As pesquisas eleitorais falharam nos EUA?

As pesquisas registravam uma disputa acirrada — e então, Donald Trump teve uma vitória imponente. O que deu errado?

8 nov 2024 - 11h08
(atualizado às 13h52)
Urnas e pessoas enfileiradas em sala
Urnas e pessoas enfileiradas em sala
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Durante grande parte da campanha presidencial dos Estados Unidos, ouvimos muitas vezes que a disputa seria acirrada demais para se prever o resultado final.

Entretanto, na quarta-feira (06/11) os resultados mostraram uma vitória imponente de Donald Trump contra Kamala Harris. Ele venceu em pelo menos seis Estados decisivos e teve um bom e inesperado desempenho em outros lugares.

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O republicano teve 50,7% dos votos e conquistou 295 delegados; a democrata teve 47,6% dos votos e levou 226 delegados do Colégio Eleitoral.

Agora, Trump está prestes a se tornar o primeiro republicano em duas décadas a vencer no voto popular e pode assumir a Casa Branca com uma Câmara e um Senado controlados por correligionários.

Trump se saiu melhor na eleição que as pesquisas de intenção de voto previram
Foto: BBC News Brasil

Então, as pesquisas estavam erradas ao detectar uma disputa acirrada?

Em nível nacional, elas certamente pareceram subestimar Trump pela terceira eleição consecutiva.

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Mas nos Estados decisivos, como a Pensilvânia, a margem de vitória de Trump ficou tipicamente próxima de sua performance nas pesquisas, mesmo quando elas apontavam números mais baixos do que o resultado final.

A diferença média entre o que mostravam as pesquisas e o resultado final não foi realmente tão grande. Entretanto, em campanhas acirradas, pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença.

Trump venceu em vários Estados decisivos
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Antes dos resultados, veículos de imprensa como a BBC alertaram que, apesar da disputa acirrada retratada pelas pesquisas, ela poderia acabar se tornando uma vitória esmagadora para qualquer um dos candidatos, dada a margem de erro.

Em algumas partes menos observadas dos EUA, as pesquisas subestimaram o apoio a Trump de forma mais significativa — um sinal de que há alguns pontos cegos, segundo Michael Bailey, professor da Universidade de Georgetown.

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Na Flórida, por exemplo, pesquisas monitoradas pelo RealClearPolitics nas últimas semanas da eleição colocavam Trump à frente por cerca de cinco pontos percentuais. Ele venceu por uma margem maior que 13 pontos.

Em Nova Jersey, esperava-se que Kamala vencesse por quase 20 pontos percentuais, com base nas duas pesquisas mais recentes monitoradas pelo site. Sua margem foi mais estreita, mais próxima de 10.

"Imagine se soubéssemos disso ou tivéssemos uma noção melhor disso há um mês. Não sei se isso mudaria a eleição, mas certamente mudaria nossas expectativas", diz Bailey.

Para o professor, os institutos de pesquisa podem ter repetido falhas observadas em 2020, deixando de captar, por exemplo, a profundidade da mudança a favor de Trump entre eleitores latinos e jovens.

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Mas o pesquisador Nate Silver, fundador do agregador de pesquisas 538, diz que havia sinais de alerta para aqueles que estavam olhando os dados em profundidade.

Ele cita uma pesquisa na cidade de Nova York do mês passado, que indicou que Trump estava avançando em tradicionais redutos democratas.

"Este é um problema para o qual o partido [Democrata] deveria estar preparado, porque havia muitas evidências disso em pesquisas e dados eleitorais", escreveu Silver.

O debate sobre as pesquisas eleitorais certamente continuará nos próximos meses.

Isso é particularmente sensível em um ano em que figuras como Trump e seu apoiador bilionário Elon Musk promoveram apostas — muitas das quais supuseram uma vitória de Trump — como uma alternativa mais precisa.

Especialistas reconhecem que o mercado de pesquisas eleitorais enfrenta desafios.

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As taxas de resposta às pesquisas caíram, pois se tornou mais fácil para as pessoas identificarem chamadas de números desconhecidos.

A queda também coincide com a crescente desconfiança da mídia e das instituições — uma característica particularmente presente entre os apoiadores de Trump, o que alguns argumentam que levou à sub-representação desses eleitores.

Homens latinos são um dos grupos que ajudaram a eleger Trump
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Bailey diz que o grande erro na muito discutida sondagem em Iowa feita pela pesquisadora Ann Selzer — que foi divulgada dias antes da eleição e indicou uma vantagem de três pontos para Kamala no Estado — mostrou os riscos da abordagem tradicional.

Para compensar tais problemas, muitas pesquisas estão adotando modelos, que conseguem ponderar respostas de diferentes grupos e fazer suposições sobre fatores como comparecimento.

Muitos também estão se movendo em direção às pesquisas online, embora outros na área sejam relutantes com o quão confiáveis elas são.

Este ano, os eleitores que estavam inclinados a responder pesquisas online eram mais propensos a serem democratas, afirmou James Johnson, da empresa de pesquisas JL Partners, sediada em Londres, ao jornal Times of London.

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Eles eram "mais propensos a serem jovens, mais propensos a serem altamente engajados, mais propensos a trabalhar de casa", disse ele.

Bailey afirma que os pesquisadores tiveram que superar as amostras aleatórias e se tornar mais íntimos dos modelos, além de aprimorar testes e explicações para suas suposições.

Mas o professor Jon Krosnick, da Universidade de Stanford, diz que, sem amostras verdadeiramente aleatórias, as pesquisas permanecem vulneráveis a erros.

"O que precisamos fazer é voltar ao básico e gastar o tempo e o dinheiro necessários para fazer pesquisas com precisão", defende Krosnick.

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