Com a derrota de Kamala Harris, de 60 anos, para Donald Trump, de 78, os Estados Unidos deixam de eleger a primeira mulher na Casa Branca. A democrata já havia feito história em 2020 ao se tornar a primeira mulher negra e descendente do sul da Ásia a servir como vice-presidente do país, mas não conseguiu ampliar esse legado.
As eleições presidenciais norte-americanas foram decididas mais uma vez pelos estados-pêndulos, aqueles que não possuem uma preferência política fixa entre os partidos Democrata e Republicano. Neste ano, os sete estados decisivos foram: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do
Norte, Pensilvânia e Wisconsin. Ao todo, eles somavam 93 dos 538 delegados em disputa.
Esta é a segunda vez que Trump irá liderar a Casa Branca. O seu primeiro mandato ocorreu de 2016 até 2020, quando ele também derrotou outra candidata democrata mulher, Hillary Clinton. Na ocasião, Hillary obteve cerca de 2,8 milhões de votos a mais do que Trump, mas conquistou 227 delegados, contra 304 de Trump. Foi a quinta vez na história do país que um candidato venceu no voto direto, mas perdeu no Colégio Eleitoral.
O trajeto de Kamala Harris como candidata do partido Democrata para as eleições presidenciais não foi linear. Vice-presidente da administração de Joe Biden, ela viu o seu nome ser endossado para liderar a chapa democrata após a desistência de Biden de disputar a reeleição.
Com o resultado nas urnas, além de os republicanos terem mais presidentes à frente da Casa Branca –19 contra 16–, passam a igualar o mesmo tempo no poder que os democratas –que até então era superior. Agora, são 26 vitórias para cada um dos partidos.
No que se refere a reeleições, foram cinco republicanas contra oito democratas. O número foi favorecido por Franklin Roosevelt, o único presidente norte-americano a ser eleito para quatro mandatos consecutivos, governando de 1933 a 1945, quando morreu.
Desistência de Biden
A indicação de Kamala Harris para liderar a chapa do partido democrata ganhou força após o desempenho desastroso de Joe Biden no debate contra Trump em 27 de junho, quando ele se mostrou hesitante, confuso e até com dificuldades para falar, o que levantou preocupações sobre a sua saúde cognitiva do democrata, culminando da desistência de Biden de disputar a reeleição.
A idade de Biden já era uma preocupação dos eleitores muito antes do debate contra Trump. A maioria dos eleitores democratas já considerava Biden velho demais para o cargo, segundo as pesquisas de intenção de votos realizadas ainda em 2023.
Nas semanas posteriores ao fatídico debate, Biden lutou para afastar os rumores de um possível declínio em sua saúde cognitiva e demonstrar que estava apto para mais 4 anos de governo. A estratégia, no entanto, não foi suficiente para sobreviver à falta de apoio indicada pelas pesquisas e pressões internas no próprio partido, que viu o número de doações privadas diminuir, quando o presidente ainda era cotado para disputar a reeleição.
O anúncio da desistência foi feito por meio de uma carta publicada nas redes sociais do presidente dos EUA, em 21 de julho. Na ocasião, Biden declarou seu "total apoio e endosso para que Kamala seja a candidata” e acrescentou: "Democratas — é hora de nos unirmos e derrotar Trump. Vamos fazer isso."
A chapa do partido Democrata, com Kamala Harris e Tim Walz, como candidato a vice-presidente, foi oficializada durante a Convenção Nacional da agremiação, em agosto.
Após o presidente dos Estados Unidos desistir da candidatura à reeleição, as doações para os democratas dispararam. A campanha online arrecadou em torno de US$ 50 milhões (cerca de R$ 280 milhões, na cotação atual) somente no domingo, 21, conforme a ActBlue, plataforma de arrecadação de fundos do partido.
Trajetória pioneira
A democrata é formada em Ciência Política e Economia pela Universidade de Howard, faculdade renomada e historicamente negra dos EUA, e depois se especializou em Direito pela Universidade da Califórnia. Ela iniciou sua carreira como promotora de justiça em São Francisco, cargo em que permaneceu por 12 anos, e chegou a ser a primeira procuradora-geral negra da Califórnia.
O seu desempenho no cargo rendeu recepções mistas no partido Democrata: os mais progressistas celebraram a oposição à pena de morte e a sua liderança em processos contra grandes instituições que cometeram fraude na execução de hipotecas de casas, mas frustraram-se com a sua posição mais ‘punitivista’ contra alguns crimes e o apoio, por exemplo, a uma legislação estadual que ameaçava pena de prisão para os pais de crianças que faltassem repetidamente à escola.
Em 2017, Kamala Harris foi eleita senadora dos Estados Unidos pela Califórnia, tornando-se a primeira mulher negra e a primeira sul-asiática a ocupar esse cargo. No congresso, ela defendeu temas como reforma da saúde, direitos das mulheres, imigração e justiça social.
Três anos depois, Kamala foi escolhida como candidata a vice-presidente na chapa de Joe Biden, tornando-se a primeira mulher, a primeira negra e a primeira pessoa de ascendência asiática a ocupar o cargo de vice-presidente do país.
O pioneirismo faz parte da história de Kamala. A democrata, no entanto, costuma repetir em seus discursos e entrevistas uma frase de sua mãe sobre a importância de ir além das conquistas individuais. “Minha mãe olhava para mim e dizia: ‘Kamala, você pode ser a primeira a fazer muitas coisas, mas certifique-se de não ser a última’”, relembrou.
Vida pessoal
Dark Elegant US Election Day Facebook Post (Landscape) de Larissa
Kamala Harris nasceu em 20 de outubro de 1964 na cidade de Oakland, Califórnia. Filha de mãe indiana, Shyamala Gopalan Harris (1938-2009), famosa pesquisadora do câncer de mama, e pai jamaicano, Donald Harris, economista e professor emérito da Universidade de Stanford, que chegou a dar aulas na Universidade de Brasília (UNB) na década de 1990.
Ela tem uma irmã mais nova, Maya Harris, de 57 anos, que também é advogada e chegou a trabalhar como conselheira política na campanha presidencial de Hillary Clinton, em 2015.
Os seus pais se divorciaram quando ela ainda era criança.
Casada e sem filhos biológicos. Kamala trocou alianças com o também advogado Douglas Emhoff em 2014, tornando-se madrasta dos filhos do primeiro casamento de Emhoff, Ella e Cole. Os dois se conheceram em 2013, em um encontro às cegas marcado por uma amiga em comum, Chrisette Hudlin. A história foi relatada na autobiografia, ‘As Verdades Que Nos Movem’ (Ed. Intrínseca), de Kamala