantes e durante a segunda guerra vi prisioneiros serem tratados melhor do que eu”, lamenta.
Depois da guerra, Crocket se tornou bombeiro, mas logo percebeu que jamais seria promovido por causa da sua cor. Por isso resolveu fazer curso superior e, em 1963, foi um dos primeiros negros a entrar na universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Após completar o curso de administração, abriu uma imobiliária bem-sucedida, que existe até hoje. “Mas nada disso seria possível sem as vitórias do movimento”, garante.
O funcionário de Kennedy
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Alfred Boyd, hoje com 83 anos, também admirou a multidão ao chegar na marcha em 1963. Mas a sua motivação para ir ao evento não veio das ruas, e sim de dentro do seu escritório: Ele trabalhava para a administração do presidente John F. Kennedy, onde tentava promover legislações que melhorassem a vida dos negros.
Boyd veio de uma família com uma trajetória dentro do movimento dos direitos civis. A sua prima Mary McCloud, é uma figura conhecida por ter buscado o direito ao voto e educação para mulheres negras na década de 1920. Mary, cujos pais tinham sido escravos, se tornou conselheira e amiga pessoal do presidente Franklin Roosevelt.
Boyd quis continuar esta trajetória. Por isso, depois que Kennedy foi assassinado em novembro de 1963, ele continuou atuando no governo do presidente Lyndon B. Johnson, que assumiu o cargo. O seu trabalho era criar projetos sociais e econômicos para os negros no Escritório de Administração e Orçamento.
Mas ele admite que as grandes mudanças só aconteceram depois da marcha em Washington: “O movimento mostrou para o mundo inteiro a discriminação que sofriam as minorias. E o governo se sentiu obrigado a passar legislações que mudaram completamente o jogo”.
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O fotógrafo
Existem muitas fotografias que compõem o imaginário da Marcha em Washington por Trabalho e Liberdade. Algumas dessas imagens foram tiradas por Rowland Scherman, hoje com 67 anos. E ele nunca vai esquecer daquele dia, afinal, fotografar a marcha foi o seu primeiro trabalho profissional.
“Eu entrei num verdadeiro transe, e fotografei o dia inteiro sem parar para comer ou beber”, lembra. E como ele estava trabalhando para a Agência Nacional da Informação (USIA) e não para a imprensa, tinha mais liberdade sobre o que fotografar. Scherman escolheu focar suas lentes nas expressões dos participantes, o que hoje compõem um importante arquivo visual e histórico do evento.
Num dos seus retratos, o fotógrafo captou a jovem Edith Payne, de apenas 12 anos, olhando direto para a câmera. “Eu vi umas pessoas rindo e outras chorando, até que ela me chamou a atenção. Ela era tão jovem e estava tão envolvida”, descreve. A imagem virou um dos símbolos do movimento dos direitos civis, já que simboliza as novas gerações e a esperança de um futuro melhor.
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Colocadas lado a lado, imagens mostram a marcha pelos direitos civis, em 28 de agosto de 1963, e as celebrações pelos 50 anos do evento que foi um divisor de águas para os Estados Unidos, em 24 de agosto de 2013; há cinco décadas, Martin Luther King fazia história com seu discurso "I have a dream"
Foto: AP
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Autoridades dos direitos civis marcham pelas ruas de Washington, em 28 de agosto de 1963; abaixo, autoridades americanas atuais (com destaque para a porta-voz do Congresso, Nancy Pelosi) comemoram os 50 anos do discurso de Luther King, no último sábado, dia 24
Foto: AP
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Combinação de fotos mostra os cartazes pedindo igualdade entre brancos e negros em 1963 e 2013
Foto: AP
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Cartazes durante a marcha de 1963 e durante as celebrações de 2013, em Washington
Foto: AP
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Há 50 anos, cartazes pediam empregos e liberdade para cada americano; hoje, pedem empregos, e não guerra
Foto: AP
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Combinação de fotos mostra a multidão reunidas em frente ao Washington Monument, em 1963 e em 2013
Foto: AP
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Fotos comparam a marcha tomando a Constitution Avenue, em Washington, em 1963 e em 2013
Foto: AP
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Combinação de fotos mostra Austin Clinton Brown, que tinha 9 anos em 1963, e Claudia Hanes, que participou das celebrações do último dia 24
Foto: AP
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Dayra Kent, 31 anos, professora: "A luta continua. Ainda temos os mesmos problemas. O meu sonho é que a gente caminhe juntos - independentemente da cor da pele - por um futuro melhor"
Foto: Carla Ruas
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George Halcat, 28 anos, artista: "Minha mãe marchou em 1963 e eu achei importante estar aqui hoje. Meu sonho é que os jovens que estão aqui se dêem conta da nossa história e que a gente continue marchando juntos para um futuro melhor"
Foto: Carla Ruas
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Scott Lyman, 64 anos, aposentado: "Eu estava na marcha em 1963 e tinha apenas 14 anos. Cinquenta anos passa rápido e eu passei muito deste tempo lutando pelos direitos civis. O meu sonho para o futuro é manter o sonho de Martin Luther King vivo porque as mudanças tem que continuar, principalmente no que diz respeito ás legislações"
Foto: Carla Ruas
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Michael Colisson, República Centro-africana: "Eu vim especialmente para esta marcha hoje. O Martin Luther King foi uma grande influência na África e meu sonho é que ele continue inspirando melhorias"
Foto: Carla Ruas
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Rob Colling, 30 anos, trabalha numa ONG: "Eu trabalho numa ONG que busca direitos iguais para a moradia. O meu sonho é que um dia as pessoas não sejam negadas moradia por causa da sua cor ou gênero. Nós temos que fazer valer as legislações que protegem os direitos civis"
Foto: Carla Ruas
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Raul Ceiling, 65 anos, aposentado: "Eu tinha 5 anos quando vi a marcha pela televisão e hoje estou feliz de poder estar aqui. Meu sonho é que a gente não desista da luta e continue pressionando por igualdade econômica, porque ainda não existe nos Estados Unidos"
Foto: Carla Ruas
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Melbin Graham, 62 anos, aposentado: "Eu nasci e cresci em Washington D.C. e achei que era importante estar aqui nesta data. Meu sonho para o futuro é o que diz neste cartaz. Nós precisamos de mais empregos para concertar os Estados Unidos"
Foto: Carla Ruas
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Isadora França, 19 anos, brasileira de Minas Gerais, trabalha numa ONG: "O meu sonho é que esta marcha de hoje inspire a luta pelos direitos humanos como a de 1963 inspirou"
Foto: Carla Ruas
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Julia Chance, 51 anos, escritora: "Os meus pais marcharam em 1963 e hoje eu marcho em homenagem à eles. O meu sonho é que os direitos eleitorais dos negros não sejam prejudicados como alguns conservadores estão querendo"
Foto: Carla Ruas
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Ashley Akers, 19 anos, estudante: "Meu sonho é que por mais igualdade nos Estados Unidos. Ontem mesmo ouvi de uma amiga: Por que você vai na marcha se é branca? Ela não entende que eu quero"