Lojas especializadas em maconha medicinal existem aos montes em Los Angeles, na Califórnia. São, na maioria, pequenos estabelecimentos caracterizados pela vidraça opaca e pelo símbolo da cruz médica na cor verde. Nessas lojas, o paciente que tenha uma prescrição médica é autorizado a comprar maconha, seja em pequenas porções, em cápsulas ou em forma de biscoitos, chocolates, brownies e balas, e até em potes de mel.
“Em muitos casos, o uso de maconha é mais eficiente do que remédios tradicionais”, afirma a doutora Sona Patel, especializada em analisar pacientes que necessitam prescrição médica para o consumo da erva.
Em 1996, quando a Califórnia legalizou o uso medicinal da maconha, a droga era prescrita sobretudo para pacientes com câncer em estágio terminal. Mas, hoje em dia, não é difícil conseguir uma prescrição médica que autorize pacientes a consumir cannabis. Crises de estresse, ansiedade, insônia e até cólicas menstruais podem ser utilizados como sintomas para o consumo.
No calçadão da praia de Venice Beach, dezenas de lojas autorizadas oferecem consultas a US$ 40 com um médico local. Algumas lojas apenas vendem o produto, enquanto outras permitem que o usuário consuma a droga dentro do estabelecimento. Se, pela lei, apenas residentes na Califórnia podem comprar a droga, na prática, basta um documento com foto para ter acesso à consulta.
"A guerra às drogas e à maconha, especificamente, é uma guerra perdida. A proibição é como um câncer que, cada dia mais, mata a sociedade", diz Chris Conrad, especialista em cannabis.
Mercado bilionário
Chris Conrad é professor na Oaksterdam University, em Oakland, Califórnia, uma faculdade especializada em formar experts no trato da maconha medicinal. Ali, o aluno aprende tudo sobre as leis que regulam a maconha medicinal, a história da erva e até técnicas de cultivo.
“Nós oferecemos todas as ferramentas aos nossos estudantes para que eles se tornem especialistas nessa indústria, que não para de crescer”, explica Dale Sky Jones, chanceler da faculdade. "Depois de formados, eles conseguirão se estabelecer no mercado de cannabis com facilidade", acrescenta.
Além da Califórnia, outros 22 estados americanos já legalizaram a maconha para uso medicinal ou descriminalizaram a droga. Porém, ainda há um grande conflito em jogo: nos EUA, os Estados possuem o direito de estabelecer as próprias leis, mas também estão sujeitos à lei federal. O problema, nesse caso, é que a lei federal criminaliza a droga.
No início da legalização da maconha medicinal na Califórnia, estabelecimentos que vendiam a erva eram fechados pelo Departamento de Justiça do governo federal. É um caso jurídico interessante de algo que é legal no Estado e ilegal pelas leis do país.
O mercado da maconha nos Estados Unidos está estimado atualmente em US$ 113 bilhões, entre vendas legais e ilegais. O governo americano gasta, por ano, cerca de US$ 40 bilhões em políticas de combate às drogas. Desse valor, estima-se que US$ 13 bilhões sejam destinados ao combate específico da maconha.
"É muito difícil fazer previsões sobre o que acontecerá com a política relacionada à maconha”, conta Ed Rosenthal, conhecido como "Guru da Ganja". Ed, que chegou a ser preso pelo FBI por plantar maconha, é um dos mais conhecidos ativistas em favor da legalização da erva.
“Nos anos 60, eu achava que a maconha seria legalizada rapidamente. Mas essa é uma luta que ainda pode levar muito tempo”, afirma.
Quando foi preso, em 2003, Ed chegou a afirmar que as leis são mais prejudiciais à sociedade do que a maconha em si.
Muitos acreditam que a guerra pela proibição da maconha, travada no Congresso Nacional americano, seja influenciada pelos lobistas das indústrias do álcool e do tabaco, assim como a pressão das clínicas de reabilitação. Todos eles perderiam bilhões com a legalização da maconha em todo o país.
Tipos de maconha e formas de uso
Os estabelecimentos que vendem maconha medicinal classificam a erva em três grandes tipos: a maconha sativa, indica ou híbrida (com dominância indica ou sativa). A indica possui floração rápida e é originária do sul asiático. Já a sativa provém de regiões equatoriais e demora mais a florir.
No que diz respeito aos efeitos corporais e médicos, a sativa tende a produzir um efeito enérgico, enquanto que a indica produz uma sensação mais sedativa, indicada para o controle de dores agudas.
Das hortas permitidas pelo estado da Califórnia, a maconha passa por um rígido processo de cadastramento. Depois de catalogada, a maconha legal é destinada à venda em diferentes formas, inclusive como parte de alimentos.
Sandy Moriarty é especialista em preparar alimentos a partir de maconha. Ela é autora de um livro de receitas feitas à partir da erva. No livro, ela fala sobre a história da cannabis e detalha de que forma a maconha medicinal pode ajudar pacientes ao redor do mundo. São dezenas de receitas, que vão desde cookies de chocolate com maconha até pipoca e sopa de cannabis.
"Eu sempre adorei cozinhar. E quando eu comecei a entender os benefícios terapêuticos da maconha, descobri que minhas receitas podiam ajudar outras pessoas", conta Sandy.
Mas ela alerta que cozinhar com maconha exige certos cuidados no que diz respeito ao tipo de erva e às quantidades utilizadas. “Caso contrário, é possível deixar pessoas incrivelmente doentes. É preciso saber para quem você cozinha e colocar a dosagem certa", alerta.
Em 2013, as vendas de maconha medicinal chegaram a US$ 1,43 bilhões nos Estados Unidos. A expectativa para este ano é que esse valor cresça em torno dos 64%, batendo o recorde de US$ 2,34 bilhões.
A partir de janeiro de 2014, o estado do Colorado autorizou a venda da maconha para fins recreativos e medicinais, tanto para residentes quanto para não-residentes. No primeiro mês após a medida, o estado do Colorado arrecadou US$ 3,5 milhões em taxas e impostos, de acordo com a secretaria da Fazenda do Colorado.
No começo de julho, Nova York se tornou o último Estado americano a permitir o uso da maconha medicinal. No entanto, a legislação levará pelo menos um ano até entrar em vigor.