Apuração de votos nos Estados Unidos pode demorar dias, com cada estado fazendo a própria contagem. A Associated Press é fundamental nesse momento, e desempenha esse papel há 178 anos.
A pergunta que mais será feita nos próximos dias nos Estados Unidos possivelmente vai ser: “Quem venceu a eleição presidencial?”. No entanto, a apuração dos votos não é feita tão rapidamente como no Brasil, por exemplo, que tem o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O papel da imprensa no país norte-americano é fundamental nesse momento, já que não há um órgão que centralize a apuração.
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A Associated Press (AP) é uma das fontes mais confiáveis para contabilizar os votos das eleições nos Estados Unidos e desempenha esse papel há 178 anos. A agência de notícias reúne os dados de mais de 5 mil disputas eleitorais nos EUA e entrega informações mais precisas e padronizadas.
Cada Estado do país tem autonomia, e, por isso, o sistema de votação pode variar de um Estado para outro. Em alguns, a votação é feita por cédulas de papel; em outros, há urnas eletrônicas. Também é possível votar pelo correio.
Diante dessas possibilidades, a apuração de votos nos Estados Unidos pode demorar dias, com cada Estado fazendo a própria contagem. Isso significa que o país só saberá, de fato, quem é o novo presidente dias depois da eleição, que aconteceu nesta terça-feira, 5.
Segundo a Associated Press, só uma análise cuidadosa e completa de todos os dados eleitorais pode definir o resultado. A AP também faz projeções sobre quem foi o mais votado em cada Estado, mesmo antes da apuração ser finalizada.
Apuração
A Associated Press não faz a contagem manual do voto que é depositado nas urnas. Esse trabalho é feito por autoridades eleitorais que administram as eleições em cada Estado dos EUA. As regras das eleições são definidas por cada um dos Estados, conforme a Constituição dos Estados Unidos.
No país, incluindo o Distrito de Colúmbia, existem 51 conjuntos diferentes de normas para a realização das eleições, com variações significativas nas regras entre cada Estado. Em algumas localidades, como New Hampshire, os resultados oficiais podem ser certificados poucos dias após a eleição, enquanto na Califórnia o processo é mais demorado, e o resultado final só é divulgado em dezembro. A forma de apresentação dos dados eleitorais também varia, com certas jurisdições omitindo percentuais totais de votos, e o voto sendo facultativo em todo o país.
Para organizar essa diversidade de informações, a AP realiza um esforço concentrado para consolidar os dados de milhares de condados e cidades em um único formato padronizado, permitindo que os eleitores acessem o total geral de votos em cada disputa.
Segundo o presidente da AP, David Scott, a agência busca reunir todos esses dados em uma estrutura uniforme para facilitar o entendimento dos resultados por parte do público.
Declaração de vencedores
Nos Estados Unidos, o presidente é eleito por meio do Colégio Eleitoral, onde cada Estado possui um número específico de delegados. Para vencer, um candidato precisa conquistar pelo menos 270 dos 538 delegados em disputa.
Esse sistema faz com que Estados como Califórnia, com 54 delegados, e Texas, com 40, tenham grande influência no resultado. O vencedor de um Estado, independentemente da margem de vitória, leva todos os delegados.
Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton obteve mais votos no total nacional, mas perdeu para Donald Trump devido à distribuição dos delegados no Colégio Eleitoral.
A AP pode projetar o vencedor de um Estado antes da contagem total dos votos, com base em uma análise. O processo envolve avaliar o andamento da apuração, o histórico de votação, dados demográficos e pesquisas próprias da AP.
Esses elementos permitem identificar padrões: se um candidato democrata obtiver desempenho melhor do que o esperado em um Estado onde tradicionalmente vence, pode indicar uma vitória tranquila. Por outro lado, se um republicano apresentar resultados acima da média em uma área tipicamente democrata, isso pode sugerir uma disputa acirrada ou até uma possível virada. Analisar as variações demográficas, como o voto de hispânicos ou brancos sem diploma universitário, também contribui para entender as tendências de voto em cada região.
Voto não obrigatório
Nos Estados Unidos, onde o voto é opcional, a estimativa de resultados eleitorais fica mais complexa, pois não há uma contagem fixa de eleitores. A Associated Press, para superar essa dificuldade, coleta informações sobre cédulas de voto ausente e votos antecipados logo no início do processo de votação. Esses dados preliminares, embora não revelem resultados específicos, ajudam a mapear o perfil dos eleitores que compareceram.
A maratona de apuração começa após o fechamento das urnas, quando cerca de 4.000 repórteres da AP se distribuem por distritos e escritórios eleitorais em todo o país. Cada condado tem pelo menos um jornalista da AP trabalhando lado a lado com funcionários eleitorais, coletando dados diretamente dos locais de contagem.
Esses resultados são enviados ao centro de dados da AP por telefone ou de forma eletrônica e, além disso, a agência acompanha sites oficiais para verificar a precisão das informações. Em cada condado, até seis fontes diferentes podem ser consultadas, garantindo uma cobertura completa e uma apuração confiável dos votos em tempo real.
História da apuração da AP
A Associated Press foi fundada em 1846 como uma cooperativa de jornais e, apenas dois anos depois, realizou sua primeira apuração eleitoral, quando Zachary Taylor venceu a presidência.
Esse esforço utilizou o telégrafo, durou 72 horas e teve um custo significativo para a época: US$ 1.000. Em 1916, a AP também participou da primeira transmissão de resultados eleitorais por rádio, quando um locutor anunciou erroneamente que Charles Evans Hughes havia vencido Woodrow Wilson. A AP corrigiu o erro dias depois, ao confirmar os resultados da Califórnia e a vitória de Wilson.
Já na década de 1960, a AP e as redes de televisão ABC, CBS e NBC começaram a realizar apurações independentes, mas se uniram na eleição de 1964 para uma contagem consolidada.
Após 2016, a AP decidiu operar independentemente e lançou o AP VoteCast, um levantamento abrangente sobre o eleitorado americano, que serve de alternativa às tradicionais pesquisas de boca de urna das redes.
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