Ser eleito presidente dos Estados Unidos custa caro. Assim como no Brasil, os candidatos podem arrecadar verbas de diversas formas, mas as regras para a eleição americana são mais rigorosas em relação aos recursos públicos.
Os candidatos podem financiar as campanhas com capital próprio, ou angariar doações de indivíduos. Outra fonte de financiamento são os grupos de comitês de ação política, conhecidos como "PACs" ou "super PACs", que permitem o financiamento de empresas.
A última opção é obter financiamento público, mas essa modalidade tem limites estritos de gastos, razão por que os candidatos têm evitado esses recursos nas últimas eleições.
Quem pode doar para campanhas presidenciais?
A Comissão Eleitoral Federal tem regras rígidas sobre quem pode ou não doar para os candidatos. Somente cidadãos americanos ou portadores do "green card" (autorização permanente de residência e trabalho nos EUA) estão autorizados a financiar as eleições.
Cada cidadão pode doar até 3,3 mil dólares (R$ 18,8 mil) por candidato. No caso de autofinanciamento, não há limite de valores. Empreiteiros com contratos no governo federal, empresas, bancos nacionais, sindicatos e organizações sem fins lucrativos não podem contribuir diretamente para candidatos ou partidos, nas eleições nacionais.
O que são os PACs e super PACs
Os comitês de ação política (PACs) fazem parte do sistema eleitoral americano há muito tempo. Esses grupos de pressão reúnem contribuições para trabalhar em nome das candidaturas e influenciar as eleições, mas não estão vinculados aos candidatos e partidos.
As doações são restritas a 5 mil dólares (R$ 28,5 mil) por pessoa, e as listas de doadores devem ser divulgadas. Dos valores arrecadados, um PAC pode doar apenas 5 mil dólares para um candidato durante as eleições. Os demais recursos precisam ser usados de forma independente.
As normas de financiamento de campanha mudaram drasticamente em 2010, quando a Suprema Corte eliminou as restrições impostas às empresas e aos sindicatos para financiarem campanhas, com base no direito à liberdade de expressão.
Isso criou os super PACs — comitês que podem receber recursos ilimitados de corporações, mas que não podem transferir recursos diretamente para as campanhas. Os gastos são normalmente direcionados para marketing e propaganda em apoio a uma candidatura. As doações são anônimas, mas o uso dos recursos precisa ser divulgado.
Quanto Kamala Harris arrecadou?
A candidata democrata Kamala Harris arrecadou mais de 906 milhões de dólares, de acordo com os números reunidos pela OpenSecrets, uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington D.C. que rastreia o dinheiro nas eleições dos EUA. Isso inclui contribuições para a campanha frustrada do presidente Joe Biden.
A isso se somam 472,2 milhões de dólares que grupos externos, como os PACs e super PACs, arrecadaram até agora para apoiar Harris de forma independente. Pessoas físicas arrecadaram cerca de 44% desde total por meio de contribuições abaixo de 200 dólares.
No total, mais de 1,3 bilhão de dólares (R$ 7,4 bilhões) foram destinados à sua campanha. Desses, 1,1 bilhão de dólares já foram gastos, sendo 751 milhões de dólares investidos pela própria campanha de Harris e o restante pelos grupos de apoio.
Quanto Donald Trump arrecadou?
O candidato republicano Donald Trump não chegou perto desse valor. Sua campanha oficial arrecadou 367 milhões de dólares, cerca de 40% menos do que Harris.
Grupos externos acrescentaram outros 613,7 milhões de dólares a esse valor, elevando seu financiamento total para 980,8 milhões (R$ 5,5 bilhões), de acordo com a OpenSecrets. Ou seja, Trump recebeu mais recursos de grupos de apoio do que de sua própria campanha. Um exemplo é o super PAC criado pelo bilionário Elon Musk.
Trump é muito dependente do apoio dos super-ricos, cujas contribuições maiores representam 68,4% dos fundos disponíveis. Até agora ele gastou 791 milhões de dólares.
Juntos, os dois candidatos arrecadaram aproximadamente 2,3 bilhões de dólares, tendo empregado, até agora, 1,9 bilhão de dólares (R$ 10,8 bilhões).
E quanto aos gastos para o Congresso?
Nas duas últimas eleições presidenciais, Trump arrecadou menos do que seus rivais. Isso não o impediu de vencer o pleito contra Hillary Clinton, em 2016. Isso mostra como o dinheiro é importante, mas não pode selar o acordo sozinho, diz Dan Mallinson, professor associado de políticas públicas e administração da Universidade Estadual da Pensilvânia em Harrisburg.
Ainda assim, as doações são cruciais, pois as campanhas presidenciais "se tornaram um negócio bilionário": "Candidatos, partidos, comitês de ação política e outras organizações precisam arrecadar quantias significativas para realizar campanhas nacionais."
Mas não são apenas os candidatos à Casa Branca que precisam de verbas eleitorais: das 100 cadeiras do Senado dos EUA, 34 estão em disputa nestas eleições; na Câmara dos Representantes, são 435 vagas abertas. Juntos, os candidatos ao Senado arrecadaram 1,38 bilhão (R$ 7,8 bilhões), enquanto os à Câmara dispõem de um total de 1,78 bilhão (R$ 10,1 bilhões), calculou a OpenSecrets.
O problema das grandes contribuições
Para muitos eleitores, os valores vultosos da corrida eleitoral americana podem resultar em corrupção e corroer a confiança na democracia. Bilionários americanos como Melinda Gates e George Soros doaram milhões para grupos que apoiam Harris ou fundaram seus próprios super PACs.
O jornal Financial Times calculou que outro grupo de bilionários - Elon Musk, Timothy Mellon, Miriam Adelson e Richard Uihlein - reuniu um total de 395 milhões de dólares para os super PACs pró-Trump. Se essas mega-doações equivalem a poder, é uma questão complicada.
"Não é que o dinheiro compre votos e políticas diretamente", explica Mallinson: esses recursos muitas vezes servem para dar aos doadores acesso à mesa de discussão quando questões de seu interesse estão sendo debatidas, "mas isso não garante que os doadores conseguirão tudo o que desejam".
Como as campanhas gastam o dinheiro?
Com centenas de milhões para gastar, as campanhas e os grupos de pressão têm muitas decisões a tomar. Como a eleição está muito próxima, a maior parte do investimento é feita nos estados-pêndulo (swing states).
Esses estados potencialmente decisivos estão sendo inundados por anúncios políticos. É provável que os moradores recebam telefonemas ou visitas de cabos eleitorais.
Na eleição de 2020, por exemplo, o maior gasto foi com publicidade. Mais da metade (56%) foram investidos em mídia, 10% em arrecadação de fundos e quase 17% em despesas e salários de campanha, de acordo com a OpenSecrets. Outros 6% foram para administração, 4% para estratégia e pesquisa. O restante é "não classificável".
Em 2024, os gastos de Harris e Trump provavelmente seguirão um padrão semelhante.