Fantasmas, espíritos e casas mal assombradas. Tudo isso é ‘fichinha’ para quem realiza os chamados ‘tours fantasmas’ em grandes cidades, em pontos turísticos e também em locais repletos de histórias, como é o caso de Charlotte, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. A cidade, que serviu de base para a reportagem do Terra durante as coberturas das eleições americanas, tem alguns contos de terror que podem parecer bem assustadores, mas talvez não causem tanto medo se comparado às divisões, desentendimentos e brigas entre conterrâneos durante o pleito, apenas devido à opiniões políticas diferentes.
“Muitas pessoas têm, digamos, certo medo das eleições porque é um período muito, muito tenso, e nossas ideologias políticas estão meio que se dividindo. Um lado está indo muito, muito para a direita. Outro lado está indo muito, muito para a esquerda. Isso está causando toda essa tensão ao redor”, conta Richard, mais conhecido como Ricky, que é guia turístico em Charlotte e realiza um dos ‘tour fantasmas’ pela cidade.
“Então pode mesmo ter um aspecto ‘assustador’ nisso. Vejo que algumas estão com medo [do que pode acontecer agora], mas muitas estão aliviadas também que acabou. Eu particularmente tento ficar fora disso o máximo que posso. Eu não sei como me sentir ainda. Não sou pessimista, mas não estou esperando que as coisas vão muito bem porque não gosto do homem que foi efeito para o cargo”, acrescenta, mencionando o vencedor da eleição presidencial, o republicano Donald Trump. “Ele é muito assustador”, ri o guia ao ser questionado sobre o futuro presidente dos EUA.
“Eu não gosto dele, mas espero que ele faça o melhor, porque se não, se os medos das pessoas forem verdadeiros e as coisas não correrem bem, eu acho que isso não é bom para ninguém. Então espero, realmente, que dê tudo certo e que não seja tão assustador quanto as pessoas podem imaginar que seja”.
Para Richard, essa divisão na sociedade americana é causada por diferenças culturais e também geracionais. “Muitas pessoas [de cidades do] interior estão muito preocupadas com a economia. Outras, mais à esquerda, se preocupam com questões sociais e mudanças sociais. Elas também estão, sim, preocupadas com a economia, querem que a economia cresça, mas querem que ela cresça de uma maneira oposta do que o outro lado propôs”, observa.
“Só espero que a gente perceba o quanto antes que essa divisão entre nós é uma perda de tempo. Temos mais em comum do que o que nos divide. Muitos de nós nos importamos com as mesmas questões. Nos importamos com a economia, queremos ser capazes de colocar comida na mesa para nossas famílias. Muitas das diferenças culturais são pequenas, mas todo mundo ama sua família, quer o melhor para ela, quer progredir, essas coisas. Ninguém quer que as pessoas sejam hostis por causa de como alguém votou, e não querem ser julgados com base em como votam”.
Apaixonado por história e pelo paranormal
Os antepassados de Ricky chegaram a Charlotte há cerca de 250 anos e, por isso, há muito carinho pela cidade na família. “Eu gosto de preservar a história de onde minha família é, tem sido divertido para mim também”, conta o guia, que também ama contos macabros e eventos paranormais, o que levou aos ‘passeios de fantasmas’, que realiza há quase dois anos pela US Ghost Adventures.
“Para a maioria dos turistas, o lugar mais assustador do passeio é um cemitério que está no roteiro”, diz, citando o Old Settlers' Cemetery, que funcionou de 1776 a 1884, e abriga os túmulos de muitos dos fundadores, políticos e heróis de guerra mais proeminentes da cidade. “Muitas pessoas veem coisas lá”, acrescenta o guia, que diz ter vindo de uma família de sensitivos paranormais, e, embora ele diga não ter herdado esse dom de forma tão perceptível, ele costuma a sentir energias ruins em lugares improváveis, como um simples... quarto de hotel.
“O [hotel] Dunhill é na verdade um dos lugares mais assustadores. Quem vai até o quarto 906 sente uma sensação muito estranha, porque há espíritos por lá. Algumas pessoas já relataram, por exemplo, sentir o prédio balançando, esse tipo de coisa. Eu nem subo lá. Uma vez eu tentei e me senti muito mal, além disso, eu tinha uma cruz no pescoço, preso em uma corrente, que quebrou depois que eu visitei o local. Foi bem estranho”, relata.
Além do cemitério, o passeio também inclui a McNinch House, que permaneceu vazia por anos após a morte da filha de um empresário famoso na cidade, que comprou o imóvel no século XX, dando a ela sua reputação de mal-assombrada. E um antigo e abandonado quartel do Corpo de Bombeiros que registrou a morte de dois bombeiros na década de 1930 devido a acidentes suspeitos. Segundo a lenda, as vítimas ainda estão por lá e rodam o prédio. Por fim, também é possível conhecer o hotel mal assombrado que o guia de turismo tem tanto medo e -- se você tiver coragem, claro -- ir até o quarto cujo fantasma dos anos 1930 nunca arredou o pé de lá.
