Donald Trump e JD Vince, seu vice na chapa republicana que disputa as eleições à Casa Branca, espalharam uma aterrorizante fake news, ao menos para os amantes de pets: imigrantes haitianos estariam comendo animais de estimação nos EUA.
O problema é que a gatinha da raça Maine Coon que inspirou essa boataria foi encontrada, viva, na mesma cidade em que desapareceu, em Springfield, no Estado de Ohio. O animal não ressucitou; na verdade, ele ficou seis dias desaparecido e depois foi encontrado no porão da casa em que vive com seus tutores.
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Mas como começou essa história? No final de agosto, Anna Kilgore, moradora da cidade de Springfield, relatou que a sua gatinha chamada Miss Sassy Pants desapareceu. A mulher foi até a delegacia onde relatou que sua gata havia sumido e, sem apresentar nenhuma prova, disse que os vizinhos haitianos deviam ser os responsáveis pelo sumiço e que teriam comido o animal.
Do sumiço para a 'panela': A campanha de JD Vance soube da história e a usou para fomentar a discriminação contra imigrantes, um dos pontos centrais da campanha republicana. Tanto Trump quanto Vance disseram que 'imigrantes estavam comendo cães e gatos' no país.
O que disse a polícia local? Autoridades locais tentaram desmentir o boato e afirmaram que, apesar do relato, 'não existiam evidências' de que o sequestro seguido morte para consumo alimentar tenha ocorrido.
Gatinha está viva: O jornal Wall Street Journal (WSJ) foi atrás de Anna Kilgore, a tutora que relatou o desaparecimento de Miss Sassy, e descobriu que a gata não só estava viva, como foi encontrada seis dias depois de sumir no porão de casa. Miss Sassy teria sumido por volta de 27 de agosto e retornado no dia 1º de setembro.
Quando uma repórter do jornal foi à casa de Anna Kilgore, "ela disse que sua gata, Miss Sassy, que desapareceu no final de agosto, havia retornado alguns dias depois - e foi encontrada segura em seu próprio porão. Kilgore, vestindo uma camisa e chapéu Trump, disse que pediu desculpas aos vizinhos haitianos com a ajuda de sua filha e de um aplicativo de tradução para celular", escreveu o jornal.
A campanha de Trump/Vance reconheceu que a história era mentira? No dia 9 de setembro, dias após a gata ser encontrada e a data que antecedeu o debate entre Trump e Kamala Harris, um membro da equipe de JD Vance procurou as autoridades de Springfiled para perguntar se o boato era verdadeiro.
“Ele perguntou: ‘Os rumores de animais de estimação sendo levados e comidos são verdadeiros?’”, disse Bryan Heck ao WSJ. “Eu disse não a ele. Não há evidências verificáveis ou relatórios que mostrem que isso era verdade. Eu disse a eles que essas alegações eram infundadas", concluiu. No dia seguinte, Trump também citou este rumor durante o debate eleitoral, mas foi rapidamente rebatido pelos jornalistas que mediavam o evento.
Após o boato, espalhado também pela conta no X de Vance, a cidade foi alvo de ao menos três ameaças de bombas.
Sem provas, a campanha de Trump/Vance associam a criminalidade nos EUA à imigração ilegal. No caso da cidade de Springfield, a maior parte da população de origem haitiana que lá reside é composta por imigrantes legais, ou seja, que tem autorização para viver no país.