Eleito o 47° presidente dos Estados Unidos, Donald Trump venceu com folga a adversária Kamala Harris. As pesquisas projetavam um cenário diferente, e erraram. De acordo com as projeções, a disputa seria acirrada, beirando um empate, quando na realidade Trump ganhou na maioria dos sete estados-chave, decisivos para o resultado. Agora, ele caminha para a vitória pelo voto popular. Mas por que as pesquisas erraram?
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Um dos únicos jornais a acertar o resultado em uma pesquisa foi o britânico The Telegraph, que também previu que Trump ganharia com folga: deram 289 delegados para o republicano. Trump teve 277, frente aos 224 delegados da vice-presidente Kamala Harris. A apuração ainda será finalizada, mas Trump lidera em Michigan e Nevada.
Segundo o veículo, alguns grupos demográficos não foram considerados como apoiadores de Trump, que viu sua aceitação entre eleitores latinos aumentar em 13 pontos. Esse ponto não teria sido detectado por nenhuma pesquisa, apontou o jornal. Outros grupos, como mulheres e negros, poderiam inclinar tanto para Trump quanto para Kamala, o que também não aconteceu.
Os votos de mulheres foram uma das principais apostas da campanha de Harris, que tinha a defesa do direito ao aborto como uma de suas principais pautas. Já o magnata tinha as mulheres como preocupação, já que acumulava discursos misóginos e foi condenado por abuso sexual e difamação contra a escritora Elizabeth Jean Caroll na esfera civil, no ano passado.
Mesmo assim, a pesquisa de boca de urna da BBC apontava que Trump ainda não havia conquistado os 270 delegados, e Kamala liderava entre as mulheres, mas não com a vantagem esperada pela campanha: 54% contra 44% de Trump.
Donald Trump dobrou seu desempenho entre os eleitores negros na Carolina do Norte, em relação a 2020. Essa parcela do eleitorado foi essencial para que Joe Biden fosse eleito naquele ano. A pesquisa de boca de urna da BBC mostrou que Kamala liderava entre os eleitores negros, com 86%, enquanto Trump teve um bom desempenho entre brancos, com 55%, e latinos, com 45%.
Esse último grupo votou, majoritariamente, em Kamala, mas a boca de urna mostraria o apoio não detectado a Trump, como apontado pelo Telegraph. O jornal ainda pontuou que os temores de que os pesquisadores estivessem dando um peso maior aos apoiadores de Trump também estavam errados, já que esse voto teria sido indiferente para eles.
Outros possíveis erros
Em artigo publicado no New York Times pouco antes da eleição – ainda considerada acirrada –, o estatístico Nate Silver apresentou possíveis erros nas pesquisas que poderiam influenciar o resultado. Silver começou afirmando que sua intuição indicava uma vitória de Trump — previsão que se concretizou — e explorou a teoria dos "eleitores tímidos de Trump", que se baseia no conceito dos "conservadores tímidos". Essa ideia, que vem de pesquisas britânicas, sugere que as pessoas tendem a ocultar seu voto em candidatos conservadores devido ao estigma social associado a esses partidos.
Porém, Silver destacou que faltavam evidências para validar essa teoria, já que partidos conservadores e de extrema-direita vêm ganhando terreno em várias partes do mundo. Além disso, ele considerou que a ideia continha um certo esnobismo, pois muitos apoiadores de Trump demonstram orgulho ao expressar sua escolha.
O problema mais provável, segundo Silver, seria o "viés de não resposta": eleitores de Trump não estariam mentindo aos pesquisadores, mas simplesmente não respondendo às pesquisas em quantidade suficiente. Isso poderia ocorrer porque muitos trumpistas têm menor engajamento cívico e confiança nas instituições, o que os torna menos inclinados a responder a questionários de veículos de imprensa.
Os pesquisadores tentam contornar essa questão usando técnicas de ajuste avançadas, como considerar o nível educacional (já que eleitores com formação universitária são mais propensos a responder pesquisas) e o histórico de votos declarados, embora nada disso ofereça garantia de precisão.
Outro fator que poderia favorecer Trump seria o chamado "efeito Bradley", que leva em conta uma hesitação dos eleitores em admitir que não votarão em candidatos de minorias devido ao possível julgamento social.
O efeito surgiu na disputa de 1982 pelo governo da Califórnia, quando o candidato negro Tom Bradley viu seu desempenho ser inferior ao esperado nas pesquisas. Embora esse efeito não tenha impactado a eleição de Barack Obama em 2008 e 2012, a única mulher que concorreu à presidência como candidata principal de seu partido, Hillary Clinton, enfrentou uma resistência entre os eleitores indecisos. Silver ponderou que Kamala Harris, caso eleita, poderia vivenciar o "efeito Hillary" devido à resistência de parte do eleitorado em apoiar uma candidata mulher na linha de sucessão.