Por que figurões conservadores se recusam a apoiar Trump?

14 jul 2016 - 07h56
(atualizado às 08h27)
Donald Trump
Donald Trump
Foto: Getty Images

O empresário Donald Trump venceu com folga a disputa para concorrer à eleição presidencial americana pelo Partido Republicano, mas às vésperas de ser oficializado como candidato ainda não venceu a resistência de importantes líderes e doadores conservadores.

Na Convenção Republicana, entre os dias 18 e 21 próximos, quando deve ser chancelado pelos delegados do partido, Trump não terá a companhia de importantes políticos republicanos. E num evento normalmente usado pelos partidos para demonstrar força e unidade aos eleitores, o empresário poderá ter outra vez exposta a desconfiança que desperta em sua própria agremiação.

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Entre os políticos que não participarão da convenção estão o ex-governador da Flórida Jeb Bush, o senador John McCain, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, o senador Marco Rubio e o governador de Ohio, John Kasich.

Todos estão entre os mais influentes membros do Partido Republicano e participaram da convenção de 2012, quando Romney era o candidato.

Três deles - Kasich, Jeb e Rubio - disputaram a vaga com Trump neste ano e o criticaram duramente nas primárias. Em várias ocasiões, o empresário retrucou debochando de traços físicos dos oponentes ou tentando grudar neles rótulos e apelidos.

Trump chamava Rubio de "pequeno Marco", em referência a sua baixa estatura e falta de experiência no Executivo. Sobre Kasich, disse que comia de maneira "nojenta". Quanto a Jeb, afirmou que tinha "baixa energia", o que lhe tornaria incapaz de lidar com ameaças externas.

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McCain, que não disputou as primárias e foi o candidato republicano em 2008, disse que Trump havia "empolgado os loucos" na corrida. Em resposta, o empresário ironizou que McCain fosse considerado um "herói de guerra" e afirmou que preferia "pessoas que não foram capturadas". McCain passou mais de cinco anos como prisioneiro na Guerra do Vietnã (1955-1975).

Conservador de verdade?

Trump não é visto com reservas por líderes republicanos só pelas desavenças pessoais que acumula na campanha: suas posições políticas também são rejeitadas pelo establishment do partido.

Ele já propôs criar barreiras tarifárias para proteger a indústria americana e tirar os EUA de acordos comerciais - posições que se contrapõem a um dos pilares do conservadorismo americano: a crença de que o livre comércio é um dos maiores propulsores do progresso.

Em artigo publicado em maio, a revista conservadora National Review enumerou propostas de Trump que destoam do ideário republicano.

A revista diz que Trump considera a saúde uma das três prioridades do governo, embora os republicanos rejeitem qualquer participação governamental na área, e critica o empresário por ter elogiado a organização Planned Parenthood, que provê diversos serviços de saúde para as mulheres, inclusive assistência àquelas que queiram abortar.

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A revista diz, aliás, que em questões sobre política externa - como o papel dos EUA como líder do Ocidente e protetor da ordem pós-Segunda Guerra - Trump está à esquerda do Partido Democrata, do presidente Barack Obama.

O empresário já propôs reduzir a presença militar americana na Ásia, elogiou o presidente russo, Vladimir Putin (um dos principais rivais da Casa Branca hoje), e defendeu deixar para a Rússia a tarefa de combater o grupo autointitulado Estado Islâmico.

Muitos líderes e comentaristas republicanos também avaliam que Trump foi longe demais ao defender bloquear a entrada de muçulmanos nos EUA e na linguagem usada para se referir a membros de minorias.

Ele disse no início da campanha que o México enviava para os EUA "estupradores" e, há algumas semanas, afirmou que o juiz responsável por um processo contra uma de suas empresas havia decidido contra ele por ser descendente de mexicanos.

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Vantagem ou desvantagem ?

Em outra frente, Trump tem tido dificuldades para atrair grandes doadores republicanos. Até agora ele diz ter bancado grande parte da campanha com sua própria fortuna, mas os altos custos e a longa duração da disputa vêm gerando dúvidas sobre sua capacidade de fazer frente à máquina a serviço da rival democrata, Hillary Clinton.

Uma reportagem do The New York Times em maio afirmou que mais de 12 entre cerca de 50 grandes doadores republicanos indicaram que não dariam dinheiro a Trump.

Há porém quem veja a rejeição de doadores e as rixas do empresário com figurões conservadores como trunfos, e não problemas de sua candidatura.

Muitos dos eleitores de Trump dizem apoiá-lo porque ele não se curvaria aos interesses de lobistas e doadores. O empresário também se aproveita do descontentamento de muitos americanos com políticos de carreira e o establishment em Washington.

Ainda assim, ele tem costurado importantes apoios dentro do partido. O governador de Nova Jersey, Chris Christie, foi um dos primeiros líderes republicanos a apoiá-lo e é cotado para vice-presidente da chapa.

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Após uma longa aproximação, o republicano Paul Ryan, presidente da Câmara dos Representantes (deputados), expressou apoio a Trump na terça-feira. Segundo colocado nas primárias republicanas, o senador ultraconservador Ted Cruz aceitou o convite do empresário e participará da convenção.

A quase quatro meses da votação, pode parecer pouco para quem quer chegar à Casa Branca. Mas analistas lembram que poucos achavam que Trump venceria as primárias e que sua participação tornou a disputa imprevisível.

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